A Professora de Química
Fernando tinha 17 anos e havia se mudado para Pelotas naquele ano de 1996, em julho, junto com seus pais. Veio de Santa Vitória do Palmar, uma pequena cidade na fronteira com o Uruguai onde estudava em uma Escola Estadual, cursando o 2º ano do 2º grau. Chegou a Pelotas e seus pais foram procurar o melhor colégio da cidade para ele estudar.
Pelotas é uma cidade localizada no extremo sul do RS, com aproximadamente 200 mil habitantes. Cidade antiga, colonizada por portugueses, possui ótimos pontos turísticos tais como casarões antigos e tombados pelo patrimônio nacional, a Praia do Laranjal, que é um balneário de verão banhada pela Lagoa dos Patos, a maior do Brasil. Existe um Porto no canal de São Gonçalo, o qual liga a Lagoa dos Patos com a Lagoa Mirim, formando um cenário magnífico e muito atrativo. Além disso, Pelotas tinha, na época excelentes colégios, Universidade Federal, Universidade Católica, Escola Técnica, entre outros colégios famosos. O calçadão de Pelotas, charmoso com suas ruelas laterais de paralelepípedo, acolhiam os turistas com o seu charme e artigos típicos da região sul. Além do que, tinha uma excelente vida noturna. Como era uma cidade extremamente plana, no inverno o vento minuano fazia as temperaturas caírem abaixo de zero.
Chegando em Pelotas, os pais do Fernando o matricularam no Colégio Gonzaga. O Gonzaga era a melhor escola particular da região sul do RS e lá estudavam somente os filhos de pais ricos. Fernando era filho de um bancário e de uma professora, na época, já aposentada. Uma família de classe média.
Fernando era uma rapaz simples, humilde, de papo fácil e muito bem humorado. Magro, tinha 1,80m com olhos e cabelos castanhos. A verdade é que não gostava de estudar. Por causa desta última ”qualidade” reprovou em duas matérias no final daquele ano de 1996: português e química.
Como ele não foi o único a reprovar naquela turma, alguns de seus amigos lhe disseram que havia um outro colégio na cidade em que o aluno poderia cursar o ano letivo normal pela manhã e a tarde fazia, durante 4 meses, as dependências das matérias que havia reprovado. Isso, desde que não tenha sido reprovado em mais de 3 matérias. Essa notícia caiu como uma luva para Fernando e ele foi falar com seus pais. Como a mensalidade no Gonzaga estava pesando e o Fernando demonstrou interesse em entrar para a faculdade, os pais concordaram em matriculá-lo no Colégio Santa Margarida em 1987, para que estudasse mais um ano e fosse, então, para a faculdade. Seus colegas do Gonzaga portanto, não foram, pois seus pais não permitiram que saíssem daquele colégio.
O Santa Margarida tinha um prédio antigo, construído em meados do século passado. Com 3 andares, tinha um enorme corredor que percorria, por fora, toda a extensão do prédio. O pé direito de cada andar tinha mais de 5 metros. Havia uma quadra de cimento, poli esportiva onde, durante o recreio, os alunos podiam descansar e conversar a vontade.
Março de 1987 começaram as aulas no Santa Margarida. O colégio era um reduto de alunos reprovados em outros colégios e escolas de toda região sul do estado. Tinha rapazes e moças de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Canguçu, Piratini e até de Bagé. Com essa migração toda, no início do ano ninguém conhecia ninguém. As “panelinhas” iam se formando lá pelo segundo bimestre do ano.
Fernando, que nunca foi santo dentro de uma sala de aula, sentava sempre no fundão da sala. Com ele dois colegas que, mais tarde, passariam a ser seus melhores amigos: o Amir, um descendente de turco que morava com os pais em Rio Grande e que era um pouco mais velho, tinha 23 anos de idade e o Sandro, um cara de 18 anos que veio de Caçapava do Sul, junto com seu pai que trabalhava na Companhia de Energia Elétrica e fora transferido para Pelotas. Os três amigos tinham pelo menos três coisas em comum. Todos haviam reprovado no 2º ano do 2º grau no ano anterior, nenhum deles gostava de estudar e todos tinham um incrível senso de deboche.
Amir era um turco que andava sempre bem arrumado. Sempre de sapatos, calça jeans, camisas pólo por dentro da calça e com um cinto de couro que combinava com o sapato. Sandro, ao contrário era o tipo malandro. Sempre com calças jeans, tênis tipo All Star e camisetas por fora das calças. Com essas afinidades e diferenças todas, foram conversando no fundão da sala, no recreio e começava ali uma grande amizade entre os três.
