Bons Tempos
Naquele dia, lembro-me que estava chovendo, por isso tivemos que ficar o dia todo dentro de casa. Aproveitamos para inventar um mate amargo e juntá-lo a uma canastra.
Era o último dia de minhas férias e, desta vez, eu não desceria à costa da Barra para molhar os pés na água salgada... Afinal, se fosse de minha vontade molhar alguma coisa, bastaria-me pôr o nariz à porta da rua que, de certo, voltaria ensopado. Esta idéia maluca passou-me pela cabeça, ri ao imaginar-me voltando para casa com um resfriado e a mãe, que me esperava, a reclamar dos maus cuidados que tivera comigo mesmo. Meu amigo olhou-me com um ar de desaprovação, mas preferi não contar-lhe de meus pensamentos:
– Vamos lá! Jogue uma carta decente! – pedi.
Lembro-me como se fosse ontem, até mesmo a expressão de meu amigo está clara em minhas lembranças.
Ao fim da tarde já havíamos tomado tantos mates e decidimos desistir do jogo. Meu amigo me venceu por uma diferença muito pequena de 200 pontos e prometeu que me concederia uma revanche nas próximas férias.
Por volta de umas 19hs, a chuva já havia se acalmado, praticamente terminara, mas ainda alguns pingos fininhos nos fizeram sair com os guarda-chuvas:
– Meus avós gostaram muito de você – revelou meu amigo enquanto caminhávamos pela rua a caminho de um armazém.
– Adorei eles, – confessei – nem me conheciam e me trataram tão bem... Foi muito legal conhecê-los.
– No outro final de semana eles irão embora e então tudo voltará à normalidade. – meu amigo tinha uma voz de desânimo em suas palavras. Parecia triste pelo final das férias.
Seguimos calados até chegarmos ao armazém. A lista de compras continha os ingredientes necessários para que se fizesse uma pizza.
Lembro-me, já faz alguns anos, mas me lembro bem, até parece que foi ontem. Estávamos todos na sala em volta à mesinha de centro, sobre ela uma pizza, no forno outra à espera. Eu e meu amigo, sentados no tapete, enquanto seus avós e seus pais estavam nos sofás. Foi nossa última reunião e nosso último encontro...
No final de semana seguinte ao meu retorno à cidade, meu amigo viajou com seus avós para sua terra natal.
Uma vez chegou uma carta sua e me indicava um número de telefone. Preferi não retornar uma resposta, pois a ligação internacional para Montevidéu deveria ser cara. Não que não valesse a pena escutar a voz de meu amigo, porém das vezes em que me decidira a ir a um telefone público, ou estava ocupado, ou não funcionava.
Lembro-me que naquela noite eu custei a dormir. No dia seguinte, pela manhã, já não estava mais chovendo. Me despedi dos avós de meu amigo e entrei no carro com ele e seus pais. A viagem até minha casa durava cerca de 45minutos e neste intervalo de tempo íamos conversando sobre a volta às aulas e o fim das férias. Ainda faltavam algumas semanas para que as aulas começassem, seria nosso último ano naquela escola e então deveríamos iniciar o 2º Grau. Nem me passava pela cabeça que aquela seria a última vez que estaria com meu amigo e seus pais sempre tão gentis. Tinham o seu jeito uruguaio de ser, de fazer amizades, de alegrar as pessoas com seus sorrisos prontos. Os avós de meu amigo eram assim também, quando encontravam uma pessoa conhecida pela rua, ou no armazém:
– Hola! Como estás? Andas bién?
E a um “sim” respondiam:
– Me alegro!
Era lindo de se ver a simpatia deles. Eu tinha lá meus 13 anos. Bom... confesso que muitas das coisas que eles falavam eu não entendia... e até hoje, apesar de viver praticamente na fronteira, não entendo muito da língua uruguaia. Acho interessante o ritmo da voz. Algumas das frases que meu amigo me ensinou naquelas férias eu ainda lembro, e até arranho de vez em quando querendo me arriscar num “portunhol”. No entanto, faço isso apenas com frases pequenas, sem a intenção de me aprofundar em uma conversa, falando grandes coisas, na língua dos hermanos. Apenas o suficiente para manter vivas as lembranças da minha infância.
