A solidariedade de dois cães e um gato, a mulher e o beija-flor.
Apanhei o beija-flor caído no jardim; estava muito molhado, água encharcou suas penas e ele ficou pesado para voar. Quando o recolhi ele ficou encolhido na palma de minha mão. Um ser minúsculo, tão frágil, caído no chão mais parecia uma folha seca de videira; mal levantou a cabecinha e me olhou. Dois olhinhos que mais pareciam pontinhos escuros, as asas inertes. Abri suas asas e sequei com guardanapo. Ele se deixou ficar envolvido no tecido. Apenas suas garras ainda tinham alguma força. Ele se acomodou dentro do tecido e ficou quentinho e escondido nas dobras do guardanapo, enquanto eu preparei água com açúcar e mergulhei seu bico e ele se deixou cuidar e acarinhar. Ficamos, exatamente, meia hora juntos. O beija-flor e a mulher enternecida. Natureza perfeita. E depois de mergulhar o seu bico mais de duas vezes na água com açúcar, aproximei a mesa da janela e lá ele ficou mais quinze minutos, ao lado da janela, dentro da minha casa e me olhando sem medo. Afastei-me em silencio e deixei ele sentir o ar vindo de fora. Levantei a dobra do tecido e fiz com que ele pudesse sentir as pernas e as penas mais leves. Ele me olhou e quando me afastei, aspirou o ar e saiu batendo agitadamente suas asas. Foi para o muro verde de hera; parou, sempre agitando suas asas, me olhou e seguiu o seu destino. Foi um momento único, que nunca mais se repetirá; a mulher que acolheu um beija-flor em suas mãos. Será que Deus me mandou algum recado? Como o beija-flor sobreviveu junto com dois cachorros e um gato, sem poder se defender. Sei não... Mas que a natureza nos ensina, ah isso é verdade. Acho que ele veio nos trazer boas noticias. São Francisco de Assis me dê uma luz, uma explicação, logo um beija-flor! Foi muita generosidade de sua parte.