I ÎUKAPYRAMA

Arasy nasceu uma menina bonita e sadia. A sua mãe ficou muito feliz com a sua presença, mas a pequena Arasy nasceu com um pequeno defeito: tinha o seu pezinho esquerdo com uma leve seqüela de nascença que o deixava torto. Iria ser uma kã-penga (aleijada) se por acaso crescesse. Na mesma noite do seu nascimento, Arasy foi sacrificada. O seu próprio pai fez uma cova nas cercanias da aldeia e enterrou viva a pequena Arasy.

Pindobusu também nasceu um menino bonito, mas era mais fraquinho que o seu irmãozinho gêmeo Aimberê. O seu pai vendo que pela tradição não era auspicioso ter filhos gêmeos, teria que sacrificar um deles e assim sendo resolveu sacrificar Pidobusu enterrando-o no mato. Moema, a sua tia, ficou algum tempo ao lado do buraco onde se ouvia o choro do pequeno Pindobusu quase sufocado e isso a fazia sofrer terrivelmente, tanto que quando todos se ausentaram, Moema desenterrou o pequeno kunumim e o levou para casa às escondidas, tratando dele e criando como se seu próprio filho fora.

Hoje, Iramaia, a sua mãe biológica reconhece Pindobusu como um belo homem e Moema como a sua verdadeira mãe.

Assim como os animais, os índios tradicionalmente abandonam aqueles filhos que nascem com defeitos físicos, pois esses são para eles improdutivos e a dura lida diária na floresta não propicia que se tenha condição de cuidar de mais um ser que para eles será incapaz de caçar, pescar ou sobreviver sozinho.

Quanto ao nascimento de gêmeos, acredita-se que seja uma maldição dos espíritos sobre a família.

O infanticídio nesses casos é tradicional nas comunidades indígenas e um fator que incrementa as cifras de mortalidade entre as criancinhas. Cabe àqueles que tenham um maior conhecimento convencer os índios de que não se deve eliminar suas criancinhas por defeito físico ou quaisquer outros fatores, pois todos têm o direito à vida.

I îukapyrama = aquele que será morto. (I, ele; îukapyra, morto; îukapyrama, o futuro morto).