OUTRA MANEIRA DE SER FELIZ

Havia algum tempo que ela estava ali olhando para aquela paisagem que lhe trazia tantas recordações.

O barulho do riacho correndo sem parar fazia suas lembranças irem até aquele tempo em que ela e seus primos passavam todo o período de férias nadando naquelas águas.

A brisa que chegava até seu rosto trazendo um leve frescor em sua pele também levava seus pensamentos para muito tempo atrás.

O farfalhar das folhas das árvores como se fosse uma melodia, fazia Dalva lembrar das frutas arrancadas dos pés e de quantas vezes corria com as mãos cheias de mangas, jabuticabas e laranjas, pelos caminhos que hoje volta a rever.

Ah! Quanta saudade tudo aquilo trazia para Dalva!

Na sua cabeça passava um filme onde crianças e adolescentes corriam por aquelas terras, nadavam nas águas daquele rio, subiam nas árvores... E ela estava entre eles, feliz, sem saber o quanto a vida ainda lhe traria de surpresas.

Hoje, Dalva é artista plástica. Pinta com maestria telas a óleo e já expôs em vários países, sendo reconhecida internacionalmente.

Seu dom para a pintura só apareceu depois de um terrível acidente que lhe tirou todos os movimentos das pernas deixando-a paraplégica. Desesperada pela nova situação em que se encontrava, Dalva vivia com papel e lápis desenhando árvores, animais, rios, enfim, tudo que fazia parte da natureza, pois era dessa forma que ela conseguia viajar para qualquer lugar sem precisar sair de onde estava. Com o tempo seus traços foram ficando mais firmes e seu trabalho sendo apreciado por todos. Participou de vários concursos ganhando muitos prêmios pelo Brasil. E quando resolveu fazer sua primeira exposição, seus trabalhos foram elogiados por artistas plásticos internacionais e logo foi convidada para expor no exterior.

Sempre acompanhada de Inês, sua enfermeira e secretária, Dalva sentada em sua cadeira de rodas lembrava de tudo isto e de como conseguiu mudar o rumo de sua vida fazendo da tragédia, um trampolim para a vitória.

E agora Dalva percorre com seus olhos cada recanto do passado e pensa em como a felicidade é diversificada: antes ela a encontrava nos seus pés, na sua liberdade, hoje ela encontra a felicidade nos traços que suas mãos fazem obedecendo ao comando do seu coração.

Lenir MMoura