Foi naquelas férias que aprendi a gostar de chimarrão. Já havia tomado algumas vezes, nas rodas de mate, quando vinham meus tios à casa de meus pais. Eu não tinha primos, por isso ficava sempre junto aos adultos naquelas horas. E quando chegava a minha vez de matear, eu me sentia importante. Mas só tomava para ter essa sensação, pois o mate era ruim... era amargo. Talvez porque eu era o único que não participava das conversas, eu olhasse o mate como sendo uma forma de me darem atenção.
Naquelas férias aprendi a olhar o mate com sendo um companheiro. O chimarrão se tornou mais um amigo, daqueles amigos cuja presença melhora nossos momentos.
Depois dali, nas rodas de mate com meus tios e meus pais, eu já conseguia ver que, ao tomar o chimarrão, o importante não era eu e sim ele.
Quanta coisa aprendi naquelas férias com aquela família. O que mais me marcou, no entanto, foi realmente aquela simpatia... Aquela alegria que tinham! Que facilidade para fazer amigos!
Os avós de meu amigo, quando chegaram, falavam tão enrolado que eu fiquei até sem jeito de pedir para que eles repetissem as coisas que me diziam. Mas, esta situação incômoda, e ao mesmo tempo engraçada, eu passei apenas no primeiro dia da chegada deles. Comentei o fato a meu amigo à noite, antes de dormir, e na manhã seguinte todos riram de mim que havia fingido entender as conversas do dia anterior. Daquele momento em diante ocorreu uma troca: os avós de meu amigo traduziam em espanhol as palavras que eu lhes perguntava e eu traduzia em português as que eles me pediam. Percebi que falavam bem calmamente comigo, interessados em que eu sempre entendesse as coisas que eles queriam me dizer. Entretanto, quando falavam entre eles, eu achava melhor sair de perto, pois não entendia nada mesmo. Achava bonito o ritmo das vozes nas conversas, mas tinha receio que, de repente, quisessem me colocar no meio daqueles assuntos que eu nem sabia de que se tratavam. E se, de repente, eles se virassem para mim e me perguntassem: “O que você acha?”. Ainda bem que isso nunca ocorreu, mas naquelas horas em que eles falavam entre eles, eu sempre saía de perto para assistir televisão, ou jogar vídeo-game, ou qualquer outra coisa longe da chance de me colocarem nas conversas.
O tempo que convivi com os avós de meu amigo foi de apenas uma semana, pois eles chegaram num domingo e numa segunda-feira, pela manhã, é que retornei à casa de meus pais. Foi um tempo curto, mas pude notar que eram pessoas muito agradáveis.
O número que meu amigo me indicou na carta, ao fim, perdi. A carta e o envelope com seu endereço eu havia guardado em uma gaveta na cômoda do quarto de minha mãe. Lá ficou durante tempos e, de vez em quando, eu ia lá ler a carta.
Nela, meu amigo falava da nova vida. Seus pais foram encontrá-lo 1 mês depois de sua viagem e a casa nova deles era ao lado da casa dos avós. Saindo em frente à casa se via o mar. Era um local privilegiado, próximo à orla marítima. Os avós queriam saber quando eu iria aparecer para visitá-los, prometiam sorvete de sobremesa. A avó de meu amigo fez uma vez um sorvete de morango. Era muito bom! O melhor sorvete que já comi até hoje. E, na carta, meu amigo contava da promessa que os avós faziam caso um dia eu resolvesse aparecer em sua casa... E, na carta, ele relembrava aquele verão...
Passei quase um mês na casa deles e fui em casa apenas 4 vezes durante esse tempo. A mãe de meu amigo é que me levava de carro. A mateira ia em cima do banco de trás ao meu lado, eu cuidava para não virar. Enquanto ela e minha mãe mateavam na cozinha, meu amigo, que sempre me acompanhava nas viagens, e eu escolhíamos algumas coisas que eu precisava levar. O baralho de cartas foi lembrado numa destas viagens até minha casa. Ensinei meu amigo a jogar canastra, um tio me havia ensinado e agora eu passava adiante o conhecimento. No entanto, meu amigo aprendera tão bem a jogar que nossas partidas acabavam quase sempre praticamente empatadas. Meu amigo me ensinou um jogo diferente: golfo. Mas, hoje já nem lembro mais como é. Sei que jogamos também, várias vezes. Mas a canastra é que tinha mais emoção:
– Já vai o catador, catar o lixo... – eu lhe dizia em tom de desaprovação quando eu sabia que no lixo estavam boas cartas.
