O Capitão Vaidoso e o Navio

Em uma noite chuvosa e escura, uma tempestade se aproxima. O Capitão, como se ignorasse a força destrutiva, continuava a acariciar a proa do navio, até que esta refletisse o brilho da sua farda condecorada. Gostava de demonstrar como seu navio era bonito, porém, ninguém poderia subir a bordo, apenas observar-lo. E de longe.

Havia imperfeições, é claro. Nenhum navio conseguiria ficar intacto depois de tanto tempo, porém, reparos eram feitos quase sempre. E quase sempre ficavam quase perfeitos.

A tempestade enfim chegara. O Capitão, olhando atordoado, fez uma expressão de pavor e insegurança. Porém quando percebeu que poderia estar sendo visto por alguém, logo empinou o nariz e ajeitou a farda. Convenceu-se que nenhuma tempestade poderia afundar um navio tão belo.

A cada onda pedaços de madeira do navio eram lançados ao mar, e eram empurradas de volta ao encontro do navio pela força das ondas. Riscando a pintura do casco.

O Capitão, logo se pôs a retocar o navio, em plena tempestade. A cada risco uma pincelada. Até que num encontro fulminante, uma enorme onda partiu ao meio o navio. Que logo veio a afundar.

O Capitão, ainda de peito erguido e nariz em pé, continuava inutilmente, a pintar o navio, já partido ao meio.

O Navio logo afundou de vez, junto com seu Capitão.

Continua sendo um belo navio. Um Belo Navio afundado. Um Belo Capitão afogado.

Uma Bela estupidez.

Eduardo Polarco
Enviado por Eduardo Polarco em 03/03/2010
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