Mona 04
Mona contemplou a vista da turbulenta avenida de dentro de sua janela do ônibus. Aquela devia ser a quarta ou talvez a sexta viagem que ela fizera naquela tarde. Seu trabalho exigia flexibilidade para movimentar-se por onde quer que fosse, mas ela não tinha o melhor salário. Ao menos Mona não conseguia um carro próprio.
Apesar de ela sempre dar um jeito, dobrando e desdobrando-se para a inevitável jornada do trabalho, aquela tensão toda esvaía-se da cabeça de Mona sempre que esta propunha-se a caminhar.
Muitos poderiam afirmar que as caminhadas sempre foram opções saudáveis e prósperas, mas a mulher chamada Mona pensava de um jeito mais simples: ela apenas gostava daquilo, de sentir o vento acariciar os poros de sua pele, passar por seus cabelos levemente ondulados. E a sensação do suor e do cansaço esvaindo-se por todo o corpo, da cabeça aos pés, era milagrosamente aliviadora.
E a paz de Mona era também sua felicidade. Seu sorriso galanteador conquistava o sol, fazendo as senhoras do parque se lembrarem de sua infância, quando passeavam pela cidade numa caminhada similar a de Mona, mas com menos velocidade e brilho satisfatório.
Aliás, era um momento tão especial e tocante para Mona que seus ouvidos captavam os sons da natureza: flores abrindo-se à primavera, o bater de asas do beija-flor e também a sola de seus tênis tocando a grama leve e esverdeada.
Mas não era apenas isso que Mona presenciava em tal aventura diária. Seu maior segredo - considerado por ela um talento - era saber escutar os sussurros do vento ao seu redor enquanto seguia a caminhada. Era um som muito relaxante que sempre se dirigia a ela com o seguinte dizer:
- Você nasceu para isso. Você é uma corredora nata.