Três amigos e um destino
Tiago, Mateus e Pedro eram amigos e viviam no mesmo bairro. Estavam sempre juntos. Tiago e Pedro tinham 16 anos enquanto que Mateus apenas 14.
Tiago e Pedro desde os 13 anos faziam uso de drogas como o álcool e a maconha. Tiago fazia algumas fitas (pequenos furtos) de vez em quando para nos finais de semana, comprar cocaína e partilhar com Pedro.
O pai de Tiago faleceu quando ele tinha apenas 8 anos e como sua mãe trabalhava para o sustento da casa e não tinha onde deixá-lo, ele ficava o dia todo na rua.
Pedro, embora tivesse pai e mãe tinha uma família desestruturada. Seu pai era alcoólatra e assim não se importava com os filhos, transferindo toda responsabilidade para esposa, que por sua vez, não exercia muita vigilância com Pedro, deixando-lhe completamente à vontade.
No caso de Mateus, seus pais viviam atentos a sua educação. Embora fosse um adolescente muito interativo, no entanto, sempre escapava dos pais para ficar brincando de soltar pipa e jogar bola com os colegas numa quadra perto de sua casa. Ele conhecia Tiago e Pedro, porque eram vizinhos.
Tiago não estudava, ficava o dia todo na rua e vivia de pequenos furtos. Era comum estar sempre com roupas de etiqueta e com quantias altas de dinheiro na carteira. De vez em quando, Tiago desaparecia por dois ou três dias e logo voltava ao bairro exibindo roupas e tênis novos aos seus colegas.
Como Tiago era muito amigo de Pedro, sempre dividia com ele as drogas que consumia, como a maconha e bebidas. De vez em quando dava alguns papelotes de cocaína a Pedro e os dois ficavam malucos, fazendo muita bagunça no bairro. Todos os finais de semana faziam churrasco, regado de muita bebida e drogas, que consumiam junto com os amigos na casa de Tiago. E ali ficavam até altas horas.
Pedro, com o tempo também foi se tornando dependente, as drogas que seu amigo lhe dava já não eram suficientes. Como não conseguia roubar e tinha muito medo de levar tiros ou mesmo ser preso, Pedro para manter o vício passa a repassar drogas.
O traficante do bairro se valendo do estatuto da criança, usava Pedro como laranja, isto é, dava-lhe uma porcentagem em drogas e em troca Pedro as repassava, aliciando e conquistando mais pessoas para a venda de drogas.
Foi neste período que Mateus também acabou conhecendo as drogas. Como sempre viviam brincando na quadra, certo dia Pedro com uma porção de maconha, convidou Mateus para ir soltar pipa num terreno baldio. Pedro acendeu um cigarro de maconha e começou a fumar. Mateus muito curioso começou a fazer perguntas e mais perguntas sobre o cigarro e ficou com vontade de experimentar.
Logo que Mateus deu o primeiro trago viu tudo rodando, ficou totalmente alucinado e foi embora assustado para casa. Porém com o passar do tempo, sempre estava à procura do colega para serrar cigarros de maconha e Pedro sempre lhe dava, até que determinado dia Pedro já percebendo que Mateus estava dependente, disse que não poderia mais dar de graça, se quisesse teria de comprar e o preço seria de apenas R$ 3,00 reais, cada cigarro.
Com o tempo Mateus também passou a usar drogas continuamente, mudando de comportamento em casa. Deixou de ser um garoto obediente e já andava agressivo, rebelde, não ficando mais em casa. Ficava somente na rua. Mesmo os pais vendo aquela mudança brusca de comportamento do filho, imaginavam que aquelas atitudes não passavam de uma fase, coisa da adolescência. Mal sabiam seus pais, que seu filho estava nas drogas e que mesmo sem eles perceberem, Mateus já trocava roupas e CD’s por maconha e de vez em quando cocaína.
O tempo foi passando e quando a família de Mateus se deu conta, o filho já tinha dezoito anos, já era adulto e estava completamente dependente das drogas sem possibilidade de retorno. Os pais haviam perdido o controle do filho.
Tiago, Pedro e Mateus eram grandes amigos e viviam sempre juntos. Gostavam de baladas, viajavam pela redondeza todos os finais de semana, sempre em festas com garotas que também consumiam drogas – alias, eles drogavam as garotas.
Embora fossem muito amigos, cada um deles procurava obter drogas de maneiras diferentes. Tiago estava completamente envolvido na criminalidade, sempre assaltando. Vivia constantemente armado, mas como era muito esperto, sempre conseguia sair dos cercos policiais. Quando era preso, pagava propina aos policiais ou através de bons advogados, conseguia se livrar da cadeia.
