Conversa com uma mulher da vida


-- Oi, que horas são?
-- Não sei!
-- Tem cigarro?
-- Não!
-- O que é você tem?
-- Pressa!
-- Pra que pressa, fica conversando um pouquinho!
-- Não posso, vou trabalhar...
-- Que horas você entra?
-- Às 6 horas!
-- Então falta pouco para as 6? Porque não falou que era essa a hora?
-- Não tinha certeza...
-- Posso lhe acompanhar?
-- Se andar depressa!
-- Mas estou de salto?
-- Sinto muito!
-- Já sei, está com medo de ser visto comigo!
-- Por quê?
-- Você é casado...
-- Isso não é um problema!
-- Então me acha atraente?
-- Sim!
-- Melhor que sua esposa?
-- Não!
-- Então ela é melhor do que eu?
-- Não!
-- Então o que?
-- Ela não é melhor nem pior, só isso!
-- Você tem uns trocados? A noite foi fraca...
-- Não!
-- Só um para o café!
-- Não tenho nada!
-- Nem uma moedinha?
-- Nem uma moedinha!
-- O que vai fazer depois do serviço?
-- Ir pra casa!
-- Correndo?
-- Voando!
-- Já sei quem manda lá!
-- Isso não existe em minha casa!
-- Então quem manda lá?
-- Ninguém!
-- Como ninguém manda?
-- Resolvemos tudo juntos!
-- Família moderna!
-- É, moderna!
-- Chegamos, você sabe, eu moro ali naquela casa branca... Vemos-nos amanhã?
-- Talvez!
-- Vá me fazer uma visitinha qualquer hora...
-- Não posso!
-- Já sei, me acha imoral!
-- Não é isso!
-- O que então?
-- Não concordo com seu vício!
-- Que vício?
-- De fazer por prazer!
-- Não é por prazer, é por necessidade!
-- Isso é desculpa!
-- Não é não! Não tive opção!
-- Vida fácil!
-- Você acha que é fácil, zanzar a noite toda sem nada ganhar e vir embora com um pé rapado sem um tostão nos bolsos para me pagar um café?
-- Não, não é fácil!
-- Então porque me julga?
-- Eu não julgo? Queria que tivesse outra vida! Falo isso todos os dias, já fazem meses!
-- Pra que?
-- Pra sofrer menos!
-- Quem me garante?
-- Eu!
-- Ora, porque justo você?
-- Porque sou feliz!
-- Como pode ser feliz, pobre desse jeito?
-- Tenho alguém me esperando!
-- Eu também tenho dois filhos para criar!
-- Então devia servir de exemplo!
-- Mas eu já sou um exemplo! Não mato, não roubo, não uso drogas!
-- Mas se vende!
-- Vendo o que é meu!
-- E a dignidade?
-- Não enche barriga!
-- Não vamos chegar a lugar nenhum!
-- Não vamos mesmo!
-- Bom, vou entrar, bater o cartão de ponto!
-- Certo, amanhã lhe encontro no caminho de novo?
-- Sim!
-- Então até amanhã meu irmão!
-- Até! Manda um beijo para os meus sobrinhos...

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Nota do autor: esse diálogo é pura ficção!

Abraços!
JGCosta
Enviado por JGCosta em 06/01/2010
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T2014029