Sonhos Imperfeitos e Momentos Relacionados ao dia-a-dia: Parte 2
Minha cabeça dói. Sou um homem em casa, sozinho. Estou numa cidade do interior. Dentro de casa, uma luz amarela, sofá vermelho e vários livros jorrados pelo chão. Não conheço ninguém na cidade. Estou esperando um telefonema, uma carta, um raio na cabeça. Saio, paro num posto 24 horas e compro 3 cervejas e 1 lata de sardinha em conserva. Volto, ela chega com seus cabelos castanhos compridos, pele clara, quase pálida, parece estar morta. Acende um cigarro e depois me beija. Digo que a amo e ela vai embora. Mas quem? Quem? Quem é ela? Estou na rua. Multidões de cabeças vazias e olhos esbugalhados me fitam estranhamente. Fecho olhos e penso nela. Corpo magro, seios minúsculos rosados com fiapos pubianos oxigenados, olhos castanhos, muito escuros, quase pretos, extáticos. Ela diz que aceita, ofereço-lhe a sardinha e abro uma cerveja. '' sou tua nostalgia '', mas quem? Quem? Quem é ela?
Sentado na cadeira o clínico geral mede minha pressão, diz que está alta, digo quanto meu coração me assusta, ele enrrosca como uma troca de marcha mal feita no câmbio de carro velho. Ele diz que sou novo e tenho apenas um sopro no coração. '' mas meu carro é velho ''
'' não se preocupe, o motor está novinho, aguentará fortes emoções ''
Sonho com olhos foscos distraídos como uma jabuticaba presa no pé. Pessoas caminhando pelo calçadão da cidade, crianças chorando, pobres, miseráveis, ignorantes, individados, falidos, donos de botecos, empregadas domésticas com olhares de preocupação e desespero. Onde estou, mundo? Onde estou?! De algum lugar sai uma música progressiva post rock experimental que me alucina como uma xícara de chá Lophophora Williamsii extraído pelos Huichol do norte do méxico. Não consigo entender nada. Às vezes olhos distraídos, às vezes olhos desesperado. Penso em estar sonhando e ao mesmo tempo tudo é real. “ mais um pouco de chá? ”. Sinto a pulsação e o sangue é bombeado para as artérias pelo ventrículo esquerdo até os músculos e órgãos do corpo. Os cinco sentidos funcionando numa sincronização perfeita de se sentir.
Paro num bar, uma enorme mesa com universitários dão gargalhadas bizarras. Eles se vestem diferentes, querem chamar a atenção, e conseguem. Falam muito alto, são os que mais falam, talvez tenham muito o que dizer. Serão futuros críticos literários? Advogados defensores públicos? Ou revolucionários protestantes? Acho que não, quando casarem, esta vontade de mudar o mundo passa, aí, acabam virando empresários, acionistas, políticos corruptos, cornos e depois ficam carecas e barrigudos. Entro no bar. Peço uma cerveja e um homem antipático me serve, dou três tragadas e jogo o resto no chão - cerveja quente, merda! isto não parece ser sonho, é um pesadelo - uma música triste toca no bar, mistura de sertanejo com versão brega romântica de Frank Sinatra, isto me deprime, mas deve estar nas paradas de sucesso em todas as rádios das cidades do interior. Volto para casa. Na minha frente passa um gato preto miando, dou-lhe um pontapé, acho que não morreu, gatos têm sete vidas. Sento no sofá, ela tira a roupa, fico de pau duro, passo o dedo em sua vulva quente e viscosa e ela treme sussurrando no colo do meu ouvido. Seu púbis é quente e denso, nada vulgar. Tento uma vez e não entra, tento outra e não dá. É apertado e desafia qualquer virgem em conserva. Ela morde meu pau e diz que me ama. Vou ao banheiro e me masturbo. Ando de uma lado para o outro desesperado sentindo calafrios, enjoo, suando frio. Uma voz que sai de algum lugar ecoando diz: ''saudade''. Fecho os olhos e acordo sozinho na cama. Minha cabeça dói.