Já Pedro se mantinha nas drogas, como sempre fez em toda sua adolescência. Tinha uns amigos traficantes os quais comprava drogas e repassava para sua clientela. Sempre iniciando novas pessoas no vício e mantendo o consumo dos dependentes que ele mesmo fizera. Procurava sempre aliciar mais adolescentes meninas que meninos.
Por fim, Mateus como era um jovem de boa aparência e muito simpático, tornou-se garoto de programa, usando de sua aparência física e de ser um jovem muito "sarado", para facilmente conquistar com seu jeito, homens e mulheres de idade mais avançada, a fim de que o sustentassem tanto com as drogas como com dinheiro para suas baladas.
Certa vez, houve um assalto num supermercado na cidade. Sem que os assaltantes percebessem, o proprietário conseguiu acionar a polícia, que chegou no momento exato do assalto. Houve troca de tiros onde um dos assaltantes veio a falecer no local e o outro ferir-se. Quando o policial tirou o capuz do assaltante morto constatou que era Tiago, que havia falecido na troca de tiros.
Pedro e Mateus ficaram extremamente abalados com aquele acontecimento, pois eram amigos desde a infância. Mesmo os dois já sabendo que era esperado isso vir a ocorrer, devido Tiago estar muito envolvido com assaltos e roubos na região, a morte do amigo abalou-os profundamente.
Policiais já andavam no encalço de Pedro, pois muitos já sabiam que ele era traficante e que era o responsável pelo repasse de drogas aos jovens daquele bairro onde morava. Logo após Pedro ter recebido drogas do traficante de uma outra cidade, vinha tranqüilamente em seu carro quando foi abordado por várias viaturas da polícia – que chegaram até ele por denúncia anônima. Ao revistarem seu automóvel, encontraram vários papelotes de maconha, cocaína e crack. Pedro foi enquadrado no artigo 12 do Código Penal, sendo condenado a 7 anos de prisão.
Durante o tempo em que Pedro se encontrou preso, pode refletir sobre sua vida e todo mal que havia feito aos outros. Lembrou de quantos adolescentes havia transformado em dependentes e também pode perceber o quanto ele próprio estava dependente das drogas.
Com a prisão, Pedro havia se endividado. Estava sem dinheiro para pagar os traficantes, seu maior medo era ser morto – como de fato aconteceu. Certa vez, um traficante conhecido seu fora preso e por coincidência no outro dia Pedro amanhecera enforcado no banheiro. Até hoje não se sabe a verdade sobre sua morte, se foi suicídio ou se ele foi morto pelo traficante.
Com a morte de Pedro, Mateus havia perdido dois amigos e isto o abateu profundamente. Embora eles vivessem na marginalidade eram grandes amigos. Porém, infelizmente as drogas estavam levando-os a ter o mesmo fim.
Certa vez, Mateus já com seus trinta anos, dependente químico e ainda usando o sexo para sustentar as drogas e se manter materialmente, começa a sentir algumas tonturas, dores e a emagrecer continuamente. Procurou um médico. Este lhe recomendou fazer vários exames laboratoriais. Qual foi sua surpresa! Quando teve a noitícia que era soro positivo! Mateus havia contraído AIDS.
Naquele momento foi como sua vida houvesse acabado. Mateus entrou numa profunda depressão. Não queria se medicar e não queria mais viver. Tentou por várias vezes o suicídio. O que lhe deu muita força foi sua família – embora Mateus houvesse mergulhado nas drogas, usado da prostituição para se manter, fazendo dela um estilo de vida, a família nunca o abandonou e neste momento deu-lhe todo apoio para superação da doença, como sempre fizera no passado.
A partir da AIDS, Mateus refletiu sobre sua vida, pediu ajuda para se libertar das drogas, já que ela havia sido toda a causadora daquelas enfermidades e também da morte de seus melhores amigos. Participou de grupos de ajuda, teve apoio da família; procurou ajuda de profissionais especializados da saúde, até que conseguiu vencer as drogas. Porém, não conseguiu vencer a doença da AIDS. Após cinco anos limpo e sem jamais ter voltado às drogas, procurando neste tempo, ajudar jovens e famílias com problemas relacionados às drogas e AIDS, Mateus veio a falecer.
E assim terminou a história de três amigos que eram diferentes, tinham personalidades diferentes, mas algo em comum: as drogas e seus finais. Morreram precocemente.