O Conselho

5:40 da manhã com sol restrito nas barras das montanhas, que deixa o ar com um leve cinza. O celular toca, como despertador, com um refrão de 30 segundos de Sereníssima. E o bichinho não demora a fazer seu trabalho e logo lhe aperta o botão para que se cale.

_Nossa! O bendito dia já chegou? _encara o celular para ter certeza. _parece que nem dormir duas horas.

_Hum! _murmura uma mulher do outro lado da cama num som de sono raso por querer voltar para o profundo.

_Ana, Ana, você pode e lá fazer café para mim? _ dizia Adriano, dando-lhe tapinhas nos ombros.

_Por que você mesmo não faz? Tua mão está quebrada? Todo dia você enche meu saco para fazer uma coisa tão simples. Deixe-me dormir.

Ainda deitado, olhava sua mulher com a respiração forte por aquele momento de exaltação, ainda sem acreditar que ouvira dela. Ao principio foi apenas desapontamento, entretanto, ao começar arrumar-se, como um vinho azedo que vira amargo, foi tomado por fúria vista apenas por dentro. Com calça ainda para abotoar foi para a cozinha e dizia para si mesmo com tom de resmungo.

_Não temos filhos, creio que esta casa não dá trabalho para arrumar, não trabalha fora. O que custa ela fazer café para mim? (...)

Ainda ouve mais de suas lamentações. Sua face ardia que o vermelho palpava de bochechas às orelhas. Ameaçava conjurar palavrões: nomes do mais baixo calão que o vocabulário dispunha; freava na primeira sílaba, talvez no começo da segunda. Seu rosto amarrotava-se por inteiro pelo ato de cancelar em apregoar a sua ira pela a mulher. Remoia todas as palavras como se recicla um papel.

Como um anzol que entra na boca de um peixe, no qual seu instinto simples é pré-sentir a morte que indaga obediência. Que com a afiada ponta de aço entra na fina carne de pouca resistência, assim, o peixe debate-se para tentar sair do metal de boa trempe na boca, que alem de teu curvado, torna mais difícil libertação, pois, a barbela trava-lhe ao inverso ao que penetrou. E no beiço dos botões de Adriano encontrava um anzol encravado. Um anzol que lhe faz tragar do fundo de seu mar.

Em cima de sua bicicleta, pedaladas lentas e pensativas; em minutos queria que o pedal girasse um pouco mais célere. Tentava desviar sua atenção e não pensar na cena de minutos pretéritos e lá ia o miolo ser fisgado pelo anzol.

Quase 7 horas da manhã, já perto de um portão feio de madeirite de uma construção de um prédio pequeno, vê-se livre em transparente distancia ao que deseja, entra e percebe que de nada valeu seu esforço. Boa parte das pessoas com quem trabalha percebe seu estado. Porém agradece em pensamento a todos que questionam entre e si e a si mesmo. Vai até os fundos e coloca sua bicicleta onde sempre coloca. Segue, depois, para onde troca de roupa. Um de seus colegas o questiona por não ter trago seu almoço e o responde, com economia de palavras, que comprará marmitex. Trocado já de roupa, segue alguns passos e percebe algo estranho, volta até sua roupa e apalpa-a; diversas vezes faz o gesto para ter certeza que procurou direito.

Outro anzol lhe é lançado; com o mesmo aço e com mesma arquitetura, porém, de pescadores diferentes; mas com mesma função retirá-lo do mar.

_Ah! Não, não, não, nãããão! Não acredito! _após levar as mãos no rosto sacudiu um pedaço de madeira em sua frente com um soco.

Voltou até sua bicicleta e a pegou, caminhou até o mestre de obra, com semblante de lamento-furioso e explica para ele que irá até sua casa para pegar a chave de um cômodo que é usado para guardar as ferramentas de trabalho, no qual ele é o responsável. Sem pressa ele toma estrada e extrai toda a força de seus músculos e transfere para bicicleta. Anda mais rápido quanto pode.

O primeiro anzol volta a lhe dá mais fisgadas; volta a lembrar das palavras de Ana; reza os mesmo nomes de antes, ele não mantém somente nas metades das palavras; transfere a culpa de tudo às ações da consorte.

Adriano sabe bem o que acontecerá se o engenheiro chegar ao prédio e vê que tantos homens estão parados por erro seu, e muito menos quer ser humilhado, apesar de sua culpa do cometido. O nome do responsável do prédio é Matias, um homem muito estressado, e que não administra bem as palavras pensadas antes de serem ditas à quem quer que seja. Decerto, este era seu segundo anzol e não poderia desvencilhar-se dele com facilidade.

