Com bêbado não se discute

No nordeste brasileiro as festas juninas são comemoradas com muita alegria, aguardadas durante todo o ano. Neste período as pessoas adquirem roupas e calçados novos, viajam especialmente para o interior onde as festas são um encantamento.

Em uma destas viagens fomos de ônibus. A rodoviária de Salvador é pequena, em períodos festivos se torna insuportável, pela quantidade de gente. Estávamos sufocados, angustiados com tanta bagunça, calor, com mala pesada, criança no colo, um momento delicado.

Meu marido estava nervoso, arrependido da decisão de utilizar o ônibus. Em certo momento um bêbado começou a falar besteiras, irritando quem estava próximo.

No momento que passávamos pela roleta que adentrava na plataforma o tal do bêbado desejou nos ajudar com as malas, coitado, creio que não agüentava nem com ele. Meu marido foi implícito em rejeitar a ajuda, o bêbado se sentiu ofendido e começou a falar todo enrolado:

- Oia aqui, quem oce ta pensando que é ! Por que não está querendo minha ajuda? Oce é um cara orgulhoso, já te conheço !

Meu marido que também tem sangue quente respondeu de imediato:

- Cala esta boca !

Ai o bêbado ficou mais nervoso, nos seguiu até o ônibus falando besteiras. Ficamos calados. Nenhum guarda apareceu, estávamos realmente sozinhos no meio daquela multidão.

Localizamos o nosso ônibus, tratamos de despachar as malas e adentrar para ficarmos longe daquele insuportável ser. Eu sentei em um banco com um filho no colo, o outro na janela. Meu marido no banco de trás com o outro filho.

Indignados fomos surpreendidos por aquele homem adentrando no nosso ônibus, agredindo verbalmente o meu marido, e agora estava portando uma arma.

Imediatamente me coloquei na frente daquele homem insuportável. Eu estava com meu filhinho de apenas nove meses de idade, me levantei do jeito que estava. senti no meu coracão que ele iria se sensibilizar comigo. Foi a minha intuição para salvar meu marido, porque o bêbado estava descontrolado dizendo que ia acabar com ele. Sempre fui corajosa, não hesitei em clamar que parasse com aquilo.

O bêbado falava assim:

- Dona, se não fosse a senhora e esta criança eu acabava com este sujeito. Por que ele não queria a minha ajuda ? Ele não vale nada, eu sou um militar aposentado, ele tem que me respeitar... tem que me respeitar. Bla bla bla !

Eu dizia ao bêbado:

- Pelo amor de Deus, vá embora. Meu marido nao teve intenção de desrespeitar o senhor. O meu marido é um bom pai, trabalhador, o senhor não pode fazer isto. Vai estragar sua vida senhor e a nossa também. Veja as crianças como estão assustadas ! Um deles começou a chorar. Ainda bem que o pai de meus filhos optou por nao falar mais nada, apenas eu e o bêbado falavamos.

Finalmente o bêbado disse que ia embora, mas apenas por minha causa e por causa das crianças. Saiu do ônibus da mesma forma que entrou, ninguém se manifestou a nosso favor, se houvesse um tiro naquele dia seriamos mais uma família vitimada por uma tragédia, mais filhos órfãos, mais uma viúva.

E ninguém fez algo por nós naquele momento. Deus esteve conosco, apenas "Ele".

O ditado realmente faz sentido: Com bêbado não se discute, é necessário tomar cuidado com as palavras quando falar com eles.

obs:

O bêbado afirmou ser um militar aposentado, se MENTIU não sei !

Em aeroportos se tem controle de metais e armas, em rodoviárias e trens afirmam ser impossivel. Será ?

Marina Gentile
Enviado por Marina Gentile em 15/02/2010
Reeditado em 21/06/2010
Código do texto: T2088181
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