– Quê!?! Deixa o morto em paz... – dizia ele quando minhas cartas terminavam e eu recorria ao “morto”.
– Põe mais 100 aí para mim! – dizia eu comemorando.
Uma partida de canastra durava um tempão, pois nós dois tínhamos paciência e um deixava o outro pensar o tempo que achasse necessário até escolher uma carta para jogar.
E quando jogávamos “Guerra”...
“Guerra” é um jogo sem fim e nós ainda achávamos tempo para tomar o chimarrão. Houve uma vez que começamos o jogo às 2 da tarde e lá se eram 8 da noite e o jogo sem pressa de acabar... o mate já estava mais do que lavado quando meu amigo desistiu e, por causa de sua desistência, eu me declarei o campeão. Jogo de guerra é assim: quando um desiste, o outro vence! É um jogo de muita paciência, pois quando se vê, ao invés de durar uma tarde, dura um dia inteiro.
Esta carta de eu amigo devo tê-la lido umas 20 vezes... Depois fui crescendo, fui buscando outros caminhos, os interesses foram mudando e a carta ficou esquecida naquela gaveta.
Quando me mudei da casa de meus pais e fui morar com minha namorada, nem me passou pela cabeça aquela carta. E depois, quando ia visitar minha mãe, na intenção de pegar minha carta para levá-la comigo, outros assuntos iam surgindo e me esquecia de perguntar pela carta.
Minha mãe mudou-se daquela casa. Ela e meu pai foram de mudança para outra cidade com mais emprego. De certo colocou no lixo a carta que meu amigo enviara. Era a única maneira que eu tinha para entrar em contato com Santiago. “Santiago” este era o nome de meu grande amigo de infância! No entanto, não reclamei o fato à minha mãe. Sei que ela não fez por querer de não ter se dado conta da importância que aquela carta tinha para mim... ainda assim, lembro-me bem das coisas que ali meu amigo escrevera... lembro-me que falava dos mates e falava dos carteados:
– Vamos "cartear"? – a gente falava desse jeito quando um de nós queria jogar cartas. O outro logo concordava. Meu amigo sabia preparar o chimarrão, sempre era ele quem cuidava desta parte.
E, na carta, me contava da vida nova no país vizinho. Contava até dos valores das passagens, era bem barato caso eu quisesse ir até lá.
Na carta, ele lembrava a escola.
Nós havíamos nos conhecido na 5º série. Era o primeiro ano letivo de meu amigo no Brasil. Ele tinha um sotaque bem pesado e muitos de meus colegas riam dele por causa disso. Até eu achei estranho aquele jeito diferente de falar: o “z” tinha som de “s”... ainda assim nos tornamos amigos já na primeira semana de aula. E logo a turma inteira aprendeu a aceitar as diferenças. Com o passar dos anos, Santiago aprendeu a falar que nem nós. Seu português ficou tão perfeito e até as gírias ele falava também.
Bons tempos aqueles! Como é bom recordar! Parece que estou lá naquele ano novamente: 1992 foi o ano em que as portas do mundo se abriram para mim. Antes eu jamais havia passado uma tarde sequer fora de casa, sem meu pai ou minha mãe por perto. Os trabalhos da escola, quando em grupo, eram feitos em minha casa para eu não precisar sair. A mãe fazia um bolo e um suco para oferecer a meus colegas. E às vezes, quando não dava tempo de fazer o bolo, daí ela corria à venda para comprar um pacote de biscoitos.
“Venda” assim nos referíamos ao falar dos mercadinhos pequenos. Hoje prefiro chamar a todos de mercado, por menores que sejam. Na casa de meu amigo, o costume era chamar as “vendas” de “armazém”.
