Sonhos Imperfeitos e Momentos Relacionados ao dia-a-dia

Sonho: Caminho numa rua escura. Sou novo na cidade. Meus passos são curtos e calculados, devidamente sincronizados. Meus ossos doem, sinto frio. A solidão me desperta uma sensação lúgubre que vou sentindo conforme a periculosidade do local: ruas esburacadas, terrenos abandonados, muros pixados '' jesus é meu pastor e nada me faltará '', poste sem iluminação e o latido sibilante dos cachorros me levam a crer que estou numa cidade fantasma, vivo ou não. Um enorme silêncio se faz enquanto caminho. Penso nela. Com os pés descalço dançando no azulejo frio do banheiro, ela ( quem?) pega na minha mão levando-a até o seus peitos conchas do mar, passo a língua levemente no bico delicado e enrijecido enquanto sua mão alisa suavemente meu pênis para frente e para atrás - preciso expor tudo para fora, tudo! Estou cheio de ódio, gozo, fantasias e segredos avassaladores. Meu corpo queima e arde a alma lançando chamas flamejantes por onde passso. Uivo como um lobo desvairado para a lua e em algum lugar ela (quem?) sussurra sentindo uma excitada queimação na região dos seus lábios vaginais.

Estou num bar, o mesmo de sempre. velhos, bêbados, bêbados velhos apostadores no jogo do bicho bebem e fumam excessivamente. Um sujeito magro de cabelos grisalhos senta ao meu lado. Diz que é médico aposentado, especialista em coração. Digo sentir uma sensação estranha do lado esquerdo do peito, meu coração pula uma batida e em seguida o corpo estremece parecendo estar enfartando. '' Isso não é problema cardíarco '' ele diz.

'' Seria o que então? '' eu digo

'' Problema emocional, talvez dor, ódio, paixão...essas frescuras humanas

'' O que devo fazer, doutor? ''

'' Eu já disse, sou aposentado, não consulto mais ninguém, agora eu só bebo '' disse ele dando uma gargalhada assustadora de um psicopata.

'' O senhor acha que no meu caso beber seria a solução? ''

'' SIM! SIM! SIM! '' outra gargalhada.

Já é de manhã. Continuo na rua. O sol reflete meu rosto oleoso e realça o azul cintilante dos meus olhos - sou o anjo das ruas, o anjo perdido e abandonado - Paro em frente a uma igreja. Os fiéis estão todos sentados e elegantes ouvindo a oração do pastor. A maioria são velhos - uma pausa para comentar o sonho: Eles ( os velhos) querem salvar a alma das mãos do demônio, passam a acreditar na eternidade delas e, somente a fé em deus ( o todo poderoso onipresente) salvaria ela das injustiças e dos pecados infringidos pelos homens infiéis. Agora, já velhos, vão para a igreja se redimirem dos seus próprios pecados, principalmente aqueles, comitidos na adolecência. Hoje, vivem se intrometendo e fuxicando sobre a vida dos vizinhos, parentes, amigos, padeiro, etc... Adoram uma fofoca, não perdem uma novidade, muito menos um capítulo da novela das oito. Pobres cristãos, faço o sinal da cruz e levanto os braços pedindo força aos deuses para continuar vivendo aqui no inferno e sem esquecer de pedir luz no caminho destas almas alienadas que têm fé, muita fé, mas ainda não aprenderam nem a amar o próximo.

Sonho de olhos abertos: Sigo em frente, sem rumo. Na praça dos pombos, mendigos e flanelinhas fumam crack em plena luz do dia sem se intimidarem com a viatura da polícia parada na esquina. No shopping, em frente, mulheres de homens ricos fazem compras exageradas desfilando com suas bolsas de couro, sapatos importados, roupas de grife e com o nariz empinado exalando soberba. De um lado, viciados em crack desamparados rumo ao pó, do outro, prostitutas vaidosas que têm o cartão de crédito do marido em troca de uma boa foda. Chego ao centro da cidade. O tempo está abafado, muito quente. Nuvens se aproximam. Começa a ventar. Ouço portas e janelas se fecharem com a força do vento, barulhos intrigantes e trovões amedrontam o clima. Começa a chover. Entro numa padaria e tomo uma coca-cola. Depois de bebe-la, sinto uma enorme vontade de fumar. Estou duro, não tenho dinheiro nem para um ''lennon'' solto. Reparo num casal fumando e me aproximo. Como nada melhor para puxar assunto falo sobre o clima, eles concordam e aprofundam o assunto, falam do aquecimento global, desmatamento da amazônia e principalmente na poluição dos gases efeito estufa '' grande irresponsabilidade do homem '' Depois de longa discussão sobre teorias e métodos sem nenhum fundamento concreto e que jamais colocariam em prática, finalmente peço o cigarro e eles vão embora. Entram num carro que logo se movimenta levantando fumaça preta do escapamento e contribuindo para a camada de ozônio. Estudantes, adoram discutirem, encher a cara, frenquentar festas e baladas perversas. Fazem isso tudo com o suado dinheiro dos pais que dão duro enquanto eles fingem em estudar. Viva a classe trabalhadora, viva os operários e funcionários humildes que batalham por um prato de comida para os filhos raquíticos todo o santo dia. Mas que merda, que diabo está acontecendo comigo, estou discutindo, defendendo e criticando classes socias. Fodam-se.

Sonho noturno: Estou no banheiro em casa. O espelho é meu inimigo. Revela-me um homem envelhecido mal-amado, rosto cansado, cheios de poros dilatados, cravos, furúnculos, acnes vulgares, dentes amarelos, cáries... Sento na privada e fico pensando, a merda não sai, fico horas pensando - não existe lugar melhor para se pensar - não adianta, a merda não está dentro de mim, está lá fora, na rua, nos outros, em bancos, na prefeitura, no senado, em Brasília. Dou descarga e sou engolido para dentro do buraco da privada com a água infectante. Acordo molhado, trêmulo. Estou num mundo moderno, sozinho em 2009 lutando contra os meus sonhos imperfeitos e enfrentando a realidade humana que é o meu maior pesadelo.