Todas as duas fontes de seu pensamento, em alguns momentos, até as ramificações de cada uma, tornava-se um tornado em sua mente; ocupava certos segundos de atenção, girava para outra como a água evapora, chove, bebem-na, devolvem-na aos esgotos e novamente evapora,... E seu corpo sabia que seu cérebro estava ocupadíssimo, guiou-o e pedalou a bicicleta. Mas um corpo sem cérebro não é nada... O tornado dissipou por aquele breve instante, quando Adriano foi alvejado por dezenas de buzinadas aos seus ouvidos; quase foi atropelado por um carro.

_Meu Deus! Que isso! _Passou as mãos na cabeça e tentou desfazer-se do susto. Começou a andar devagar.

_ Mas que dia horrível! Como minha nuca dói. _Olhou para o relógio e novamente exigiu de sua força para andar rápido.

Os anzóis não se fizeram de frágeis depois do encontro inesperado do quase atropelamento; Adriano fora castigado por eles até e além da porta de sua casa. Ele corre direto para o quarto. Sua mulher ainda dorme. Mas a urgência pediu exigência contratual, que seus passos apressados acordam, em trechos, Ana. Sua procura não é grande, pega a ferramenta dos acontecimentos e sai; não deixa de olhar para a esposa que se contorce despreguiçadamente sobre a cama, que foram olhadelas rápidas; outra coisa requer mais atenção, ou pelo menos nas ações.

Quando, a uma distancia de sua casa, escuta a voz de Ana, mas não entende uma silaba se quer e segue o mais rápido que pode.

Com músculos quentes e enfadados, a velocidade torna-se frouxa; o ar passa quente na garganta; o olho esquerdo se aborrece pelo o salgado do suor que vazou. Em vezes, esquece o corpo e serve ao seu pensamento; segue metros e metros intercalando submissão aos tais deuses. Entretanto, o evento do encontro com seu patrão que é o senhor que mais ordena.

Então, no fundo mar, vê os raios do sol chocar nos montinhos de seu telhado e os mandarem a toda direção. Seu temor percebe que não está tão fundo assim. O carro do engenheiro encontra-se estacionado na frente do prédio. Todos os seus sentimentos sentiam a presença do limite de cada um. O segundo anzol não dava mais fisgadas, e sim, solavancos violentos; o nilon parece está esticadíssimo.

_Ele quase não vem ás... _Adriano olha para o relógio. _ quase 8 horas.

_... O viado, o filho da puta do Adriano... _a voz de Matias podia ser escutada do outro lado da rua.

O trinco do portão faz um som inaudível e o portão é aberto antes que Adriano aperte a campainha. O encarregado aparece com semblante de que nada pode fazer.

_O Homem está parecendo o cão!

O cavalo do coração de Adriano cavalga como a um animal parte para a guerra com um espartano ao lombo. Em seu corpo cansado, quente pulsante descia o suor recentemente refrigerado.

_Toma! Você deixou teu celular cair no chão. Tua...

Não deu nem tempo do encarregado completar o que dizia quando Matias testava todo o poder de seus pulmões e garganta com ofensas sobre Adriano. E o pobre que era admoestado em larga escala de fúria só se via no máximo em ficar calado; em algumas vezes, incitava a si mesmo em dar em explicações. Coisas que pode ser ditas como vãs.

_Seu burro! Por acaso sabes tu quantos homens estão parados por causa de tua idiotice? Vai tomar no teu rabo, teu corno! Filho de uma desgraça! Vai para o inferno com tua sonseira... _Dizia com todo seu vocabulário pejorativo.

O segundo anzol quase lhe arrancava de dentro das águas para que fosse lançado ao ar. Matinha-se nos caibros do telhado do mar da honra, do bom senso, da razão. Unia se de qualquer força e mergulhava em rasas distancias para o fundo; mas lá estava a linha por cantar de tão riste, era puxado por ainda tantas palavras terríveis de Matias. Cansado, Adriano quase ia se entregando, novamente cingia se de força e via que deveria voltar ao fundo de seu mar. Orava para quem o puxava estivesse cansado. O primeiro anzol que só dava pequeno puxões, foi, agora, sentido que havia mais força empenhada para que o levasse para fora. Com pouquíssimas forças, cedia cada vez mais até o ponto em que estava na praia; sentiu-se estranho, desejou o frescor do fundo do mar de sua razão.

Matias estava quase cinco metros de distancia de Adriano; os outros homens estavam um pouco mais longe.

Adriano estava com a face encharcada de sangue. Ele tentou se deslocar, fugir dali, mas enraizado não pôde. Olhou para o celular, mas não enxergou três ligações perdidas. Os xingamentos entravam finos pelos seus ouvidos, já quando dentro, desencadeavam-se numa explosão, e seus efeitos batiam na parede do seu crânio e ressonavam.

