BAND-AID
Atentava já há certo tempo para minha mão. Sei que queria saber qual era o ferimento que se escondia debaixo do curativo. Não tinha vergonha de meu ferimento, mas eu não queria mostrar. O outro queria ver.
Percebi que queria me perguntar o que havia feito com minha mão. Será que pensava que eu tinha mão boba e em razão disso eu não soube onde pô-las? O que ele tinha que se preocupar com minha mão?
Talvez a razão para querer saber de meu ferimento era que ambos aguardávamos para sermos atendidos. Talvez por que ele também estivesse com as mãos enfaixadas quisesse saber o que eu escondia. Ele escondia as mãos. Escondíamos os ferimentos um do outro.
Éramos cúmplices por que escondíamos um do outro o ferimento que teve uma razão. Não lhe contei das minhas razões. Olhando daquela forma, ele queria saber das minhas. Cúmplices.
Mas eu não queria cumplicidades. Estava de mau humor naquele dia e ele queria saber de algo muito íntimo. Queria se aprofundar no meu ferimento.
Só por que éramos cúmplices esperando, escondendo, havia razão para pensar que eu era obrigado a dizer onde pus minhas mãos? Não queria dizer, mas ele queria saber. E hora menos hora — ele sabia —, eu também não conseguira mais disfarçar a curiosidade. Tanto que perguntei:
—Tá olhando o quê?
Obviamente que não iria declarar minha curiosidade. Mais fácil ser ríspido e aguardar que o outro se desculpasse pela curiosidade e explicasse o que ocorrera para ter se ferido.
O outro não disse. Ele não se desculpou. E eu fiquei olhando por que ele venceu. Ele venceu por que não perguntou. Eu perguntei.
Fui amador ao perguntar. O outro não perguntou, era profissional.
Descobri que tenho muito a aprender sobre a arte de disfarçar ferimentos, que, mesmo com os carentes de um sábado à noite, tem quem concorra. Não fui páreo. E olhar a plantonista não teria mais os mesmos significados. Retirei o band-aid e me joguei na rua para atropelar.