PROCURA-SE UM PIANO

     Eles chegaram de forma inesperada. Estacionaram o caminhão na recepção lateral, destinada à entrada dos funcionários. O de terno escuro havia chegado noutro carro que havia deixado estacionado na frente do prédio. Era de estatura mediana, óculos de grau e conduzia uma pasta na mão. Na recepção juntou-se aos outros três que o esperavam e, demonstrando muita pressa, disse:
     - Vamos lá, pessoal!
     Virou-se para os funcionários da Emissora de Televisão, que se encontravam no horário de descanso, e perguntou:
     - Onde está o piano?
     - Qual piano? – indagou alguém.
     - Ora, o piano – respondeu bastante aborrecido.
     - Deve estar no estúdio – disse outro funcionário.
     - Rápido pessoal, nós não temos muito tempo.
     E entraram de empresa adentro à procura do estúdio. Facilmente o encontraram com o auxílio de alguns empregados que os seguiam curiosos. A televisão, naquele momento, exibia tapes antigos, permanecendo o estúdio sem funcionar. Ao chegarem a esta dependência, depararam-se com o diretor de produção. O homem de terno, o chefe, indagou:
     - Onde se encontra o piano?
     - Está aqui! – disse, apontando para um pequeno piano que se encontrava coberto por uma toalha.
     - Não é esse... È o grande!
     - Ah, sim! Encontra-se ali, por traz daquele cenário – respondeu solícito o diretor.
     No local indicado, encontraram o piano que procuravam. Era uma raridade, uma relíquia de fabricação alemã. O valor era difícil de ser calculado, sendo, talvez, o único existente em Pernambuco. O peso? Era um exagero. Percebendo que os três homens mal conseguiam mover discretamente, apesar de grande esforço que faziam, o homem de terno virando-se para os funcionários, exclamou:
     - Uma mãozinha aqui pessoal! Vamos lá!
     Apesar da forma autoritária com que fazia a solicitação, prontamente foi atendido. Vários homens, serventes, operadores de vídeo tape e de áudio, funcionários da contabilidade e o diretor de produção com grande esforço tentavam transportar o piano. Pareciam um bando de formigas levando um enorme pedaço de um outro animal maior. E o homem de terno comandava toda aquela operação mantendo uma certa distância. Quando alguém tentava descansar um pouco, ele dizia:
     - Vamos, deixa de moleza!
     Ao chegarem ao caminhão as dificuldades foram maiores, sendo requisitadas mais outras pessoas para auxiliarem naquela difícil tarefa. Alguns subiram para receber o grande instrumento, enquanto os outros permaneciam no solo, tentando levantá-lo. Enfim, missão cumprida. Um dos homens entra na cabine e dirige o automóvel, enquanto o homem de terno despede-se dos empregados da televisão:
     - Obrigado, pessoal!
     - De nada - responderam todos
     No seu carro esporte, o homem desapareceu deixando todos sem saber o seu nome. O que se sabia é que era muito mal-humorado e que só fazia dar ordens.
     Transcorreram-se três meses desse acontecimento. Todos já haviam até esquecido o fato, quando, então, um cronista social, que mantinha um programa de entrevistas, resolveu entrevistar um famoso pianista que excursionava pelo nordeste. Cenário quase pronto, perguntou-se pelo piano.
     - O piano? Levaram-no – respondeu alguém.
     - Mas quem o levou? – perguntou irritado o cronista social
     - Sei lá! Certamente foi levado para ser consertado.
     - Mas, pelo que eu saiba, ele não estava quebrado.
     Inúteis e exasperadas perguntas; vagas e lacônicas respostas. E, por mais que se tentasse encontrar um culpado pelo desaparecimento ou alguma pista que levasse ao piano, não se obtinha êxito. Até hoje se ignora o paradeiro do piano ou do homem de terno escuro.