Natal Com Tia Marta

Maria Clara não está muito animada com esse Natal. O irmão que agora estuda e trabalha em Minas Gerais não poderá vir; a tia que ela mais gosta também não; resultado...ah não, Natal na casa da tia Marta, de novo não!

Tia Marta é o tipo de pessoa que consegue dar exatamente os presentes que a vítima mais detesta. Não pelo preço ou qualidade. É diferente, parece que ela tem a varinha mágica invertida ou algo do gênero.

Houve uma época em que a garota não usava nada verde, por considerar uma traição ao seu time, Corinthians, que na verdade era o time do avô, do irmão e acabou sendo adotado por ela.

No Natal passado, a garota estava no auge da fase “verde só a natureza e a minha salada”. Toda a família, amigos, vizinhos, gatos e cachorros da redondeza sabiam disso.

A festa foi na casa da tia Marta, com direito ao tio vestido de Papai Noel e um monte de amigas da tia que comiam o tempo inteiro e apertavam as bochechas dos menores de vinte anos.

Chegada a hora da troca de presentes, tia Marta aparece com um volumoso presente envolto em papel metálico, do tipo espelhado e...verde!

Maria Clara vê a tia caminhar em sua direção com aquele sorrisinho de “você não vai acreditar”. Conforme a tia avança em sua direção ela tem a impressão de que o pacote vai crescendo como essas melecas pavorosas que aparecem em filmes americanos sobre alienígenas.

Corre os olhos pela sala à procura da mãe e vê que ela está tentando impedir que a avó, de noventa anos, pergunte a uma amiga da tia Marta para quando é o bebê. Pelo desespero estampado no rosto da mãe ela tem certeza que a dita senhora não está grávida.

Resignada com a delicada situação em que a mãe e ela se encontram, a garota resolve, então, apelar para a embromação. Começa a raspar levemente as unhas, supostamente tentando tirar a fita adesiva sem destruir o papel verde espelhado. Mas, tia Marta que não é simplesmente uma tia, mas sim a tia Marta, e só quem tem uma sabe o que isso significa, avança sobre o embrulho dizendo:

- Assim não, bobinha - Tem que rasgar o papel, por mais lindo que seja pra dar sorte! –e, sem piedade, parte para a destruição.

Na medida em que rasga o papel, pedaços dos mais variados tons de verde saltam diante dos olhos da garota; calça, camiseta, jaqueta e, por incrível que pareça, um par de meias!

Tia Marta colocava as peças próximas ao corpo da garota e chamando a atenção de todos perguntava se não achavam que ela ficava liiinda - assim mesmo, esticando os “is” - com aqueles tons de verde.

A menina, com um sorriso amarelo pregado no rosto vermelho, olhava em volta à procura da mãe ou de um buraco bem fundo, o que aparecesse primeiro.

A mãe surgiu antes que o buraco e, mal conseguindo disfarçar a vontade de rir, abraça a garota e fala baixinho:

- É...Natal colorido!

A garota, olhando a avó que escapulira e agora passava a mão na barriga da amiga da tia, responde:

- Colorido e irado!

A mãe, acompanhando o olhar da filha, fica pálida, depois rosa e vai assim até atingir o vermelho, põe a mão no peito e suspira. Maria Clara, segurando uma gargalhada, abraça a mãe e manda:

- Manhê...relaxa!

Sai para o jardim, arrastando a mãe e fala baixinho:

- Abafa o caso...

Lívia Where
Enviado por Lívia Where em 04/01/2010
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