Para Dalton Trevisan ( O Eterno "Vampiro de Curitiba" )

- Eu juro que tava na minha, cara.

Por deus, pela nossa senhora do pilar e os cambaus. Saí de casa brigado com a megera porque ela falava tudo na voz esganiçada e ainda por cima eu tinha abusado da pinguinha e fumado um bagulho muito louco! Toquei-lhe a mão na cara de doideira. Não devia ter feito isso. Amo minha esposa. Às vezes ela fica puta porque diz que eu tô chapado, bebum e xarope. Mas isso é coisa dela, meu. Já dava meus tragos desde o namoro. Mais de 20 anos nessa. Nunca agredi ninguém. Só naquele dia maldito e ainda foi com a mulher que sempre adorei. Cuca quente, sacumé? E o bacana que tinha apresentado a partida ainda disse que era essa tal de haxixe. Nunca tinha experimentado a bagaça. Voei longe aquele dia. Meio litrão de 51 e tal do haxixe. Fumei de me esbaldar. O desgracido dava risada que nem hiena. Hiiiii, hhhhiiii, hiiii! Fui pra casa na lombra e aí logo que abri a porta a deu a louca na mulher. Gritaria. Briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher, era o que meu finado paizinho dizia. Quando não agüentei mais aquela zoeira dei com as costas da mão. Ela caiu sentada. Eu voltei pra rua. Direto pro Bilharito do Alaor. Mas cachaça pura nas tripas. O povo jogava sinuca, tomava uma cerva, e batia papo. Aceitei uma partida com um negrinho que nunca tinha visto por ali antes. Musculoso. Uns vinte anos. Bonezinho verde virado com aba pra trás. Três fichinhas valendo a mesa. Ganhei todas a fio. Mais uma branquinha pra dentro.

O piá quis jogar mais três. Valendo a mesa e uma cerveja cada vitória. Beleza. Lá fui eu.

Ganhei de novo. Sorte no jogo azar no amor, não é isso? Aí, o guri começou a ficar de pé redondo. Já parecia que tava na cachaça há algum tempo, bem antes de eu chegar. Ficou valente. Tem nego que toma um trago e acha que é o Mick Tyson, outro diz que é o Airton Senna e têm os outros que é só começar a cozinhar o galo que acha que é rico ou dono da razão. Pode? Pois então, foi o que rolou comigo. Começou aquela discussão que ele não queria pagar a despesa, a aposta. O dono do bar nem deu bola pra argumentação do escroto. Bar não é banco nem casa de caridade, irmão. Então o babaca veio com tudo. Tentou me acertar com o taco de sinuca. Tava ruim de mira e só senti o vento passando. Rachei uma garrafa de cerveja no balcão e fica uma arma linda, corta que é uma beleza. Ele investiu de novo contra minha pessoa. Não pensei duas vezes: meti-lhe a garrafa no pescoço, bem na jugular, camarada.

Jorrou mais sangue que o chafariz da Praça Osório, bró! Quando o moleque viu aquilo tudo, deu a louca. Saiu gritando e sumiu do mapa rua acima.

Dois dias depois tô curando a ressaca no meu ninho de amor junto com a nega e a polícia bate na porta. Me 'güentaram. Disseram que o malandrinho não resistiu ao ferimento e investigação daqui a dali acabou surgindo minha graça na parada. Que dúvida. Pobre, fudido e sem advogado. Respondendo por homicídio doloso, foi o que o doutor delegado me disse. Quando sair daqui, juro por deus, satanás, nossa senhora do pilar e os cambaus que vou acabar com a raça do alcagüete finório filho da puta que me entregou...

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 23/02/2010
Código do texto: T2103574
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