Marcavam churrascos e volta e meia saíam juntos em Pelotas nos finais de semana. Naquela época era possível sair a pé à noite sem se preocupar com a segurança. E era isso que eles faziam, pois nenhum dos três tinha carro.
O Amir vinha de Rio Grande no sábado pela manhã e dormia, ora na casa do Sandro, ora na casa do Fernando.
Eles gostavam de iniciar a noite na Av. Bento Gonçalves, nos barzinhos em volta do estádio de futebol do Pelotas, o Boca do Lobo e, lá pelas 4 da manhã, atravessavam o centro da cidade e iam para a boate da Faculdade de Direito, que ficava atrás do Colégio Santa Margarida. Outra balada freqüentada pelos três amigos era a Boate Hypopottamus, que ficava no início do bairro Fragata. A Hypo, como era conhecida, era uma boate de terceira categoria, mas que enchia todas as sextas-feiras e sábados à noite. Tinha três pistas de dança. Logo na entrada, um salão com capacidade para aproximadamente 300 pessoas, tocava música dance, embalada por DJ’s. Ao fundo e no mesmo piso, havia uma pista de dança com músicas do tipo flash back, também embalada por DJ’s. Antes de chegar neste ambiente, havia uma escada à direita, que dava acesso ao ambiente de pagode no segundo piso, sempre com música ao vivo.
Início do terceiro bimestre do ano letivo, meados de agosto daquele mesmo ano, os três amigos não estavam se saindo nada bem no colégio. Se bem que já haviam conseguido passar nas dependência à tarde, mas não iam nada bem em química, física e português. Quando conseguiam tirar uma nota 6 nessas matérias pagavam uma rodada de cerveja no Bar do Neto, um boteco de esquina no calçadão de Pelotas, muito conhecido e bem freqüentado por belas mulheres, estudantes ou não.
Em uma terça-feira daquele mês de agosto, no primeiro período de aula, entrou na sala do 3º ano B, a coordenadora de turno e anunciou que o professor de química havia saído da escola e que a mesma estava buscando um novo professor. Naquele dia, a turma ficou sem aula de química e foram dispensados ao pátio da escola.
A manhã daquela terça-feira amanhecera nublada, fazia 2º C às 07h30min, horário do início das aulas. A sala de aula estava toda fechada e podia-se ouvir o barulho do vento entrando pelas frestas das janelas. A turma estava toda encolhida, tentando aquecer-se esfregando as mãos uma nas outras ou andando pela sala para não sentir mais frio. As roupas dos alunos eram pesadas e a maioria deles usava touca para se proteger do frio.
Ás 07h45min abre a porta a coordenadora do turno, cumprimenta a turma dizendo: - bom dia pessoal ! Como estão se sentindo com todo esse frio ? A turma, que estava conversando para tentar espantar o frio, mal consegue responder ao cumprimento da coordenadora quando ela continua – tenho boas notícias para vocês. Deixa eu apresentar sua nova professora de química.
Naquele momento entra na sala a Srta. Maria Luiza. Um espetáculo de mulher. Loira de cabelos lisos, usava-os presos em um pequeno coque naquela entrada triunfal. Usava um cachecol colorido no pescoço para proteger-se do frio e o brinco dourado, redondo e grande caia por sobre o cachecol dando um brilho ainda maior naquele rosto exuberante. Os três amigos no fundão da sala só conseguiam ver o rosto da deusa e, aos poucos, foram curvando-se nas carteiras para olhar entre os corredores das carteiras e cutucavam-se com os cotovelos, abobalhados com tamanha beleza e charme. Ela usava um enorme casaco de couro preto, que lhe escorria até o joelho. Uma calça jeans com uma bota de bico fino que subia até a altura dos joelhos. Aquele toc-toc dos saltos tocando o piso de madeira parecia uma música entrando na sala de aula, e o silêncio tomou conta do ambiente. Os três amigos no fundão não conseguiam nem respirar direito. A nova professora levou cerca de 5 segundos para deslocar-se da porta até sua mesa, mas parecia que havia demorado 20 minutos. Como se estivesse em câmera lenta, aquela imagem permaneceu por muito tempo na cabeça do três amigos que, a esta altura, estavam quase caindo de suas carteiras. – Bom dia ! disse a professora com sua voz baixa e levemente rouca. Como que num susto e talvez como se acordassem de uma hipnose, a turma, mais as mulheres do que os homens, responderam; - bom dia professora !
