Homem Onírico
Sonho dormindo que acabara de acordar de um sonho. Uma morena com nádegas enormes deita ao meu lado. Ela chega mais perto, mais perto ainda, agora gruda. Tem mais gente no quarto. Não sei se é homem ou mulher. Quando a porta fecha ela sobe em cima de mim e começa a cavalgar.
“ Não é melhor tirarmos a roupa ”, eu digo.
“ Fica quieto ”, respondeu.
Ela continua cavalgando como um touro forte e gira a mão como se tivesse uma corda pronta para laçar-me. Seus olhos são castanhos e tem um rosto liso sem nenhuma cicatriz. Uma linda mulher, de personalidade, conquistadora, sabe o que quer. Ela cansa e percebe que não estou excitado.
“ Vamos peão, domina seu touro! ”, diz ela.
“ Acho melhor tirarmos a roupa. ”
“ Você não é um peão de verdade ? ”
“ Não, eu não sou ”, digo.
“ Quero brincar com você, meu boy. ”
“ Tira a roupa que eu conheço uma brincadeira ótima. ”
“ Como se chama ? ''
“ Pega-pega. ”
Escuto baterem na porta e chamarem por um nome que desconheço. Ela faz sinal de silêncio. Logo depois ela pega no botão da minha calça e abaixa o zíper. “ Gosto de homens que dormem de calça. ” Ela tira o meu pau para fora e beija-o. Sua boca é suave e fria. Seu olhar é de menina decente, imaculada de quem ainda adora brincar. “ Sou uma menina comportada, papai... Mereço um carinho.” Viro ela de costas encaixando seu corpo no meu. Acaricio seus seios. Enorme seios, duas geléias saborosas. Que bom não estar sonhando. Dispo ela inteirinha. Tem lindas pernas, um tesouro coberto por um jeans barato. Quando fiquei nu, pronto para começar a brincadeira, escuto baterem na porta novamente.
“ Merda, isso são horas! ”
“ Barbosa, preciso falar com você. ” Desta vez reconheço meu nome e acordo.
“ Quem é ? ”
“ Sou eu, Alfredo. ”
Quase acreditei que estava sonhando. Sempre na melhor parte de um sonho eu acordo ou me acordam. Só poderia ser mentira mesmo. Eu me lembro, quando ela chegou, eu já havia acordado de um sonho. Porque estaria sonhado de novo. Alfredo estragou tudo.
“ O que você quer, estraga prazeres ? ”
“ Desculpa-me acordar você a esta hora, mas precisamos de você na empresa. ”
“ Estou de folga hoje. ”
“ Eu sei, mas o Pereira faltou e estamos sozinhos. Por favor, Barbosa, ajuda a gente. ”
“ Você sabe que em dia de folga eu ganho o dobro se trabalhar. ”
“ É claro que sei. Depois do serviço pagarei umas cervejas pra nós. ”
“ Fechado. ”
Depois da labuta imprevisível, caminhamos até o bar do chico. Alfredo é um homem de palavras. Era o chefe do meu setor na empresa, um flamenguista roxo. Gostava de mandar e dar conselhos. Seu tempo de serviço ultrapassava os vinte anos e faltou apenas quando esteve com síndrome de cotard, uma doença rara que causa depressão extrema. Depois de ter sido baleado no ombro, Alfredo pensou que havia morrido e chegou a comprar seu próprio caixão. Vivia como um cadáver ambulante e achava que todos à sua volta também estavam mortos. Ele sentia sua carne apodrecendo e vermes passeando pelo corpo. Na fase final da doença, teve idéias megalomaníacas, como a crença na própria imortalidade. Depois de um longo tratamento com doses diárias de “Antipsicótico Olanzapina ”, restabeleceu suas atividades normais dentro da empresa. Era um homem que vestia a camisa e suava pelo seu salário dia após dia. Quando nosso patrão não estava na empresa, Alfredo contava piada e matava o tempo jogando conversa fora, mas com a presença do chefe, ficava um chato insuportável e intolerante. Tinha um fusca preto apelidado de “ diamante negro ”, era apaixonado pelo carro, capaz de troca-lo até por sua esposa. Jamais um amigo dele o dirigiu.
