EFEMERIDE
O tempo cerrou seu cenho em meio à felicidade dos que coloriam lá embaixo a areia mole e esbranquiçada da orla.
“Em um instante fechou-se os milhares de chapéus coloridos, o vento arrastando-os, revoltando mais o mar cujas ondas pareciam dizer “vão-se embora”,” vão-se embora ““...
“Meu Deus que maneira de terminar o dia”, gritavam uns como se fosse as próprias pernas que corriam, levando chicotadas da chuva, que parecia dizer; salpicando areia nas costas quase para compensar.
Os automóveis na rodovia pareceram ganhar mais velocidade; já não se podia bem distinguir a selva de prédios de janelas envidraçadas. Não se podia distinguir mais nada. Tudo enevolava-se numa neblina de água densa que desabava como torrente, fazendo transbordar os bueiros, alagando as ruas, em breve transformando a rodovia e os passeios numa mesma lagoa, onde os transeuntes eram obrigados a fazer uma travessia perigosa, de braços erguidos, olhos fechados, sem ver as próprias pernas.
Mais adiante, a margem da nova lagoa (lagoa pluvial) o transito parara, ouviam-se berros de buzinas, sirenes enlouquecidas de ambulâncias.
O dia escuro, os cidadãos confusos, em meio a uma nova lagoa, procurando a margem, aflitos com medo de naufragar; outros encolhidos sobre uma marquise distante; mais acolá, alguém por cima do parapeito de um viaduto parecia admirar o espetáculo da cidade a transbordar, batizando-se com a água fria daquela chuva que varria o verão, lavaria o céu com um vento arrasador arrastando arvores, fios e postes e permitiria que no céu azul brilhasse o Astro grande chamado sol, iluminasse todos, secando em vapor do calor todos os vestígios da tragédia de antes, levando todos a areia, abrir seus chapéus coloridos, mergulhar no mar, de braços abertos, esquecidos e agradecidos, e nada prevenidos.
Rodney Aragão
18 de janeiro de 2010