O Capitão Vaidoso e o Navio
Em uma noite chuvosa e escura, uma tempestade se aproxima. O Capitão, como se ignorasse a força destrutiva, continuava a acariciar a proa do navio, até que esta refletisse o brilho da sua farda condecorada. Gostava de demonstrar como seu navio era bonito, porém, ninguém poderia subir a bordo, apenas observar-lo. E de longe.
Havia imperfeições, é claro. Nenhum navio conseguiria ficar intacto depois de tanto tempo, porém, reparos eram feitos quase sempre. E quase sempre ficavam quase perfeitos.
A tempestade enfim chegara. O Capitão, olhando atordoado, fez uma expressão de pavor e insegurança. Porém quando percebeu que poderia estar sendo visto por alguém, logo empinou o nariz e ajeitou a farda. Convenceu-se que nenhuma tempestade poderia afundar um navio tão belo.
A cada onda pedaços de madeira do navio eram lançados ao mar, e eram empurradas de volta ao encontro do navio pela força das ondas. Riscando a pintura do casco.
O Capitão, logo se pôs a retocar o navio, em plena tempestade. A cada risco uma pincelada. Até que num encontro fulminante, uma enorme onda partiu ao meio o navio. Que logo veio a afundar.
O Capitão, ainda de peito erguido e nariz em pé, continuava inutilmente, a pintar o navio, já partido ao meio.
O Navio logo afundou de vez, junto com seu Capitão.
Continua sendo um belo navio. Um Belo Navio afundado. Um Belo Capitão afogado.
Uma Bela estupidez.