MAIS UMA DO DIA A DIA

Minha lojinha e' pequena mas e' bem movimentada e tem hora que eu e a Margo nao damos conta de atender tanta gente, e' incrivel, parece que os fregueses combinam e vao chegando todos juntos e dias destes entrou um senhor de terno azul marinho,gravata, segurava um bone de motorista, disse bom dia, e me pediu um cartao da loja. Era bem simpatico e bem bonitao, grisalho, lindo mesmo, perfumado, hummm!!! e ficamos eu e Margo rindo e brincado:-

Com este ai eu nem casava, amasiava, que se casa' estraga, Margo, coitada, 'e casada, sofreeee!!!, e eu e ela riamos.

Entreguei, ele agradeceu e se foi.

No outro dia recebi um telefonema e era uma senhora que se identificou como Milena e me falou que o motorista tinha vindo buscar o cartao e que ela necessita de linhas, botoes, coisas de costura porque a mudanca dela de Sao Paulo vinha trazendo estas coisas e so' chegaria no outro dia. Ela estava se mudando para ca' e estava em um hotel e so' dai a dois dias iria para a casa nova e me deu o nome do condominio que iria morar.Uauau pensei eu, coisa grossa, condominio de luxo heim? danada, rica e'?..isto pensava, nao falava. Me deu a lista do que necessitava, fiz, embrulhei e o motorista veio pegar, disse boa tarde, deu dois dedos de prosa, eu e Margo curiosas!! e ele respondeu algumas das minhas perguntas ( Margo falava baixinho-pergunta isto, aquilo e eu ouvia e perguntava o que ela queria e mais as minhas perguntas, poucas, umas dez? coitado!!)agradeceu, e eu disse 'as ordens ( e Margo sentada e baixinho - 'as ordens , Lindo!!). Ficou freguesa a madame Milena, gastava!!! era artesa, fazia artesanatos, bonecas, chinelos, bordados, prendada a mocoila nao?, fiquei sabendo, mais tarde:- para passar o tempo, e doo tudo para o bazar da igreja, para ajudar a manter a creche

Caridosa Milena, faz muito bem moca, muito bem, o ocio e' o pior negocio dos ricos e poderosos, pensava eu.

Um dia , um sabado de manha ai pelas 10, me aparece uma coisa de fechar o comercio da 25 de Marco em Sp, que aqui pela minha cidade , '' ele '' o monumento ja' tinha fechado o comercio e de lambuja parado o transito, tinha ate' guarda de transito apitando que nem louco, tentanto acabar com o engarrafemto, e ele entra justo na minha loja e no meu coracao, da loja saiu , do coracao esta' ate' hoje.

Trazia na mao um embrulho, conversamos, conversamos nao, ele falava, eu olhando nos olhos dele, nas maos, no torso, no pescoco, no cabelo, porque eu nao podia olhar para mais nada, o balcao encobria, Margo, sem vergonha, deu a volta, foi ate' a porta, disfarcando, e na volta fez que deu uma pegada no bumbum dele e fez um ooooo' com a mao, piscou um olho, como dizendo:- otimo, lindo, aprovado, e nao saia de perto, dei um cutucao com a mao nela, nada, parecia de chumbo a Margo assanhada, dei um pequeno chute na canela dela, nada, grudou mais, e ainda falou baixinho, """ daqui nao saio, daqui ninguem me tira ", entrou fregues tirou ela dali, teve que ir la' pro fundo da loja, ele nao entendeu o porque do meu riso.

Entendi o que ele queria, que eu fizesse umas camisas de seda, o embrulho eram pecas da melhor seda que eu ja' tinha visto, branca, amarelinha clarinha, azulzinha, beije,'' sao lindas, falei'', humuhumm fez ele e eu desmaiei por dentro com este humhum, que muxoxo delicioso, foi comigo la' para o fundo, Margo atras, seguindo que nem cachorro a linguica, pedi a ela '' vai buscar um cafe' pra nois, Margo?, me olhou com odio tarantino, ele aceitou um tambem, foi buscar treis, assim demora mais ainda, e gritei quando ela estava na porta, '' traz um sanduba de queijo e presento, frio, quer um? ele nao quis, se quiser Margo compra um tambem viu?, o olhar dela era frio, gelado, congelado, foi, ficamos eu e o monumento, tirei as medidas, tremendo, ele ate' notou, mas nada comentou, combinamos tudo, queria cada uma diferente, com um bolso, sem bolsos, com dois bolsos, fui anotando cor e modelo, coloquei tudo em uma sacola plastica de supermercado que tenho por ali e Margo, a que odeia eu e Deus e todo mundo, chegou, demorou mas chegou, ele tomou seu cafezinho e se foi. Margo ficou, ficou vendo navios e quase me bateu, nao conversou mais, so' na hora de ir embora, meio dia, me disse, com tristeza, Adeus, nao volto mais, voltou , na segunda , 'as oito em ponto abriu a loja, cheguei as deis.

