A tal senhora

Era uma tarde de verão, Juliana vinha apressada até que decidiu parar na praça. Logo avistou o carrinho de sorvete. Passou a mão no rosto e sentiu o suor. A roupa meio que “colava” no corpo. Lambeu os lábios e decididamente andou até o vendedor. Pediu, foi atendida e passou a saborear o gelado. De repente seus olhos pararam numa senhora, branca, corpo médio, lá com seus sessenta anos. Reparou que a tal senhora trabalhava na limpeza da praça. Mais uma vez sentiu o calor quando notou o uniforme azul-marinho de brim que ela vestia e ficou impressionada com o empenho de quem catava um por um, cada objeto que sujava o local. Juliana sentou em um dos bancos e continuou a olhar. Pelo menos o tempo em que saboreou o sorvete, pensou em quanto tempo fazia da praça sua rota diária e que durante este mesmo tempo, nunca parou para observar que ali havia uma pessoa que zelava pelo bem estar da multidão que, assim como ela, desfrutava da beleza do lugar. Viu quando um rapaz ignorou a lata do lixo a menos de um metro dele, e jogou o papel de bala no chão; viu também quando um grupo de estudantes deixou “a marca” de sua presença com papel de biscoito, embalagens de doces e latas de refrigerantes. Voltou o olhar para a senhora e percebeu surpresa, que nada do que viu tirou o sorriso dela, que pacientemente foi e catou cada papel, cada lata e os recolheu numa cambuca.

Não, definitivamente Juliana nunca pensou em casos como o que via àquela tarde, naquela praça. Logo ela, tão preocupada com o bem estar das pessoas. Logo ela que se indignava com a falta de respeito oficial reportada na segurança pública, nos hospitais, nas filas e nas tantas vidas que se perdiam em silencio. “Como um fato tão marcante nunca foi presente nela?” Perguntou.

Juliana levantou do banco e foi até a profissional da limpeza. Sem nada dizer, somente abraçou a dona, que mesmo com cara de surpresa, retribuiu ao abraço. Foi um momento marcante. Juliana sentiu seus olhos lacrimejarem.

Assim que saiu do abraço, ainda sem nada falar, seguiu seu rumo. Até que algo a fez voltar para perguntar: “Seu nome?” só que e tal senhora já não estava. Procurou, mas não achou. Sentiu uma ponta de tristeza, já que sem o nome ficava só a emoção. Continuou andando e pensando, nos tantos semelhantes que, simplesmente, são ignorados por nossa pressa e preconceitos. Seguiu em frente e não viu que, a certa distancia, a tal senhora a observava, com um papel de sorvete nas mãos e um sincero sorriso de agradecimento.