O encontro

Estava ansiosa naquele dia teria um encontro a tarde, era a quarta hora de seu trabalho, barulho de dedos ágeis nos teclados dos computadores, toques de telefones, vozes suaves repetindo, “bom dia em que posso ajudar” a hora continuava atravancada no relógio e ela ansiosa para o fim do expediente, atendia os clientes com a espontaneidade de um relógio:

- Centro de atendimento em que posso ajudar? – e olhava para os ponteiros do relógio que caminhavam pesadamente.

- Isso não é vida – pensava. Desligava o telefone e lixava as unhas, parava, pensava no encontro com o rapaz, olhava o relógio.

- Isso não é vida – o telefone tocava novamente e tudo se repetia. Algumas telefonistas achavam tempo para conversar, mesmo que brevemente, mas ela não as conhecia e também não era muito dada a amizades.

Os últimos dez minutos pareciam uma eternidade, ela não conseguia tirar os olhos do relógio, será que ela agradaria o rapaz? e o relógio por sua vez recusava-se a mover seus ponteiros. Faltavam só dois minutos para o final de seu expediente, ela já guardara a lixa de unha na bolsa minúscula que carregava, já havia colocado o fone sobre a mesa. Um minuto, apenas um minuto e poderia sair aproveitar a vida, tinha um encontro, mas há exatos trinta segundos para o final do expediente o telefone toca, era um senhor com idade avançada que procurava ajuda para mexer num complicado programa de computador a qual ela dava suporte:

- Centro de atendimento em que posso ajudar?

- Oi eu não consigo iniciar esse programa.

- O senhor clicou no ícone á esquerda da tela inicial?

- Ícone? Onde tá escrito isso?

- Olhe para a tela, na esquerda da parte de baixo da tela há um quadradinho, o senhor pode vê-lo?

- Sim.

- Então isso é o ícone a qual me referi agora o senh...

- Ah filha, muito complicado deixa pra lá vou pedir para meu filho me ajudar.

- O senhor deseja mais alguma coisa?

- ah, não muito obrigado.

- Centro de atendimento agradece, tenha uma boa tarde.

- Pra você também filha.

Então ela olhou para o relógio e já havia passado dez minutos do final do expediente, estava atrasado para o encontro. Correu para o ponto de ônibus depois de cinco minutos veio um ônibus, estava lotado, ela poderia esperar o próximo mas preferiu se espremer naquele mesmo, ligou para o rapaz com quem tinha combinado, explicou sua situação e pediu que lhe esperasse, desligou rápido tinha pouco crédito, chegou a casa depois de quinze minutos, pegou qualquer coisa para comer, um copo de refrigerante, jogou o tenis num conto do quarto ligou o computador e finalmente acessou a sala de bate-papo onde teria seu encontro.

Rafaello Merisi di Caravaggio
Enviado por Rafaello Merisi di Caravaggio em 17/01/2010
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