REFÉM DO NADA!

Quando a vida pára...para que reflitamos suas histórias:

Eu a conheci numa época em que passava pela turbulência dum relacionamento desgastado que já se esticava por quase dez anos.

Não éramos propriamente amigas, porém vez ou outra me desabafava suas angústias latentes mais íntimas.

Eu apenas a ouvia, porque não sei por que "cargas d'água" falar nos esvazia a alma das angústias e sem dúvida nos deixa mais leves, embora nem sempre próximos das difíceis resoluções que a vida nos impõe, tantas vezes em caráter de urgência.

E claro, como meros ouvintes e do confortável lado de fora, às vezes enxergamos certos paradoxos difíceis de se explicar, e que os colocutores não enxergam...ou se negam a enxergar. Porque enxergar certos fatos é deveras doloroso.

Mas ela vinha. Vinha vazia de autoconhecimento, e percebi que procurava explicações para si que não encontrava em canto algum do mundo...porém todas dentro dela.

Há pouco dias nos reencontramos depois de quase quinze anos.

Demo-nos um abraço e instintivamente perguntei-lhe da vida, e se tudo havia se resolvido.

Misteriosamente, carregando a mesma problemática e com nítido desdém por si mesma, assim me respondeu:" Tudo igual, mas estou melhor porque aprendi a tirar proveito da situação, daquilo que me conforta'.

Então, como a percebi refém de algo, delicada e ingenuamente lhe perguntei: " Ainda gosta muito dele, não é?"

E então parte da sua resposta que me deixou perplexa:" Já não gosto mais dele, gosto é do que ele me dá!"

Não contente como aquele "o quê", me senti incomodada em querer entender o quê poderia ser tão superiormente gratificante, para que alguém se sentisse conformadamente "quase feliz" ao se declarar refém de algo.

Então perguntei novamente: "Amor, segurança?"

Daí fiquei mais estupefata:"Não, imagine, gosto dos restaurantes, das roupas , das jóias, das viagens...".

Para reflexão em vida.

Porque impossível é se refletir quando "em morte".