SIMPLESMENTE ZÉ
Zé de Tebas Catarino, assim era chamado o tal menino. Nascido no povoado de Varzedo o seu drama tornou-se enredo nesta história fictícia.
Filho de pai motorista e mãe prostituta travou grandes lutas pela sobrevivência durante toda a vida. Apesar de aparência feia e sofrida era de bom coração. Entrou para a escola ainda novo, cuspiu brasa engoliu fogo, pegou gripe, sarampo, catapora e gogo, mas não perdeu o rebolado. Era um cabra bom desenrolado, foi desde criança obstinado por natureza, trazia a pureza no olhar junto ao desejo ardente de voar para longe, para aonde o vento soprasse as solitárias velas do seu eu imaginário. Sonhava com a velocidade desafiadora das grandes cidades e tão logo completasse a maior idade partiria para lá.
Sua prima Catarina Tereza Caribé, dona de um dos cabarés daquela vila, foi a Irmã, mulher e cúmplice dos seus desejos mais ardentes e profundos , era a única parte do mundo que ele verdadeiramente conhecia, foi o prazer, o amor e a sua própria utopia. Teresa foi o ocaso e o nascente de todos os sentimentos que José um dia já sentiu.
Logo passaram-se os anos e conforme eram os seus planos, Zé de Tebas partiria para cumprir os traçados da vida, seguiria motivado pelo tão inusitado momento em que migraria para o apogeu dos seus sonhos.
Grande foi a dor da despedida e em sua partida partia-se também dois corações sonhadores em busca de um só objetivo “ a felicidade “.
Sem malícia nem maldade nem mesmo perversidade, Zé de Tebas Catarino num ventre abandonado pelas armadilhas do destino, deixava a semente do seu pecado. Qual por desatino ou total desatenção da natureza divina, após nove meses Tereza Catarina daria luz a um menino e uma menina, tão belos quanto um amanhecer no estil.
Bem, quanto ao Zé de Tebas faz tempo que partiu, o pobre não encontrou-se junto a realidade dura da capital, revoltou-se transformando-se num bicho, num animal enfurecido, sentiu-se traído pelos seus sonhos e pelos ideais que lhe fizeram sonhar. Ele sonhava em vencer na vida como sonha todo retirante e um dia voltar para casa e reencontrar a sua amada para juntos serem felizes, mas tantas foram as crises da sua consciência confusa e atordoada, que numa certa madrugada atirou-se da sacada do seu prédio para um pouso solitário e indolor.
Partiu Zé. Sem se quer conhecer os frutos daquela inconsequente e inesquecível amor.