A PSICÓLOGA
A tudo ela dizia:
Eu sei, eu sei! Ah, isso eu sei!
Para ela tudo tinha explicação e remédio. Com um semestre de faculdade de psicologia, já prescrevia receitas de como ser feliz e de como viver da melhor forma.
A vida, dizia ela, deve ser assim e assim. Você, dizia ela, deve ser assim e assim. Seu marido deve agir de maneira tal.
Romântica. Gabava-se de ter uma filha que aos vinte e três anos de idade ainda não havia se “entregado” a qualquer um.
Esperava ela que um príncipe viesse num cavalo branco, é claro; um homem lindo, de boa educação, branco, é obvio; bem vestido, com uma conta bancária polpuda e um sorriso de propaganda de creme dental.
Esse cara talvez exista. Para quem acreditar em vida fora da terra é possível que haja algum extraterrestre com todas essas características.
Escritora. Lançou um livro que ela mesma pagou pela sua edição com 10 exemplares. Nunca li um livro com tantos lugares comuns e tantos achismos e preconceitos mal escamoteados como este. Fora que era muito mal escrito. E pior é que tive que dizer que o livro era bom.
Contudo, a mulher que prescrevia a felicidade e o bem viver a todos era separada do marido, mal resolvida financeiramente e cheia de contradições. Em nada se acertava na vida.
Entendo-a, ela somente queria ser tudo o que não era, somente isso. Somente queria prescrever aos outros uma vida que ela mesma não conseguia viver, somente isso. Somente queria uma vida idealizada, longe da trágica realidade humana, somente isso.