Conversa Entre Amigos

Seus olhos não se olhavam. Nem se tocavam seus cílios. O clima cinza em volta banha-os de uma imensidão branca. No entanto, percebe-se que ambos estão para explodir, e o mais leve toque faria com que um se curvasse sobre o outro em lágrimas. Suas almas estavam cheias de sensibilidade, e para tanto, ambos olhavam o horizonte.

Cada um tinha em si mil palavras a correrem soltas pelo cérebro, e a cabeça inflava; bastava uma abertura na boca para esvaziar esse turbilhão de pensamentos; mas, cada um calava-se como que a saber até onde agüentariam guardar este algo a explodir dentro de si.

O primeiro a dar um gesto foi Maurício, ao mover a bunda sobre o banco e ajeitar sua sentada. Logo, Rodolfo também se ajeitou. Maurício pôs-se a bater nas pernas com as mãos em companhia de ritmo, e soltou um sorriso feito de lembranças. Rodolfo não conseguiu sorrir, e a mudança carregada de diversas ações do amigo o incomodou, a ponto de faze-lo correr dali... daquilo... daquele instante... E foi o que fez. Levantou-se abrupto, e percebeu que o amigo paralisara e silenciara os batuques. Mauricio pensou em gritar, ou impedi-lo de alguma forma, mas sabia que Rodolfo, hoje, pusera uma parede entre seu coração e o sol, e por mais que este brilhasse mais alto! Mais forte! Aquele não sorriria por qualquer brilho entre as brechas; o melhor é deixa-lo recompor-se sozinho... sozinho...

"Mil pensamentos! Mil pensamentos! Né Rodolfo!? E para onde tu caminhas? Por que ainda caminhas? E quanto mais tu caminhas, tu só encontras a solidão, e o debater-se com tu, como se estivesses trancado num quarto de paredes brancas, e a única forma de cessar tua angústia e o vazio no peito é, se não, debater-se de um lado a outro na parede, na parede. E se jogar, jogar o corpo, quebrar os ossos, quebrar as pernas. Mas, tuas pernas, são feitas dóssos, mas tua alma, teus pensamentos, são fragmentos, de tua alma, corpo invisível e infinito, corpo invisível e infinito.

Assim, tu cessas só quando teus ossos já não mais agüentam, e tu cai morto em sentimentos, teus sentimentos que não se agüentam, e só se amoldam ao dia triste e ao dia cinza, em que tu caminhas sobre. E os ladrilhos, ladrilhos ocos, em que tu pisas, sem segurança, e se afunda na escuridão e no abismo que são; teus pensamentos... teus pensamentos..."

O telefone toca, e Maurício está no décimo sono. Sua mãe bate na porta, e o bater na porta o afunda mais à cama. Maurício! Grita sua mãe. E ele com raiva levanta e vai até a porta gritar: Que é!!!!??? - É telefone!!! -. Sonolento ele diz alô e ouve do outro lado uma voz sem voz, silente e triste. É a mãe de Rodolfo. Ele precisa falar mais alto: Como!? Para que ela altere a voz e fale mais alto e pausadamente:

RO-DOL-FO-ES-TÁ-MOR-TO!!

Mauricio larga o telefone, e o chão sob si se desfaz... As lágrimas vêm sem pedir licença e banham seu corpo devagar... Sua mãe se desespera e vai ao telefone...

Pi pi pi pi pi pi

Todos foram embora. Maurício está sozinho sobre a cova do amigo. Move a bunda e ajeita sua sentada; põe-se a bater nas pernas com as mãos em companhia de ritmo... À companhia de lágrimas... que banham seu sorriso, meio sem querer, meio sem abrigo... então lembra do amigo...

- Por que ele teve de se matar? Por que tive que matar a voz de mim? ela o teria salvado...

Lucas Rolim

23/11/2009

Lucas Rolim
Enviado por Lucas Rolim em 13/02/2010
Código do texto: T2085990
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