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Malha Fina

           Ainda rapazinho quando concluiu o curso técnico em contabilidade arranjou clientela fixa para fazer imposto de renda. Depois, já universitário e trabalhando numa instituição bancária de grande prestígio, a clientela só aumentou. Vinha gente até das cidades vizinhas em busca dos seus serviços.
          Certo dia cansou de cuidar só do dinheiro dos outros e montou seu próprio negócio. Um amplo escritório contábil, com banca de advogado, resultado de seu sacrifício no curso noturno, enquanto era explorado pelo banco, que agora contratava seus serviços.
           Com um escritório especializado em atender pessoa jurídica, manteve, mais por afeto que necessidade, o hábito de “fazer o imposto” dos parentes e amigos mais chegados.Certo dia um desses velhos amigos ligou, consultando-o sobre a possibilidade do serviço e ele se dispôs a orientá-lo,na volta do trabalho,.
            No caminho, lembrou que já fazia um bom tempo que não encontrava esse amigo porém, coincidência ou não, via a mulher dele quase toda semana... Sem que nem mais a “carioca” como era conhecida, aparecia em seu escritório. Pedia informações sobre documentos, aplicações financeiras e outras coisas meio sem sentido. Sempre o convidava para alguma coisa: um almoço, um café, um suco e ele sempre recusava alegando tempo. Ficava de marcar um programa de casal qualquer dia e sempre deixava para lá.
             Tocou a campanhinha e aguardou. Mais um tempinho e o amigo abriu a porta.Cumprimentaram-se com alegria e entraram na casa, atravessando o pequeno mas charmoso jardim e a varanda com sua rede convidativa. Na sala, cumprimentou a “carioca” com dois beijos na face que, refestelada no sofá, via televisão. O amigo indicou-lhe um lugar para sentar e passaram a falar amenidades. Solicito, ofereceu-lhe uma bebida, mas ele recusou, pois ainda não havia jantado, no que o amigo insistiu para que acompanhasse o casal. -"Já está na mesa!" - Disse-lhe.
              Nem havia respondido ainda quando um som chamou sua atenção: “Oh”! e “Ah” gemidos, suspiros e alguns  “oh my  good!   e vários “oh Yes” fizeram-no acreditar que a mulher do amigo via um filme pornô!
              Agradeceu o convite alegando  um compromisso inadiável e o amigo se apressou em buscar a documentação. Ficou sem ação enquanto ele não voltava. Era constrangedor levantar os olhos e ver cenas picantes sentado no sofá da sala da casa, ouvir todos aqueles sons e aparentar uma naturalidade que  estava longe de  sentir.
             O amigo voltou e  ele passou a examinar a papelada. A mulher saiu da sala sem desligar a TV e entrou num cômodo de porta em frente  a sua poltrona. Deixou a porta entreaberta  e iniciou um  lento strip-tease. Era impossível não ver, já que tinha que levantar a vista para responder ao amigo . Percebeu que o amigo olhava-o como se o avaliasse e um sinal amarelo acendeu ...  aquilo era uma arapuca! percebeu que o casal parecia muito à vontade com  a situação e, não sabia a motivação mas sentiu que  havia sido “escolhido” para aquele programinha a três.
                Arrumou a pasta com a documentação, agradeceu e saiu às pressas. Não sem antes ouvir o amigo dizer “que pena que não pode ficar”  várias vezes  e observar que  a “carioca” já estava praticamente nua.
               Saiu com a impressão de ter escapado de cair numa malha fina...


da Série Saia Justa