Essas comparações vão surgindo em minha mente sem eu ter como controlar. Essas lembranças vão surgindo daquela amizade com a qual aprendi grandes coisas.
Minha mãe só abriu as portas do meu mundo em 1992. Antes disso, era da casa para a escola e da escola para casa. Às vezes, haviam algumas idas ao mercadinho da esquina, mas afinal era na esquina, então nem conta... E a escola era pertinho também. Talvez pelo fato de eu ser filho único é que minha mãe tomasse tantos cuidados comigo... nunca lhe perguntei o porquê de ela ter me guardado com tantos cuidados, afinal não me dou o direito de reclamar minha criação, porém a partir daquele momento, em que as portas se abriram, eu me tornei uma criança mais feliz, vindo a refletir até hoje nas minhas maneiras de ser e de agir.
Minha mãe e a mãe de meu amigo já se conheciam das vezes em que Santiago ficava na cidade para fazer algum trabalho da escola. Como não tinham parentes na cidade, d. Teresa (a mãe de meu amigo) tinha que vir da praia buscar Santiago para almoçar, voltar de lá para deixá-lo na casa dos colegas (e neste caso era sempre a minha, que nunca saía de casa), achar alguma coisa para fazer pela cidade, enquanto esperava pelo filho, para não ter de retornar os quase 30km de volta a sua casa, e então buscar o filho quando o trabalho estivesse pronto.
Isto ocorreu duas vezes e minha mãe teve a idéia de meu amigo almoçar em nossa casa nas ocasiões em que precisássemos fazer algum trabalho escolar, assim d. Teresa viria à cidade somente na hora de buscar o filho economizando em suas viagens.
A idéia de Santiago passar algum fim de semana conosco surgiu em seguida e, talvez pelo fato de eu não ter irmãos, os fins de semana em que meu amigo passava em minha casa eram os fins de semana pelos quais eu mais ansiava: eu não precisava ficar à volta dos adultos em suas reuniões. Eu e meu amigo ficávamos na sala assistindo TV, jogando vídeo-game, trocando figurinhas de revistas de carrinho ou de futebol, enfim... eu podia me dedicar a coisas realmente importantes, mas que quando feitas sozinho, não me chamavam muito a atenção.
Minha mãe e d. Teresa já eram amigas quando apareceu o primeiro convite, talvez por isso minha mãe concordou que eu passasse um final de semana na praia. Primeiramente, ela ficou sem fala, mas d. Teresa, com sua simpatia de sempre, conseguiu convencê-la. Pena que choveu... Ainda assim descemos à costa no momento em que a chuva cessou. Era a primeira vez que eu via o mar. Achei inacreditável! Era cinza com ondas gigantes, o cheiro não era muito agradável, mas ainda assim achei lindo. Meu amigo me explicou que aquele cheiro era mais forte em algumas áreas da costa, mas que em outras nem se percebia a maresia. Ele me disse também que em alguns dias nem mesmo se percebia aquele cheiro, por mais que se andasse pela costa. Era tudo novidade para mim e, no entanto, da segunda vez que estive lá, o mar parecia outro: era azul, a areia brilhava como tudo à volta e nem era verão ainda. Outras oportunidades de visitas foram surgindo e nelas eu ia descobrindo as belezas da praia da Barra Brasileira.
Quando as férias de verão se iniciaram, eu achei que somente voltaria a ver meu amigo no período escolar. Porém, o carro de d. Teresa parou em frente à nossa casa numa quinta-feira, por volta de umas 9:30 da manhã. Já fazia mais de um mês que as aulas haviam terminado e foi muito bom revê-los. O ano já estava trocado para 1993.
Santiago estava junto com sua mãe, que acabou aceitando o convite de ficar para almoçar com a gente. Antes disso já havia perguntado à minha mãe sobre a possibilidade de eu ir passar as férias de verão com eles na praia. Minha mãe deixou a responsabilidade da decisão com meu pai, que somente chegaria em casa ao meio-dia. O mate foi feito por d. Teresa e, enquanto elas conversavam na cozinha, em meu quarto, eu arrumava as roupas que levaria na mochila. Quando meu pai chegou, minhas coisas já estavam prontas para levar, ele nem sabia disso, mas para minha alegria, concordou que eu fosse.
