CRIANDO UM ATEU

Eulália era uma mulher simples e muito católica, tinha três filhos, o seu caçula era muito esperto e vivia a lhe fazer perguntas embaraçosas.

Certo dia Vitor lhe perguntou:

_ Mamãe, a senhora conhece dona Maria Vassourinha?

_ Sim! Conheço.

_ A senhora conhece seu Miraglhia?

_ Sim, conheço! Respondeu Eulália franzino o cenho.

_ Mamãe dona Maria Vassourinha é boa?

_ Sim! Ela é muito boa. Vive a ajudar todo mundo que precisa.

_ Mamãe seu Miraglhia é bom?

_ Não! Ele é muito ruim.

_ Mãe Deus existe?

_ Claro!

_ Deus cuida de nós, mamãe?

_ Sim! Vitor, o que estais pensando? Perguntou dona Eulália um tanto apreensiva, pois já sabia que aquelas perguntas sempre acabavam dando muito trabalho para ela.

_ Deus é bom, mamãe?

_ Sim, meu filho Deus é bom e nos ama como um pai.

_ Deus é justo, mamãe?

_ Sim, Deus é sempre justo; apesar de às vezes a gente se revoltar com as coisas que nos acontece.

_ Mamãe por que dona Maria Vassourinha é tão boa, pobre e sofredora, enquanto seu Miraglhia é tão ruim e tão rico?

_ É um mistério de Deus, filho. Disse Eulália.

_ A senhora disse que dona Maria Vassourinha é boa, que ela ajuda todo muito, como Deus pode ser tão mau para ela?

_ Deus não é mau filho, dona Maria Vassourinha deve estar pagando o pecado de seus pais.

_ Mamãe, você disse que Deus era justo, como Ele pode ser justo se faz outros pagarem por coisas que não fizeram.

_ Meu filho... Disse Eulália sendo interrompida pelo filho.

_ Mamãe, não vou mais a igreja, não quero mais saber desse teu Deus, pois Ele não é justo e eu não acredito nele! Respondeu Vitor com uma convicção desoladora e desde então ia à igreja só forçado pelo pai.

Isso ocorreu quando ele tinha nove anos, formou-se médico e se dizia ateu de corpo, alma e coração.

Era um ótimo médico, morava na maternidade de pequena cidade do interior, pois não possuía dinheiro suficiente para alugar uma casa, já que gastava a maior parte de seus honorários comprando remédios para os mais pobres.

Casou-se teve três filhos, que formara e se tornaram homens de bens, bem sucedidos e fervorosos na fé em Deus, fé essa que seu pai só readquirira após conhecer a Doutrina Espírita, entendendo finalmente que Deus não puni ninguém pelos pecados alheios, mas que recebemos conforme nossas próprias ações, se não desta vida, de outras vidas.

O episódio de seu encontro com a doutrina espírita se deu através de uma moça que ele não conseguira curar, certo dia ela pareceu em seu consultório totalmente curada e alegre, ele quis saber então o que ela havia feito e ela lhe disse que havia ido visitar um senhor que curava. Ele então resolveu ir conhecer esse tal homem e lá chegado encontrou “O Livro dos Espíritos”, ouviu aquele falatório e viu o passe, que nada mais era que a imposição das mãos. Comprou o livro, leu e chorou porque pela primeira vez depois de mais de 32 anos ele se encontrava com Deus – nosso Pai, amoroso, bom, justo e único.

Ele se sentiu novamente criança, seu coração pulsou forte, a alegria o invadiu e ele nas semanas seguintes leu o Pentateuco (as cinco obras da doutrina espírita, ditada pelos espíritos – organizada por Allan Kardec) e foi assim que voltou a acreditar em Deus.

Morreu aos 105 anos numa cidadezinha no interior de São Paulo trabalhando pelo próximo.

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A doutrina de que puni nos filhos os erros dos pais não contribui em nada para a formação de verdadeiros cristãos, mas contribui e muito para a formação de ateus.

Crer em Deus significa ser sustentado em suas dores, consolados e impulsionados a buscarem melhores caminhos e novas soluções para os problemas de nosso dia-a-dia.

A frase “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, nunca foi tão importante como em nossos dias atuais, onde precisamos crer que estamos protegidos por alguém maior que prove tudo para continuarmos a nossa jornada apesar dos percalços do caminho.

Obs.: "Essa história é real, e foi relata pela amiga católica de doutor Vitor, nomes e lugares foram alterados."