Os Manos...

Ou Depoimento do malandragem após a prisão em flagrante pela Polícia Militar de Curitiba:

As parte foi a seguinte, doutor:

Eu tava na minha, lá na minha quebrada, de boa. Quarta de tarde. Nada prá agitar. Era umas três hora, eu tava lá na baia susse curtindo uma tela na sessão da tarde. A mana tinha saído prá trampar, doutor. Sacumé, mora só eu a mana no barraco depois que nosso coroa se enforcou no x de desesperado por ter caído numa fita errada e por causa de caguetagem. Mas meu velho não deu ninguém quando caiu. Sangue B.E a mamãezinha começou a encher o caveirão depois de pai se matou e descolou uma cirrose no Figueiredo e foi prá fita lá no Evangélico. Aí fiquei só eu a mana nesse mundo de deus. A mana trampa direitinho. Não trampa na zona, não, doutor. Trampa em fiscal de pátio num colégio de playboy , aê. Só os pimpolhos dos burguês que estuda lá. Larguei de estudar porque os professor lá da escola da vila não tão nem aí se cê sabe ou num sabe ler. Tava precisando levantar um din-dim prá dá uma força lá nas despesa do barraco, manja, doutor? Mas, minha mana é mais velha dois ano e muito bonita mas não se mete um fuleiragem nem dá mole prá vagabundo lá da vila. Quer casar diretinho e ter família. Subir na vida, como fala os loco lá das Mercês. Não trampa em puteiro de luxo no centrão não. Só eu que sou o errado da família. Descolar grana naonde?Ninguém te arruma serviço. Fui vender pó, pedra e erva prá dá prá comprá um lances e recheá o barraco. Não sou vileiro, não , doutor. Nem trafico. Sou firmeza que só vende um parangolê pruns mano e mina mais chegado. Malandro não tem amigo. Nesse esquema só tem truta e conhecido e uns camarada perdido pelas quebradas. Não faço sujeira, seu delegado. To sempre na correria e dá prá levantar uns troco prá comprá, roupa, pisante e uma pizza no domingo. Nós vamo levando. Aí, nesse dia! Caraca, porque que eu fui atender aquele merda do Escovão?

Pois então, era três hora. Nenhum agito e o Escovão grita meu nome lá na porta do barraco. Fui atender o chapa e ele já entrou muito doidão. Litrão de tubão pela metade. Leãozinho com Fox Cola. Três contos e já era. Tinha o maior jamaicano enroladão. Acendeu e começamos a fumar aquela porra. Era dubão. Eu só fumo erva , doutor. Tomo uns capilé de vez em quando e já era. Derreter na lata é coisa de otário, de nóia que não tem família. Ou dos boy que chega na vila e caí no embalo. Primeiro vem de barca do ano, e uns pano invocado, troco no bolso e uns tempo depois chapa o coco e tá pedindo fiado, vacila e acaba com uma azeitona no meio dos cornos. Então, o Escovão quis dar um rolé pelas quebradas. De boa. Peguei o ferro e fui com ele. Coloquei na cinta. Nem sei porque levei a máquina.

Nós tava curto de troco e fui fazer uns lances por ali. Na vila mesmo. No bareco de sempre. Veja doutor, nem bandido nós é. Tudo criado na mesma favela. Quase vinte ano,doutor. E o Escovão sacou um vigia de uma fábrica que tem uma treta das anta com ele. O bicho já tava chapado e cozido. O cara passou e o Escovão pagou o maior S , falando da filha do cara – que na moral, é a maior gostosa – mas o Zé-Ruela fez que não era com ele. Aí o Escovão quis ver o lado. O cara tava na boa só que o doideira do malaco tava afim de acertar essa explanação. Já foi com dos dois pés do peito do vigilante. O magrão se esquivou e já surgiu com o berro engatilhado. Deu dois pipoco prá cima. Debandô nego geral! Correria, griteiro, berreiro. O mano não é de fugir do pau já foi prá cima do véio prá tomá o canhão. Levou um balaço no joelho e outro no meio da caixa. Eu que não sou de dar folga prá vacilão, sempre arregando o lado dos camaradas , cheguei por trás do bacana. Não pensei duas vezes. Fiz o trabuco cantar três veiz e o jaguará tombou ali mesmo. Só que eu nem tinha me ligado que o dono do estabelecimento tinha chamado a caçapa que já chegou zoando na vila de sirene a milhão. Pinote, maladragem. Passei sebo nas canelas e tentei vazar daquele salseiro. Voei por cima de muro e os hómi na minha bota. Só que o zé-orelha aqui não imaginava que tinha duas viatura na cola. Já me enquadraram berrando “mão na cabeça, neguinho de merda, solta o ferro” e “perdeu, maninho”. Aí, já era, me colaram , se encheram de bucuva, bicuda e coturnaço que até agora me dói as costela quando esfria de noite.Daí me carregaram aqui prá delega, faz cinco dia. Agora to aqui contando minha historia pro sinhor , doutor.

Mas, eu não sou bandido não...sou bicho solto mas não sou bandido...

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 11/03/2010
Código do texto: T2132492
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