Encontro No Metrô

- Oi – cumprimentou a simpática Lizie, uma adorável garotinha de 6 anos, que estava indo para a escola com a mãe.

Relutando o velho que estava ao seu lado respondeu:

-Olá.

A mãe de Lizie fez sinal para que ela se calasse mas não adiantou, como o velho respondeu ao cumprimento dela era o bastante. Ele ia ter que interagir.

- Qual seu nome? – quis saber a garotinha.

Alguns segundos em silêncio e ele disse:

- Marco.

A mãe de Lizie percebia a má vontade do idoso e se sentia envergonhada.

- Pra onde o senhor está indo? – Lizie insistia na conversa.

- Vou para qualquer lugar.

- Qualquer lugar?

- É.

Houve alguns segundos de silêncio e Marco pensou que ela tinha desistido. Bobagem, ela só estava digerindo as informações.

- Ninguém pode ir a qualquer lugar, você pode se perder.

- Eu posso e não vou me perder – Resmungou o velho decepcionado enquanto mexia na bengala.

O metrô parou numa estação e muitas pessoas desceram.

- O senhor tem esposa?

- Não.

- Tem algum filho?

- Não.

- Tem amigos?

- Não.

- Uma namoradinha? Hum?

- Não.

- O senhor está indo ao médico?

- Não.

- Tem uma casa?

- Sim.

- Ufa – Ela suspirou – Pelo menos isso.

- Lizie! – repreendeu a mãe em tom severo.

Ela ignorou a mãe.

- O senhor gostou de mim? – Lizie parecia não entender que a conversa era quase um monólogo.

- Até podia gostar se você não tivesse boca. – Marco pensou ter nocauteado-a.

Engano.

- Então não gosta, né? Fico muito triste, de verdade – E fez ela um bico.

Mais alguns segundos passaram lá ia ela de novo.

- O senhor já gostou de alguém?

Marco olhou para a garotinha sentindo uma profunda raiva subir por dentro dele, fazendo-o lembrar de sua falecida esposa, ele sentia tanta, mas tanta saudade que quase sentia cóleras.

- Já – disse ele. – Há muito tempo.

- Isso é muito bom. – Lizie começava a fazer dobraduras num papel. – Porque o senhor não sorri?

- Por que os meus dentes estão num caixa em casa.

Lizie fez uma careta terrível de nojo.

- Eu gosto do senhor, Marco. – Lizie sorriu.

O velho Marco não sabia exatamente o que sentir, espontaneamente sorriu.

- VOCÊ RI SIM! – A menina quase gritou, algumas pessoas olharam para ela curiosas – E tem dentes!

- Esses eu comprei.

Ela estava quase satisfeita, Marco já não sentia mais tanta raiva.

- E então, vai me dizer pra onde está indo? – Lizie insistia cm isso.

- Lugar nenhum. – Lizie fechou a cara – De verdade, eu sou idoso e não pago o metrô, fico indo e voltando sem saber o que fazer com o meu tempo livre que é... Sempre.

A estação que Lizie descia havia chegado, a mãe da garota, envergonhada, não disse nada mais que um “vamos” e puxou a menina pelo braço. Lizie sorriu para o velho e deu um coração de papel dobrado. Marco recebeu retribuindo o sorriso.

Marco passou a visitar Lizie com uma certa freqüência nos horários de saída da escola, seis meses depois ele faleceu enquanto cochilava no assento do metrô.

Olavo Ataide
Enviado por Olavo Ataide em 07/01/2010
Código do texto: T2016513
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