HISTÓRIA DO MATUTO E SUA DONDINHA
Era Dondinha, moça pobre aqui da roça, bem pertin da casa do Vavá ela morava, prá cumprá pão eu só passava por lá, era minha namurada...
Todo dia agente via um zozoto, dava bejo, cada zum que dava medo... Medo do João seu pai que me gostava de mais, mas não sabia de nóis dois, era prá cuntá dispois, só dispois dos quinze ano é que nois já tinha catoze e se num me ingano começamo lá nos doze...
Logo foi passano o tempo e acabano o meu tormento, ela cumpletava anos e Como era nossos prano tava na hora de dizer, de cuntá pro seu João, de pidi a sua mão pro namoro de nóis dois, num dava prá ser dispois tinha qui ser aquele dia. Aí as perna tremia, as corage fartava, tumei logo uma lapada de aguardente e deci todo cuntente prá incará nossa cunvessa, apiei no burroão e bem de pressa fui muntado e todo disagethado bati Parma no terrero. Logo apareceu dona Maria com a vóis meia chorano e foi logo mim cuntano que já tava cum sardade da Dondinha e eu meio sem intendê procurei logo sabê o que tava aconteceno, aí ela disse qui Dondinha foi embora, já fazia uma hora, foi pra tal da capitá, que é pra mode estudá. Foi morá na casa dos branco e só vortava a dispois de forma.
Eu nem acreditei naquela hora, cudhei logo de ir imbora , saí todo atordoado assim mei abestaiado iguá boi incurralado. foi trêis mêis sem vê a rua, sem saí prá trabaiá, sem saí prá olhá a lua prá num lembrá.
As dispois eu miorei as corage logo tomei e parti prá minha lida, purquê a pior fome é a de barriga vazia e já fazia argum tempo que eu num marrtigava era nada. Assim os dia foi passano, coração vei apertano e eu cudhano da rocinha e um bando de mêis sem vê a tal da Dondinha.Um belo dia seu João me chamô e disse:
-Julimar se achegue por favor, é qui agora eu vou ser avô, vamo comemorá é qui Dondinha vai casá com um moço da capitá, acho inté qui é dotô lá das banda de sarvador, vumbora homi toma logo uma lapada, num fica com essa cara da cachorro perdido na estrada, vixi Julimar tu parece que num gostô, oxente home num chora não, só deve de ser de emução! Ispera Julimar tuma uma aqui mais eu, vixi maria o home correu...
Foi quando me apeguei ao pai e disse :
-Deus num guento mais esse sofrimento, será qui isso é vivê ou será qui tô sonhano? Perte qui vontade de morrê! Já sei o qui vô fazê agora é cudha di mim, num vô mais sofrê assim, num carece ficá cum essa cara de vaca atolada na lameira e essa coisa de gostar é tudo uma bestera. Foi quando eu caí prá dento do roçado, trabiei iguá um condenado e cumecei a produzí, os ano foi passano e minha vida foi mudano. Era só vendê as fruta ao moço lá da cidade, deu pra juntá argum dinheiro só perdi a mocidade e no cabo da inxada fui formano meu salaro, meu corpo ficou marcado e as mão inxero de calo, mais tudo foi nas força minha eu sei qui nunca mais eu vô chorá e nunca mais eu vi Dondinha...
Ainda pensava na mocinha. Aquela pobrizinha que partiu prá sarvadô, aquela moça nova que dei todo o meu amor. Eu subi qui tinha treis fi, qui parô inté de istudá e nem chegou a si formá. Ainda fiquei sabeno qui a coitada tava era sofreno, tava na pió, é qui o homi tinha outra muié e ela era só chodó. O sue pai, esse nada fazia, tumbém as cundição num tinha, até di cumê lá fartava, lá na sua casa e tumbém na casa da Dondinha.
Aí intão eu fui pensano e tumei logo as decisão. Achamei dona maria, achamei o sue joão e cunvidei tumbém dundinha prá morá no meu garpão. Ela trosse seus treis fi Maneca, Zequinha e Saturnino , todos eles bem franzino pela fome que passava, eles vivia somente a pão, água e sufrimento. Hoje eu cudho de toda essa gente pelas força da inxada. Aqui não lis farta nada, inté o pé de mangera qui fais tempo qui num bota, hoje as fruta cai na porta que é pra mode nóis cumê...
Etha nóis eu quase esqueço de dizê, é qui Dondinha vai dá luz e finarmente graça a Jesus nosso burego vai nascê.