Monólogo de um homem

... mas, se eu me jogar deste penhasco... mas, se eu não me jogar... e agora o que faço? Morrer ou não morrer? Matar-me e ser um assassino de minha própria alegria (alegria?) – tristeza (tristeza?). Antes de tudo isso não havia nada. Havia um vazio que agora parece que já não é mais. O encontro com este eco infinito que me parece vir debaixo mostra-me um medo que até aqui não havia manifestado-se. O medo da morte. Medo de viver nunca tive, até o fato que gerou o motivo por eu estar aqui com um pé solto no ar enxergando uma queda de 100 metros e o outro trêmulo atrás pendendo. Mas isso não vem ao caso. Como os pássaros conseguem jogar-se no ar tão sem medo? Ah! São suas asas. Porque não tenho asas? Seria mais fácil se podesse simplesmente voar para o sul e fugir do compromisso. A responsabilidade pela minha própria vida que agora me pesa não é tão doce quanto achei aos 18. Felizmente papai nunca me deixou usar a sua Colt. ... Gabrielle! Oh! ... Jeanne! Oh! ... Todas elas que me mostraram o que era o amor. Palavra vazia que dá mais raiva que alegria. Jogar-me-ei agora... Porque hesito? Covarde! Covarde! Nem isso consigo fazer direito. Não é tão fácil tirar a própria vida. E olha que sou eu o único aqui. Eu, o penhasco e esses pensamentos inquietantes. Porque simplesmente não fecho os olhos e finjo voar? Abro os braços e deixo o vento me guiar? Sou eu ou não o responsável pela droga dessa miserável minha vida? Quero morrer! Preciso morrer! Quero me fazer este favor. Não há verde nessas montanhas... O céu está tão limpo e claro. O sol tinha que estar brilhando tanto hoje? Manhã linda demais para tragédias. Ou seria tragédia maior ainda em uma manhã tão linda? Os olhos verdes de minha mãe ajudariam agora. Maldito velho bêbado. Deveriam tê-lo matado por dirigir aquela noite. Assassino! O melhor que fiz foi sair de casa. Mas hoje me encontro aqui também por ter fugido. Por ter começado mentindo. Enfrentar é para os corajosos. O que será de mim se não morrer agora? O que será de mim se eu morrer agora? Céu... Inferno... São aqui? Estão lá? Minha própria vida já foi um inferno. O que há de vir não pode ser pior. Será?

Frido Duarte
Enviado por Frido Duarte em 17/01/2010
Código do texto: T2034505
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