“ Não posso voltar tarde, Barbosa. Minha mulher está gravida, você sabe. ”
“ É, e quem é o pai ? ”
“ O vizinho que não é, isto eu tenho certeza. Ele é uma bicha. ”
“ Você não gosta dos gays? ”
“ Nada contra. E você ? ”
“ Eu não gosto daquelas bichonas indecentes, desvairadas e barraqueiras. São piores que biscates de rodoviárias. ”
“ Tô louco, Barbosa. Deixem eles esquentarem o rabinho em paz. ”
“ Poderiam ser mais discretos, você não acha? ”
“ Eu acho que você deveria arrumar uma mulher pra se casar. ”
Engasgo bem na hora de mandar a cerveja para goela.
“ Desta vez você pegou pesado, Alfredo. ”
Na verdade, sentado naquela mesa, eu não conseguia parar de pensar naquela morena estonteante. Parecia tão real o sonho que seus traços eram perfeitos na minha imaginação. O perfume do seu cabelo, aqueles olhos firmes nos meus, aquela boca agradável e grande. Tinha a pele macia e gostosa. Uma formosura de contemplações mística bem mais além dos meus desejos oníricos. Eu delirava só de pensar. Uma obra perfeita, primorosa. Eu era o poeta e ela a poesia. Quero voltar a dormir para sonhar com ela novamente.
“ Barbosa, está pensando em quê ? ”
“ Am...ah!...sei lá, cara... Contas, problemas, sabe, coisas desagradáveis. ”
“ Você está precisando de algo, dinheiro, conversar?.. sei lá, cara, você parece incomodado com alguma coisa... Pode falar, meu, sou teu amigo.”
“ Preciso realizar meus sonhos. ”
“ Quem não queria... Comprar um apartamento, carro, chácara, barco... Todo mundo quer realizar seus sonhos. ”
“ Não quis dizer sobre esse tipo de sonho, Alfredo. ”
“ O quê então? ”.
“ Ah, esquece... Você nunca irá entender. ”
“ Barbosa, ninguém nunca irá te entender. ”
“ O garçom me entende, quer ver ?.. Ei, amigo!
" mais uma ? ", respondeu o garçom.
" E GELADA! "
“ Tá vendo, o garçom me entende. ”
“ Você é louco Barbosa. ”
“ Obrigado pelo elogio. ”
“ Vou ao banheiro. ”
Alfredo parecia solidário. Queria retribuir o favor que fiz a ele. Apenas isso. Nada de compaixão. Ninguém se oferece para ajudar alguém em troca de nada. Com o amor acontece a mesma coisa. Você me dar amor e eu te retribuo com o mesmo ou os seus coadjuvantes, ódio, gozo, prazer, necessidade, medo, amizade. A humanidade é dependente. Desde o nosso nascimento somos dependentes.
“ Você pode me arrumar um cigarro? ”
“ Meu deus, é você! ”
“ Ficou com saudade, meu boy ? ”
“ Achei que nunca mais fosse te ver. ”
“ Que bobagem, nem terminamos a nossa brincadeira. ”
“ Pensei muito em você. ”
“ Tem alguém na sua casa? ”
“ Não, não tem ninguém. ”
Lá estava ela novamente deitada na cama. A morena dos meus sonhos. Eu sabia que era verdade. Ela existia. Podia sentir seus lábios tocando no meu. O gosto salgado e fresco de sua pele. Carne. Tinha muita carne. Grandes nádegas. Suas pernas também eram lindas, grossas, firmes. Tinha coxas de atleta, de uma mulata passista carnavalesca. Só não gostava dos seus pés. “ Fica de meias, meu amor. '' Mas seu abdome era perfeito. Comecei despi-la novamente, mas agora era verdade. Fiz diferente desta vez. Tirei sua calça primeiro, pois eu já tinha conhecimento daquelas admiráveis pernas. Queria olhar pra elas de novo. Era capaz de ficar horas olhando para aquelas pernas. “ Você não tem fome ? '' Estávamos sozinhos no divã, nenhum intrometido safado pode estragar este momento. “ Pronto meu boy, agora venha...sou todinha sua.” Fui. Sem medo. Sem vergonha. Decidido e ousado. Nossa volúpia se exaltava sentindo o lume dos nossos corpos grudados, melados, lambuzados. E era apenas o começo. O começo do amor, o começo do desejo, o começo de uma nova vida. Pude acreditar na essência...
“ Ei, Barbosa?...Barbosa, acorda! ”
“ Am...porra! Alfredo. Você de novo! ”
“ Cara, você tá babando aí na mesa... Tava sonhando ? ”
" tava? ''... DROGA!