A sensação de liberdade foi outra coisa bem marcante naquelas férias. Eu que, praticamente, nunca havia saído de casa, vi de repente um mundo novo diante de meus olhos: a praia lotada de gente, tanto nas ruas como na costa, diferente de todas as vezes que eu antes estivera lá. Havia pessoas que andavam pelas ruas com seus trajes de banho, coisa que na cidade eu nunca tinha visto, e nem mesmo na praia. Novamente eu tinha a oportunidade de descobrir aquele lugar, parecia que recém eu estava conhecendo: a mansidão e a calmaria do inverno haviam se transformado naquela festa de movimento de pessoas por todos os lados.
O primeiro dia de aula foi um pouco triste, a diretora veio avisar que nosso amigo Santiago havia retornado a seu país de origem e, por esta razão, não o teríamos mais como colega. Foi ali que eu fiquei sabendo de sua partida.
Algumas semanas depois é que chegou a carta dele, cheia de novidades e lembranças.
Às vezes eu ficava pensando, e penso ainda, que, de repente, ele já soubesse que teria de ir embora. Pois me lembro de seu desânimo ao falar de seus avós que retornariam a Montevidéu no final de semana seguinte aquele último dia que passei lá... Talvez ele quisesse me falar que iria também, porém lhe faltou coragem. Afinal, as despedidas são sempre tristes...
A volta às aulas me trouxe novos amigos, mas nenhum como Santiago, com sua família sempre tão simpática com todos que conheciam, pronta a conquistar mais e mais amigos. Aquela simpatia é que convenceu minha mãe a me soltar daquele mundo tão fechado em que eu vivia. Aquela simpatia que inspirou confiança e me deixou a saudade daquele tempo.
Pois eu acredito sim que a liberdade que me foi dada, a partir daquelas férias, naquele verão, tenha contribuído bastante para eu ter me tornado uma pessoa mais feliz. Fica parecendo até que aquela família surgiu em minha vida para simplesmente contribuir para o meu crescimento. É a melhor lembrança que ficou da minha infância sem irmãos e sem primos. E me atrevo a dizer: Santiago era como um irmão para mim.
Mas, afinal de contas, quantos anos faz e nunca mais nos falamos?
No entanto, ainda quero revê-los, apresentar minha esposa e meu filho, cujo nome é igual ao de meu amigo.
Escolhi o mesmo nome na intenção de diminuir a culpa que sinto por não ter conseguido manter contato com Santiago. Mas, se eu pudesse voltar atrás, eu teria trazido comigo a carta de meu amigo, no dia em que me mudei da casa de minha mãe... eu teria esperado na fila do orelhão... ao menos para dizer um "oi"... eu teria escrito uma carta, ao menos isso eu deveria ter feito... de repente, eu tivesse viajado até lá, mas isso seria bem mais difícil, afinal nem para ligar eu pude gastar um dinheirinho... nem para escrever uma carta em resposta eu achei tempo...
Meu filho ainda é pequeno, tem 3 anos e muita coisa tenho ainda para lhe mostrar. Vou lhe ensinar a matear e ensinar da importância que tem este momento junto ao chimarrão. A canastra vai demorar mais tempo para ele aprender, mas também está na lista das coisas que faço questão que ele saiba. O golfo infelizmente não faz parte desta lista, afinal nem eu lembro mais... E os Fortes erguidos para proteger as fronteiras nos tempos de guerra... quero levá-lo até lá e contar-lhe a história... O principal de tudo, no entanto, é que saiba fazer amigos e saiba conservar suas amizades não apenas na lembrança (como fiz com meu grande amigo), como no dia-a-dia, não deixando que se perca o contato por maior que seja a distância.
Existe uma frase que já ouvi algumas vezes: "Lembrar-se é Viver outra Vez". Lembranças foram o que restaram da grande amizade com Santiago. Ainda assim, acredito que hei de reencontrar meu amigo e sua família sempre tão simpática, que me deixaram na lembrança a melhor parte de minha infância.