Por que cheguei 'as deis? tinha tido um domingo de sol, uma manha radiante, uma tarde sem por do sol e uma noite loooongaaaa, loooongaaaa!!!, estava quase sem dormir desde domingo cedo, na noite de sabado nem dormi direito depois que o monumento me ligou, o monumento tem nome, Alberto, Dr.Alberto, engenheiro, vai fazer muita '' terraplanagem'' por aqui na minha cidade, me falava ele enquanto tomavamos um bom vinho tinto, infelizmente nao era o chapinha, ve se soh loca de falar ''chapinha'' na frente dele, deus me livre e guarde, tomei e' foi dos baos, dos caros, ele estava pagando mesmo e no melhor motel la' da D.Pedro I, aquele todo de decoracao das arabias, e quem virou odalisca fui eu, e ele foi o grao vizir, o califa de Bagda eu eu so' ali ooooo''' '' bagdando'', e depois desta vez teve outras e mais outras, ficamos amigos mesmo, assim oooo' que nem siameses, grudados, grudadinhos um no outro e quem queria se separar? nenhum dos dois, Margo tentou nos separar, desistiu!!!

Madame Milena ficou otima freguesa, comprava, gastava, mas nunca veio 'a loja, era sempre seu Djalma quem vinha, o motorista dela.

Um dia na festa do figo, tradicao aqui na minha cidade, minha mae insiste, insiste, e vou com ela, la' vou eu de novo, pensei, Gosto de ir sozinha, paquerar, me esbaldar, comer as porcarias que vendem por la', deliciosas porcarias, quem diz que e' porcaria e' minha mae, eu nao, adoro.

Estou tomando um suco, minha mae no banheiro e levo um susto, engasgo, tusso, e o suco volta, suja tudo, escorre pela minha boca e eu tinha visto , ele, Alberto, lindo, de bermudas, chinelos, camiseta, um bone' e com uma linda senhora, elegante, loira e duas criancas, um menino e uma menina, lindos tambem e escutei o nome que ele chamou:- Milena, nao pode ser , pensei, ele, marido da minha freguesa? casado? sem vergonha!!! falou que era divorciado, porisso tinha vindo embora de SP, comecar vida nova, me deu esperancas o cachorro, apesar que eu nao queria casar, so' acasalar, ficar junto, ele la', eu ca', cada um na sua, na sua casa de preferencia, mas, mas por que mentir? homens, cachorros homens, lindos homens cachorros, mais um...mais um...mais um.

Dei um gelo, parei de dar, de emprestar outras coisas, agulhas e linhas, parei, nao atendi mais telefone e quando apareceu na loja , dei uma desculpa, sai, Margo adorou, ele nao, saiu atras de mim, eu tinha me escondido na Casas Pernambucanas e de la' olhava e vi quando saiu 'a minha procura, nao achou, fiquei no papo com a Idalina, vendedora boazinha de la', compro muita coisa por la' e contei tudo para ela, mas ela ja' sabia, Margo, a lingua comprida ja' tinha dado conta do recado, pra deus e todo mundo,acho que, na minha cidade, todos sabiam. Nao me importo.

Ainda insistiu algumas vezes, nunca mais, falei eu, nao quero confusao declarei em alto e bom som, e fui clara, que gema nao sou, :- Milena e' uma das melhores freguesas que tenho, ve se vou perder minha galinha dos ovos de ouro. Foi embora, vejo sempre, adoro ver, sentir o cheiro dele, passar a mao nas costas quando vem aqui na loja fazer camisas, calcas, cueca nao, compra pronta, lindas, tenho uma guardada, usada, roubei e guardei de lembranca, mas agora Milena vem com ele, traz as criancas, fazem uma bagunca!!

Dias destes, domingo 'a tarde, fui tomar um suco la' na casa dos sucos, na saida para Campinas, estava acompanhada do Djalma, lembram? o motorista? entao e' ele, o '' minha'' como chamo o tesao, ele nao gosta de Djalminha, ou e' Djalma ou'' minha'', aceitou e como aceitou, mas so' na intimidade de nos dois, na frente de outros e' Djalma, e to tomando o suco, loca pra levar mais suco, e de longe vejo quem vem chegando, Margo, marido e filharada, tem treis a coitada, tadinha da Margo, sooofreee!! e vem vindo e me ve, arregala quantos olhos tem na cara, da' uma gargalhada e faz sinal e eu e ela ja' vamos pro banheiro, o marido sentou na nossa mesa, a criancada bagucando e eu e ela fofocando.

Nao 'e bom viver assim? Sou feliz assim. Se mudar, estraga, entao deixa assim. ta'bao assim!!!

Ahhh so' para ficarem sabendo como sou honesta, pedi para ver e Djalma me mostrou o papel do divorcio dele, mas isto ja' na quarta ou quinta vez que fomos ''dar uma passeada, um olhada, so' uma olhadinha, heim Djalma? que nao sou mulher de ficar indo a moteis da vida assim 'a torto e a direito nao"", e pensava:- torta nao vou mesmo, vou e' direta e reta, sei o caminho de co'r.

E salteado, vivo salteando.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 22/02/2010
Código do texto: T2101114
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