Canções ao vento

Nossos pais são nossos heróis, nossos homens de confiança e nossos maiores amigos. Afirmo isso porque penso que todos os pais são iguais ao que foi o meu. Penso que todos têm a mesma inteligência e o mesmo tirocínio que o meu tinha. Vou contar uma história que aconteceu entre eu e o meu pai para que o leitor possa ficar sabendo o que eu quero dizer com a afirmação da primeira frase dessa narrativa.

Eu nasci em 1959 e, aos 7 anos de idade, já entoava os meus primeiros acordes musicais no violão. Na década de 60 ocorreram os movimentos musicais da Jovem Guarda e da Tropicália, no Brasil e, no exterior, brilhavam Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones. Na década de 70 conheci o resto da Música Popular Brasileira. Então, aos poucos, fui aperfeiçoando-me na arte de tocar violão e de cantar, chegando a formar um Grupo Musical que apresentava-se em shows beneficentes como, por exemplo, show para as mães – no “Dia das Mães” –, no auditório da Escola onde eu estudava, na minha Terra Natal.

Então, chegou num determinado momento em que eu disse ao meu pai:

"Pai, quero ser músico, cantor e compositor".

Ele respondeu-me:

“Filho! É melhor você escolher outra profissão porque é muito difícil sobreviver como músico em Santa Catarina”.

Após o “Velho” dizer-me isso, ainda na minha Terra Natal, uma Banda Musical profissional que tocava em bailes, chamada “Os Bravos”, cujo líder era conhecido por Toninho, procurou-me e convidou-me para integrar o seu grupo musical e tocar em bailes nos clubes da minha cidade natal; recusei o convite pelo fato de o meu pai ter dito aquilo, ou seja, que eu não conseguiria sobreviver como músico em Santa Catarina e, assim, fiquei achando que a atividade musical profissional, naquele momento, poderia até vir a prejudicar-me nos estudos do ensino médio. Respondi, então, ao Toninho, “que a música para mim sempre havia sido um hobby e que ele me desculpasse porque, por essa razão, eu não aceitaria o convite”. O Toninho ainda afirmou: “Cara, mas tu já vais começar a ganhar o teu dinheirinho como músico. Tens certeza, mesmo, que não queres”? Eu respondi: “Não, não quero. É que estou preparando-me para, futuramente, fazer vestibular e cursar alguma faculdade. Sinto muito, desculpe-me! Mas aproveito para agradecer-te pelo convite. Estou sentindo-me muito honrado. Obrigado”!

Conforme constata-se, percebe-se que aquela afirmação do “Velho” teria ficado gravada em minha memória. Anos mais tarde tornei-me adulto e tinha que decidir sobre qual carreira seguir. Então eu pensei: “Bem... qual a profissão que eu vou exercer? Após a devida reflexão, concluí: “o meu pai é advogado e criou os filhos com essa profissão. Vou seguir o mesmo caminho dele para sobreviver com a mesma dignidade que ele vive e que proporciona aos filhos sem, no entanto, deixar de compor, de poetar, de cantar e de tocar violão, porque essas artes é que são, verdadeiramente, as minhas paixões e os meus ofícios”.

E assim aconteceu. Posteriormente, fui aprovado no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina para o curso de Direito e comecei a estudar as leis como o meu pai, que sempre as estudou muito e, por isso mesmo, sempre foi um homem respeitado e considerado um grande causídico nas cidades localizadas ao sul de Santa Catarina, onde atuou e prestou serviços relevantes por 43 (quarenta e três) anos.

Mas mesmo cursando a Faculdade, eu continuava praticando a arte musical sempre que possível, nos momentos de folga ou de lazer. O “Velho”, então, ao constatar isso, e quando percebeu que eu já estava na metade do curso de Direito, deu-me de presente um violão impecável, lindo, que eu guardo e toco com muito carinho até hoje pois foi o melhor presente que eu poderia receber dele. Após o seu falecimento, esse violão que ele presenteou-me tornou-se uma espécie de “troféu”, simbolizando a vitória da arte.

Grande pai! Artidônio Ramos Fortes era o seu nome.

Atualmente, então, sigo o meu destino com meus violões, cantando, compondo e poetando canções ao vento.