LUGAR COMUM

...Era mais uma sexta como outra qualquer. Lá estava ele de novo, sentado no banco da rodoviária, com os braços cruzados, perna esticada e um olhar sem expressão. Olhava as centenas de pessoas que passavam de um lado para o outro tentando imaginar qual seria o destino delas. As sextas se repetiam, mas os passageiros nunca eram os mesmos. Apenas ele era fiel. O mesmo banco, a mesma hora, o mesmo dia. Nunca se conformou em não conhecer a história de cada um que cruzou seu caminho, e isso o atormentava. Olhava uma pequena família que parecia ser pobre demais e se perguntava porque a vida deles era assim. Por vezes, pensava que outros eram ricos pra estarem ali viajando de ônibus. Era apenas especulação e foram raríssimas as vezes em que arriscou trocar palavras com alguém. Era tímido!

O tempo passou. O velho relógio marcou 21:15 e a moça de voz "aveludada" que ele sempre sonhara conhecer avisou que faltavam apenas 15 minutos para a próxima partida. Era a sua, e como de costume levantou-se, foi ao banheiro, mesmo sem vontade, olhou-se no espelho, lavou o rosto e as mãos e saiu. Foi para o ônibus e sentou-se a janela. Sempre esperava que uma linda mulher viesse sentar-se ao seu lado. Imaginava seu rosto, seus cabelos loiros, seu corpo e tinha quase certeza de que se chamaria Renata. Eles conversariam, trocariam telefone, marcariam um encontro romântico e por fim se casariam em algum fim de tarde. Mas até aquele momento não havia tido sorte e apenas continuava especulando da janela sobre as pessoas que ali estavam. O ônibus saiu. Passou pelo centro da cidade, parou nos mesmos sinais e seguiu pelo caminho que ele faria de olhos vendados, até que enfim chegou à estrada que o levaria ao destino de sempre. Não havia mais nada a observar, apenas a escuridão da noite e alguns faróis, então adormeceu. Isso não era problema, afinal na próxima sexta ele estaria ali novamente. Talvez tivesse algum sucesso em desvendar aquilo que não entendia. Talvez entendesse a história de todas aquelas pessoas e assim, quem sabe, mudasse a sua...

Catavento
Enviado por Catavento em 09/02/2010
Reeditado em 16/03/2010
Código do texto: T2078309
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