CONTOS PARISIENSES II - CAFÉ LES DEUX MAGOTS

Enquanto o Brasil comemorava o tricampeonato mundial de futebol, o pico da repressão na Ditadura Militar levou-me à França.

O mundo vivia dias de grandes mudanças. Os anos 70. Exilei-me e viajei por cafés, conversas e pessoas inimagináveis, embora tão iguais...

Naquela manhã sentei-me no terraço do Café Les Deux Magots ¹ para apreciar o boulevard, trazia comigo o Le Figaro a fim de acompanhar os acontecimentos e a morte do General De Goulle, à véspera. Um casal habitue chamou-me a atenção e, por cima das notícias, não pude deixar de acompanhar mais uma discussão calorosa e... surpreendente.

- Mas eu não posso largar tudo assim, Amelie...

- Então você não me ama é isso? É isso Jean?

- É claro que te amo, mas tenho uma vida,... filhos e não é assim que se resolvem as coisas num repente.

- Você chama isso de repente? Já estamos juntos as escondidas há mais de três anos...

- Espere um pouco mais, me dê mais uns meses para ir preparando as crianças.

- Desde que nos conhecemos você me diz que precisa preparar as crianças, daqui a pouco serão dois homens, vivendo cada qual a sua vida. E que desculpas você vai me dar depois?

- Você tem toda razão Amelie. Eu sou um fraco, um covarde...

- Sim Jean, é assim que te vejo. Não são três meses. Sempre esperei por suas decisões, mas o tempo está passando...

- Por favor, Amelie, mais uns meses apenas e eu resolvo tudo com Violette e as crianças...

Foram interrompidos pelo pedido.

Enquanto o garçom os servia não trocaram palavras, apenas olhares. Sozinhos, novamente, imaginei que continuariam a discussão. E, em silêncio, eu dizia-me onde iria dar: nada resolvido, alguns beijos apaixonados e, certamente, a cama ardente onde Amelie extravasaria toda sua dor e a longa espera. E Jean a recompensaria com um desejo quase dependente.

O diálogo não continuou. Ficaram em silêncio por um longo tempo. Apenas o olhar falava e dizia tudo.

Dispersei-me olhando o vai e vem do boulevard e novamente entretive-me às notícias.

Já havia me esquecido do apaixonado casal, quando de repente uma linda mulher dirige-se aos dois.

- Olá Jean! Então, resolveu o seu problema?

Perguntou a mulher com tom sarcástico e a voz rouca.

- Calma, não se precipite...

Respondeu Jean sem pronunciar seu nome.

- Há quatro anos você me repete a mesma coisa Jean: Não se precipite...

Amelie ameaçou levantar-se e Jean, intercedeu:

- Aonde vai? Ainda não terminou sua salada...

Amelie estendeu a mão e se apresentou a mulher:

- Muito prazer sou Amelie

E a mulher, quase sem palavras, apresentou-se surpresa:

- Sou Marie, muito prazer.

Voltei na manhã seguinte ao Café Les Deux Magots e ouvi rumores...

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1 - Quando for a Paris visite:

Café Les Deux Magots

CAFÉ - RESTAURANT

6 place Saint-Germain-des-Prés - 75006 Paris

Réservation uniquement par téléphone : 01 45 48 55 25