GENOT
A solidão assusta sempre, mesmo aos mais desavisados da sua existência. E Genot nunca gostava de estar sozinho. Era nele um sentimento e um traço de sua personalidade que não revelaria a ninguém, tamanha era a força e alegria que fazia questão de expressar.
Não era um rapaz de rosto admirável, entretanto não era feio. Aproximava-se dos trinta anos, mas aparentava mais idade.
Genot encontrava-se no que ele achava ser "um momento decisivo" de sua vida. Há pouco tempo tinha ganhado uma quantia bastante significativa num jogo de loteria e permanecia em silêncio sobre este segredo íntimo e valioso.
O que aconteceria dali em diante e todas as possibilidades de felicidade, que ele julgou serem egoístas, a culpa e dor do trabalho sem fim pela falta de dinheiro, tudo deixaria de existir.
Até mesmo o cansaço de anos pela aquisição da intelectualidade - de universidade em universidade, graduação em graduação - parecia-lhe um alento que deixasse de existir agora. Nunca havia mesmo visto o valor e propósito de tudo aquilo que aprendera e se a vida acadêmica lhe aconteceu, foi pela facilidade que encontrou em estudar a ter de trabalhar no pesado. Sabendo ser pobre não poderia se atrever a ser burro também. "SERIA MUITO MAIS DIFÍCIL".
Na consumição por alcançar a absoluta verdade da vida, teria Genot experimentado vários modos de viver e de ser o que lhe aprazia, se lhe despertasse certo espanto ou curiosidade. Mas agora a estabilidade dos instantes acobertava-o e se o protegia era notadamente um modo novo de tentar lidar com o desconhecido: O AMOR.
Poder cumprir uma rotina somente sua, sua e de mais ninguém era algo de que não se desfazia. Havia algum tempo que morava sozinho e se alguém lhe ensinou o jeito certo de agir e reagir aos acontecimentos, se por acaso tivessem lhe ensinado a cumprir uma rotina comum, de certo o adestramento falhou.
A LIBERDADE. O LIVRE AGIR. Era isto que Genot queria ter, uma vontade que ano após ano não lhe saía da cabeça. Quem sabe seja este realmente o momento decisivo.