COMO ELE ERA FELIZ
De repente ele voltou no tempo. Uns quarenta anos talvez?
Era um dia chuvoso, meio frio, embora verão.
"Invernou", como se dizia na época.
Ele era um jovem de treze anos, pegou o guarda chuva (nossa, um guarda chuva?) para comprar pão na padaria.
Era bem cedo, no caminho sentiu o cheiro de café sendo coado, que vinha da casa de Seu João. Que cheiro gostoso, café passado no coador de pano, maravilha.
Já de volta o pão quentinho derreteu a manteiga feita em casa, que ele comeu acompanhado de café com leite fresquinho.
Seu pai, antes de sair para o trabalho, combinou a pescaria do fim de semana. “Se o tempo melhorar” gritou já saindo para a rua.
Vai melhorar, ele pensou e, para garantir, foi até o quintal e, com um graveto, desenhou um sol no chão.
Um mês de férias pela frente, que beleza.
De manhã, jogar bola no quintal do vizinho. À tarde, piscina no clube. Êta vida boa. Acaba não mundão.
De repente uma buzina e ele volta.
O sinal abriu, o trânsito esta congestionado mais que o normal (normal?) por causa da chuva.
Mais uma vez vai chegar atrasado no serviço e ter que enfrentar a cara feia do patrão.
Lembra que na sua mesa tem uma montanha de papéis, resultado do serviço acumulado em razão das férias do seu colega.
O celular toca. Era a esposa para avisar que a água da chuva já estava entrando pela porta da frente de sua casa e que a barreira de contenção que ele fez não funcionou.