Quase ao término da saudação, o Fernando falou baixinho para o Amir: - ela não fala, sussura ! E logo o Amir mandou: - Que boca ! Olha o jeito dela falar, meu Deus ! - O que foi ? perguntou Sandro. – Vou reprovar novamente em química, falou Amir. E os três começaram a rir baixinho no fundo da sala.
- Esta a sua nova professora de química. Disse a coordenadora toda empolgada. Ela é formada em química pela Universidade Federal, já lecionou no Gonzaga, Escola Técnica e leciona na PUC à noite. Tenham paciência com ela que com certeza vamos recuperar toda a matéria que perdemos nestes 15 dias sem aulas de química. Professora, a turma é sua.
Maria Luiza tinha aproximadamente 1,65m de altura, mas com os saltos das botas chegava a 1,80m. Magra, com um corpo muito bem delineado, até com o casaco de couro sobre a roupa dava para ver que seu corpo era espetacular. Seus olhos verdes pareciam que piscavam em câmera lenta, tamanho era o charme quando ela falava.
- Bem turma, vamos nos conhecer um pouquinho antes de começar nossa aula, disse a professora que, neste momento, começava a tirar o casaco de couro. Por baixo do casaco, uma blusa de lã, cor bordô, bem justinha ao corpo denunciava o que os três amigos já imaginavam...um corpo perfeito. Com curvas maravilhosas, seios fartos e firmes, coxas bem torneadas e ligeiramente grossas. – Isso não é uma mulher sussurrou o Fernando, é uma deusa ! Nós precisamos dar um jeito de vê-la mais de perto nas próximas aulas, comentou com o Amir e o Sandro. – É verdade disse Sandro, daqui tá difícil. – Se daqui estou sentido seu perfume, imagina se chegar perto, falou Amir. E assim, os três amigos conheceram a nova professora de química.
No intervalo do recreio, o assunto de todas as rodinhas daquela turma era a nova professora de química. As mulheres é lógico, acharam um monte de defeito. Os rapazes, é claro, só tinham elogios. – Será que é casada ? disse Amir. – Acho que não, pois não vi nenhuma aliança na mão esquerda, falou Fernando. Nem na direita, disse Sandro. – Então é solteira. Qual será sua idade? complementou Amir. – deve ter uns 30, disse Fernando. Não, falou Amir, deve ter mais. Esse charme e beleza toda não se consegue com apenas 30 anos. Deve ter, no mínimo 35. – Eu não sei falou Sandro, mas para mim não importa, na quinta-feira quando teremos outra aula com ela, vou me mudar lá pra frente. Quero sentir o perfume dessa deusa, dessa sereia, que caiu em nossa sala.
E assim o fizeram. Na quinta-feira, às 07h10min, os três amigos ocupavam a primeira fila das 3 fileiras do meio da sala de aula, a qual tinha 5 fileiras. Ao vê-los sentados na primeira fila, a colega Larissa comentou: - o que houve com vocês, estão doentes ? Quase que como em coro, os três responderam: - doentes de paixão. E deram uma gargalhada piscando para a Larissa, que comentou: - vocês não tem jeito mesmo...
Quando eram 07h30min, entra na sala a professora...Desta vez com uma saia jeans até o joelho, uma blusa de lã preta com gola alta, os cabelos quase soltos, presos apenas por um pequeno prendedor e outra bota, cor preta, que subia até o joelho e com salto ainda mais alto, mas com bico quadrado. Sua entrada na sala beirava a um desfile de modas. Sua elegância ao caminhar era tanta que parecia levitar em câmara lenta, enquanto sua boca entre-aberta cumprimentava a turma com uma voz que parecia estar ainda mais rouca, devido a proximidade dos três com ela. Seu perfume foi invadindo o ambiente e os três não se contiveram e deram aquela respirada funda, quase indiscreta, chamando a atenção de quase toda a turma, inclusive da professora. Logo eles perceberam que não fora boa idéia ter se mudado para a primeira fila. Ali, não podiam fazer comentários, aproveitar juntos os momentos perto de sua musa. E a aula transcorreu com os três ali na frente. Pareciam uns anjos hipnotizados olhando para a professora, concordando com tudo o que ela dizia, embora escutassem, mas não estavam prestando atenção em nada do que ela dizia. Seus pensamentos estavam longe, voltados para um lado mais pessoal do que educacional.