Nervos e músculos sacudiam-se de freqüência desordenada, sentia como se crivasse toda sua carne com metais agudos e constantes. Um vergalhão enferrujado, quase dois palmos de sua destra mão, Adriano envolveu a barra de ferro com toda a sua cólera e empregou as suas pernas e braços num avanço rápido em direção a Matias; toda aquela pressão que lhe comprimia vazou num vapor furioso; com a peça chumbada em sua mão, batizando-o com seu suor que descia abundante de seu membro, os passos eram largos e firmes em direção ao seu inimigo. Não conseguia respirar a razão de que tanto lutou para não perder. Os malditos anzóis o puxaram com excelentíssima força.

Agora fora dela, não sabia como se comportar em um ambiente que não domina. Antes exigiu a força de suar pernas, todavia, agora, é seu braço que era ordenado, em um só golpe acerta o lado esquerdo do rosto de Matias e o derruba ao solo; acrescentou-lhe nomes aos que foi, pelo engenheiro, chamado, só que revestidos de um manto mais apropriado. Repetiu tantas vezes o que não queria fazer, mas no momento do açoites, era um errante numa cidade estranha e nada sabia dali. Sufrágios perdidos...

Antes imperceptível, seu celular toca em sua mão. Olha e vê que acaba de receber uma mensagem de texto, ainda com a mão firme no vergalhão, ajoelha e lê o que Ana havia mandado:

_”Liguei para ti diversas vezes e não atendeste. Perdoas-me pelo o que fiz mais cedo, pelas palavras... enfim. Direi mais depois. Amo-te de todo meu coração. Tua Ana.”

O toque de mensagem era da musica Antes da Seis de Legião Urbana e conjunto o pedido de perdão de sua mulher fez com que o primeiro anzol não se soltasse, melhor, o fez forte para, então, voltar para o mar e foi afundar-se cada vez mais; rompeu o segundo anzol com quem toca as cinzas de um papel queimado. Sentia-se um peixe como esplendoroso vigor, nadava para o mais fundo de sua razão, atravessou a camada da inteligência e atingiu o ponto onde se encontra a sabedoria.

Sua mão abandona a força sobre a barra de ferro e o segura com leveza, levanta-se e caminha até Matias e diz:

_Você só não morreu, com este vergalhão está em minha mão, porque eu recuperei a minha razão antes que executasse o que passou em minha mente; nem sei quanto tempo fiquei pensando. Eu acabaria com tua vida e, certamente, com a minha.

Após ouvir a confissão de Adriano, Matias olhava repetidas vezes para os olhos dele, como se procurasse centelhas de que poderia perder, novamente, a razão que acabara de dizer.

_Aconselho-te que pare de humilhar as pessoas com esse teu jeito de falar: essas palavras horríveis, uma voz alta e arrogante. Pois, caso ao contrario, encontrará uma pessoa que não se conterá diante de tua agressão verbal. Eu...

_Ah! Faça-me o favor! Vai pro inferno com teus conselhos. Arrume teus trapos e saia que tu estás demitido. _Disse Matias ainda com a mesma filosofia dantes.

Matias saiu do prédio sem dá as costas para Adriano carregando sua prosa de seu idioma mesquinho.

Questionado com os olhos por uns e sorridentes por outros funcionários, Adriano um pouco mais para frente de onde estava, pegou um tijolo de tantos que haviam empilhados ali, sentou sobre ele e encostou numa parede sem rebocar, já com celular na mão ligou para Ana.

Um estrondo vindo da direção da rua, uma batida de carro.

_Oi meu amor! Recebi tua mensagem... _Disse Adriano para Ana.

_DEGRAÇA DO INFERNO... _Grita Matias lá de fora.

_... obrigado pelo o que me escreveu, salvou minha vida... _confessa Adriano com olhos úmidos.

_FILHO DE UMA PUTA, DESGRAÇADO..._ Insistia Matias com seu dialeto horrendo.

_Meu amor!... Mais tarde a gente conversa...

Matias entra correndo pelo o portão com semblante de um extravagante medo, quase no mesmo instante aparece um homem franzino, pequeno atrás dele com uma revolver em punho e dispara dois tiros. Ana grita o nome de Adriano, apavorada no celular. querendo saber que barulho era o que acabara de escutar.

_Mais tarde eu te explico. Estou bem quanto a isso. Eu te amo! Beijos!

Adriano desligou olhando para o encarregado, que estava à direita, mas já sabia o que aconteceu antes e voltou a ver Matias deitado sobre um pequeno monte de areia, à sua esquerda, e seu sangue saindo de sua boca e unindo aos grãos, de composição básica, de dióxido de silício.