EU ADORO A CAROL

'vem cá'.

diz ela sentando na cama - ela tem um ar de superioridade, frieza, frigidéz. eu não saco bem o que ela quer dizer.

'quer que me sente?'

'é, fica aqui comigo. quer um lençol?'

'quero. tá frio hoje.'

seu lençol tem cheiro de amaciante. lembro da casa de meus avôs paternos. e já me sinto em casa.

'seu cabelo...tá cheiroso. acho que cheira a doce.'

'é ele é de...'

'calma, vem mais perto, deixe-me sentir...e te digo.'

ela ri tímida, acho que ela gosta de se sentir dona da situação. a senhora desejos e tudo mais.

'brigadeiro, seu cabelo cheira brigadeiro!'

(risos)

'não...chocolate, meu cabelo cheira a chocolate.'

'tão gostoso...'

'o que?'

'seu cabelo, você aqui do meu lado. esse vento frio.'

'é, eu também gosto. esse silêncio...'

( acho que ela esqueceu que toca smashing pumpkins - adore - em seu computador. )

'vem cá'

'onde?'

'como onde?'

'não... você disse vem cá.'

'ah, é mania, eu vou te fazer uma pergunta...'

'ah tá...'

'você sentiu o que disse que ia sentir ao final daquele livro?'

'não..'

'não?'

'não...por que não li.'

'ah...entendo.'

'eu vi o filme que você me emprestou, e me deu vontade de escrever.'

( começo a passar a mão por seus cabelos grossos e curtos )

'aliás, eu trouxe uns rabiscos que fiz, acho que você vai gostar.'

'te deu inspíração, uau. que ótimo.'

'seu cabelo tá úmido.'

'é lavei e não sequei.'

'você não achou a personagem meio tépida?'

( não queria discutir com ela sobre as cenas do filme, forografia, diretor nem nada - sou leigo de mais sobre o assunto, e ela odeia ser contrariada. se eu comentar sobre o contexto em si acho que chegamos num ponto comum e mudamos de assunto...)

'é, achei. mas era só com ele. vai ver ela não se sentia á vontade, ou ele era espasoso ao extremo. mas eu admito, achei a personagem meio insípida.'

(insípida, ela adora falar essa palavra.)

'é, eu achei ela fria.'

'ela não sabia abraçar, você viu como ela abraçava? não confio em quem não tem cheiro, e quem não sabe abraçar. meu deus, é tão instintivo e ao mesmo tempo...sei lá, sei lá...me perdi[...]mas eu acho que quem não sabe abraçar...não sabe amar.'

'eu sei abraçar?'

'não. desculpa, mas...'

'nossa, sem vazelina hein.'

(risos)

'vou te ensinar como se abraça.'

'não pense em consertar as coisas...fiquei triste com seu comentário.'

( ponho a mão no rosto, insisto num charminho - mas ela é tão insípida quanto a personagem)

'vem cá.'

'oi'.

'vem cá.'

'o que?'

'porra, vem cá.'

( descubro a mão no rosto)

'onde?'

'vou te ensinar. deite sobre mim.'

( eu ouvi bem, não vou dar um de bobo. ela é realmente estranha - seu corpo é menor que o meu - ela me aperta, num abraço amasso muito gostoso )

'gostou? isso é que é abraço. unir todas as partes do corpo no outro. passar energia. eu conduzo á você que conduz á mim.'

( mesmo me sentindo um babaca eu adorei.)

'posso te dar um abraço meu, agora. vê se eu aprendi.'

a aperto com força, abraço intencional. julgo que ele o queria também.

(seus braços são curtos, mas mesmo assim ela acaricía minhas costas, meu cabelo, minha nuca.

acho que ela se sente á vontade com o eufemismo: abraço.

meus braços são longos, porém nem é preciso tanto esforço.

ela vira o pescoço, como se quisesse beijos. eu hesito - devo beijá-la?

e se entra alguém? e se chega alguém? ela quer mesmo?

odeio me sentir inseguro. suponho que beijos para 'abraços'...há até uma desigualdade.

vou beijá-la.

[...]

batemos a testa um no outro.)

'ai.'

'desculpa.'

( ela ri de lábios fechados )

'gostei do seu novo abraço.'

'gostou?'

'sim. você sim?' (em tom melindroso. fico excitado com garotas assim)

'adorei.'

( ela está vermelha. e diz 'que bom' olhando prás almofadas da audrey hepburn. silêncio constrangedor. acho que vou beijá-la. caralho, homem inútil. tenho de subverter...vou falar sobre seu cabelo, chego mais perto e dou-lhe o beijo - farei isso. )

'o seu cabelo sec...'

'venha me beijar.'

'oi?'

'vem cá, me beijar.'

(que se foda o cabelo, adoro pragmatismo.

ela vira o pescoço novamente, como que cobrando aquele beijo que hesitei.

seu cabelo é chocolate mas seu corpo cheira a morango.

fica parada, inerte. uma estátua.

até chegar em suas orelhas.

sinto que a vida lhe tomou novamente.

de insípida á tépida.

subvertendo os amassos em abraços apertados nada bláses.)

[...]

Berenice
Enviado por Berenice em 22/01/2010
Reeditado em 22/01/2010
Código do texto: T2044825
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