A Casa da Pequena Varanda
Como não perceber a velha casa da Rua das Amendoeiras. Todos percebiam. Uma casa de dois andares, uma pequena varanda e um pátio de pedras escuras e irregulares. O muro era baixo, daquela época que os mais antigos moradores tanto glorificavam.
- É hoje? E a família, meu amigo? – o porteiro do prédio ao lado perguntou.
- Indo para São Paulo. Firma grande contratou o doutor que mora aqui perto – o faxineiro respondeu e seguiu a cantarolar em mais um sábado de serviço.
Aos poucos, as máquinas chegaram e uma pequena multidão se aglomerou no meio-fio. Crianças passavam de bicicleta e bebês choravam impacientes. Poucos fins de tarde eram tão divertidos na Rua das Amendoeiras. Lá, porém, havia apenas carvalhos e nada mais.
Álvaro desceu do táxi e caminhou até a casa mergulhada nas sombras do fim de tarde e incendiada por olhares curiosos.
- Novo aqui? Pois é, mais uma abaixo – disse o porteiro que agora já bebia uma cervejinha. Álvaro negou um gole.
- É... essas casas antigas... – ele respondeu
Enquanto o trator se posicionava, com um apito cada vez que o operador engatava a marcha ré, uma fila de curiosos, moradores e crianças chegavam ao lugar onde, em alguns minutos, haveria um terreno vazio.
- Família Pinheiros, conhece?
Álvaro não ouviu. Ou apenas não quis ouvir. A casa que procurava era essa. A casa que seu tio havia abandonado há anos quando seu avô, um homem nobre porém simples e que havia lhe ensinado a jogar bolinha de gude, morreu. Álvaro queria que a máquina parasse e que todos fossem embora. Pensou em seu avô. Pensou na casa que, há alguns segundos atrás era apenas um pequeno prédio a ser derrubado. Ao fim de tudo, teria aplaudido junto com a platéia e comentado sobre a rapidez do processo. Sobre os escombros. Não fez nada. Talvez não pudesse. Seu julgamento destruía. Perplexo, viu a lua onde antes existia uma pequena varanda.