DIA DAS MÃES

- Vamos atrás daquele pivetinho, ele saiu daquela casa, pulou o muro com alguma coisa nas mãos. Vamos! Corra!

- Preciso correr, os omes irão me pegar. Nisso escutou-se um tiro que atingiu as costas. – Me atingiram, está escurecendo tudo. Mãe pega-me no colo, papai quer me bater. Minhas pernas estão perdendo as forças, estou cansando de correr, eles estão atrás de mim, irão me pegar. O sol estar se apagando. Não irei mais acariciar Rosinha, meu primeiro amor. Com ela tirei minha virgindade debaixo de sua casa.

Ela estava com a saia do colégio, uma calcinha branca de bolinhas vermelhas. Eu a tirei e comecei a acariciar suas coxas, a beijar sua vagina que estava começando a aparecer os primeiros cabelinhos. Ela acariciava o meu cacete com ternura, enquanto eu chupava seus miúdos seios e beijava a sua boquinha pequena.

Quando a descabacei ela berrou de dor e de prazer.

Está se tornando noite, já não tenho mais forças para correr, o futuro já não me pertence mais, uma bala da arma de um policial mal treinado me atingiu. Eu que tinha tantos planos para o futuro, de voltar a estudar, sair das ruas, arrumar um emprego, ser ágüem na vida, dá uma casa para a minha mãe, casar, ter filhos...

Estou entrando num túnel escuro, e vejo duas mãos me chamando. Será as mãos de Deus ou as do meu pai? As mesmas mãos que viviam me batendo por não aprovar as minhas brincadeiras com os meus irmãos. Lembro-me das surras de quando ele chegava bêbado batendo em todos.

Minhas pernas estão cada vez mais bambas, meu corpo todo se adormece como naquele dia que tranquei os dedos no carro do tio Romeu e desmaiei. Quando acordei, além da dor ainda apanhei uma surra do meu pai, pois tudo era motivo para uma coça, mas a santa da minha mãe nos defendia sempre. Coitada, não vou poder lhe dar uma casa, seu maior sonho. Talvez nunca irá saber que eu morri porque assaltei uma floricultura para poder lhe ofertar um buquê de rosas vermelhas. Ela jamais ganhou flores, mas sempre levávamos flores para as nossas professoras. Ela apanhava no quintal e dizia para darmos para a professora.

Dona Teresinha usava o perfume mais gostoso que já exalei. Suas mãos eram macias e tinha uma paciência com nós. Suas pernas eram grossas por baixo da saia e do guarda-pó branco. Com ela aprendi a ler e a me apaixonar. Sonhava em casar com ela, sonho de criança.

Aninha, perdão meu amor. Não vou poder cumprir a promessa de casar com vocês por causa de uma única bala que pegou na minha costa.

O sangue jorra pelo meu corpo que cai pelas calçadas que durante muitos dias serviu-me de leito. Hoje ela irá acolhe meu corpo inerte, sem vida, sem alma nem espírito. Virarei pó, esqueleto, saudade, lembranças de um passado.

Minha mãe não irá saber o quanto a amo, jamais lhe falei, e quando tinha a oportunidade de demonstrar o meu amor por ela, recebo um tiro. Eles não sabem que sou um jovem desempregado. Aliás, ainda sou uma criança de 14 anos, que devia estar na escola, mas o túnel da morte me espera em nome da boa segurança da sociedade em que estou inserido.

Serei um a menos nas ruas a pedir esmola, a vender laranja nos semáforos, nas frentes de bares e restaurantes. Para sociedade será uma limpa, mas para a Dona Jurema, minha mãe, será um vazio imenso em seu coração.

- Acertei filho da puta! Este não incomoda mais ninguém. Vamos enterrar enquanto os direitos humanos não nos pegam e nos colocam em cana.

- Sim, vamos logo! Esse não atrapalha mais ninguém. Vamos aproveitar o buquê de rosas que ele roubou para colocar em sua sepultura, pois serão as únicas de seu enterro.

- Será que as rosas eram para a sua mãe? Afinal hoje se comemora o dia das mães, né?

- Acho que uma mãe ficou sem presente e sem abraço de seu filhinho. Risos saiam dos policiais.

LUIZ CLAUDIO GANDIM KAU
Enviado por LUIZ CLAUDIO GANDIM KAU em 03/02/2010
Código do texto: T2066210
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