Meu primo HEINRICH
Assim como todas as pessoas eu tenho primos, e vários deles. Mas entre tantos deles tinha um especial.
Magrela, pálido, mas sempre com um encantador sorriso, meu primo Heinrich parecia uma vela... tinha mais ou menos a minha idade, sempre deitado numa grande e velha cama, nunca estava conosco( eu e meus outros primos) em nossas aventuras de criança. Por qualquer coisa ele chorava, mas bastava um simples toque de minhas mãos para que a paz voltasse a reinar e um novo sol nascer em seu rosto. Comigo era sempre diferente, eu lhe era a mais querida e a menos ofensivo. Heinrich não tomava banho de chuva, não subia os montes de areia do vizinho como costumávamos fazer. Tudo lhe fazia mal ou lhe causava alergia. Isso me fazia ter por ele um cuidado e um carinho todo especial...
Adorava brincar com seus brinquedos, entre vários, sua tartaruguinha de pelúcia que por sinal também lhe era a favorita. Certa vez fui presenteada com um pequenino jabuti, que logo foi atribuído à meu amado primo como sinal de grande apreço e para que esta também lhe servisse de companhia quando eu não pudesse estar com ele, pois com a mudança de minha família para um interior distante as minhas freqüentes visitas já não seriam tão freqüentes.
Quando fui me despedir do meu anjo seus lindos olhinhos demoraram em cima de mim, sua mãozinha era incessante sobre meu rosto parecia me pedir algo, parecia pedir que não o ficasse longe por muito tempo. Mas não tive tempo de lhe prometer nada, uma mão grande e mais forte que a minha ma arrastara daquele mundinho escuro e frio (era assim que o quarto de Heinrich ficava por que ele gostava dessa forma). E assim minhas saudades só aumentavam a cada dia.
Alguns meses depois quando eu retornava da escola fui abordada por meu irmão caçula que me trazia uma noticia insuportável aos meus ouvidos e principalmente ao meu pequenino coração: Heinrich havera adormecido para se tornar estrelinha. Meus pés não tinham forças para continuar a caminhada até minha casa.
Depois de muito implorar para meus pais, fui ao encontro de meu querido, frágil, favorito e adormecido primo. Lembro-me perfeitamente das imagens daquele fúnebre dia: deitado em seu pequenino caixão branco com listas azul celeste, cheio de flores, um anjo de longos cachos e rosto límpido e ao sons de belos hinos de louvores chorei incessantemente sua partida.
Ainda hoje, ao me deparar com enterro de crianças, meus olhos destilam dolorosas e saudosas lágrimas, talvez sejam por meu primo Heinrich ou pela culpa que carrego comigo de não estar com ele quando precisou de mim...