Os dias foram passando, os três voltaram para o fundão da sala e, já no meio do mês de setembro veio a primeira prova da nova professora . Resultado: Amir nota 4,0 ; Fernando nota 4,5 e Sandro nota 5,0 . Foi um desastre, aliás mais um. Os três amigos haviam combinado que, se fossem mal na prova iriam pedir mais ajuda para a professora, do tipo, algumas explicações mais de perto, na própria carteira dos mesmos. E assim o fizeram. Logo após receberem as provas de volta, com as notas, chamaram a professora para perto deles para tirar algumas dúvidas. Maria Luiza toda preocupada os atendeu prontamente e puxou uma cadeira para perto dos mesmos. Quanto mais de perto deles ela falava, mais desconcentrados os três ficavam. Um olhava para os peitos, outro para a boca, outro olhada os gestos que ela fazia com as mãos... era um espetáculo. A professora falando e os três “viajando” . Após alguns minutos de explicação, a professora retornou para sua mesa e continuou a aula.
Durante esses quase dois meses que a nova professora havia chegado, os três amigos tentaram, sem sucesso, saber quais eram os hábitos da Maria Luiza. O que fazia nos finais de semana, onde gostava de ir, se tinha namorado, onde morava, que estilo de vida levava. Tudo em vão. O que descobriram apenas, foi que a madame tinha um estilo de vida de alto padrão. Com carro do ano, morava em um bairro chique da cidade, em um apartamento no 5º andar e tinha 34 anos. Nada mais.
No último final de semana do mês de setembro, os três amigos combinaram de sair juntos para a balada. Naquele sábado a pedida foi a boate Hypopottamus. Chegaram por volta da 1 hora da manhã. A casa estava lotada. Cerveja vai, cerveja vem, foram circulando pelos ambientes do andar térreo, paquerando uma garota daqui e outra dali, sem muita importância. – Vamos pro segundo andar, disse Amir. – Vamos lá, complementou Fernando. Chegaram no segundo andar, o pagode corria solto. O ambiente estava lotado, a maioria das pessoas eram afro descendentes que dançavam e sambavam em pares, bem diferente do andar térreo. – Aqui é meu lugar, comentou Fernando. Aqui vou me dar bem !
- É isso aí, completou Sandro. Quando procuravam um local estratégico para ficar, uma luz no meio da pista chamou a atenção de Amir que, espantado, logo cutucou com o cotovelo os dois amigos: - olhem lá, olhem lá, olhem lá no meio da pista...será que é ? Não pode ser ! – Devo estar muito bêbado, falou Sandro . – Não, tu não está bêbado, falou Fernando. É ela sim. Dançando, faceira, alegre, sorridente, com um cara de quase um 1,90m de altura... a professora de química. A deusa Maria Luiza. Os três se olharam e como se tivessem combinado, caíram na gargalhada e pensaram “estamos aprovados em química”. Após alguns murmúrios mais, os três combinaram que deveriam deixar que ela os visse. E assim o fizeram. Procuraram fazer de tudo para que Maria Luiza os visse. E aconteceu... ela os viu. Estava dançando ainda, rodopiando com o parceiro, quando viu os três ali, ao lado da pista, dando tchauzinho para a mesma. Seu sorriso foi ficando amarelo, seus passos de dança ficaram atrapalhados e ela pediu para que o parceiro a deixasse. Ela saiu ás pressas com rumo contrário ao que estavam os três, pegou sua bolsa e sumiu na multidão.
Para Amir, Fernando e Sandro, a noite tinha valido a pena. Já não se interessaram mais em “caçar” mulheres e resolveram comemorar o “achado” tomando todas no Bar do Neto, no centro da cidade. Começaram então, a especular sobre a vida da professora. Também debateram se deveriam ou não contar a alguém o que haviam descoberto. Quase de manhã, os mesmos debruçados no balcão do bar, quase não conseguiam caminhar. Pegarem um táxi e foram para casa.
Terça-feira de manhã, primeira aula após o ocorrido. Entra na sala a professora como que nada tivesse acontecido mas, logo ao entrar na porta, dá uma olhada de canto de olho para o fundo da sala procurando pelos três. Lá estavam eles. Não dava para saber quem estava mais envergonhado, se ela ou eles.
As aulas que se seguiram transcorreram normalmente até o final do ano, quando então vieram os boletim com as notas finais. Neles, pode-se verificar então que os três amigos Amir, Fernando e Sandro haviam passado em todas as matérias, com excelente recuperação em química a partir do 3º bimestre daquele ano.