PEÇA PARA O JÁ – UM GRUPO DE TEATRO

Cena 01:

A mãe sai para trabalhar e o pai fica em casa. A filha mais velha assiste TV. A outra filha entra emocionada e preocupada e diz:

_ Pat eu estou grávida. Você precisa me ajudar?

_ Ora! Vá falar com o pai eu por acaso sou o pai dessa criança. Diz Patrícia irritada.

Ana sai então à procura do namorado.

Cena 02:

_ Ele não quis assumir! Papai vai me matar quando souber. Diz Ana em desespero.

_ Acalme-se! Grita Patrícia.

Ana contêm o choro e olha para a irmã como a suplicar uma ajuda. Patrícia anda dum lado para o outro como quem conversa consigo mesmo.

_ Eu vou te ajudar! Você vai fazer um aborto. Diz Pat.

_ Não quero! Reluta a outra.

_ Não vai doer nada. E isso aí nem é gente. Ou o aborto ou uma surra mortal do pai, você decide?

Depois de um tempo Ana concorda com Patrícia e as duas saem juntas para a casa onde se realiza o aborto.

Cena 03:

A mãe chega em casa e assim que entra o marido começa o interrogatório.

_ Onde esteve? Diz seu José, que estava meio embriagado.

_ Trabalhando! Responde Maria já se encolhendo num canto.

_ Até essa hora?

_ São seis horas José.

Ele olha para o relógio, mas não vê nada.

_ Onde estão as meninas?

_ Eu é que sei! Você que é a mãe?

_ José você fica em casa, podia olhar as meninas.

_ Tá me recriminando! Eu vou te mostrar. Diz José juntando Maria pelos cabelos e a conduzindo até o quarto, e lá ele lhe aplica um corretivo. Maria nem grita mais, aprendeu a apanhar calada.

Cena 04:

Quando as meninas chegam. Ana chega muito mal e Patrícia vem chorando.

_ O que houve? Pergunta Maria aflita.

_ Nada mamãe. Diz Patrícia.

_ Mas, vocês estão chorando?

Porém antes que as meninas possam explicar José entra na sala e começa a gritar com as meninas.

_ Isso é hora de duas moças de respeito chegar em casa? Suas... Antes que ele complete a frase Patrícia grita.

_ Suas o que seu bêbado! Diz Patrícia.

_ Acalmem-se meninas, não falem assim com o seu pai, vão já para o quarto. Diz Maria tentando proteger as filhas.

José então volta sua fúria toda para Maria e a arrasta novamente ao quarto, onde a agride violentamente.

Cena 05:

Dona Júlia é a vizinha de Maria e fica triste ao vê-la toda machucada e resolve intervir. Comovida dona Júlia acorda cedo e espera por Maria no portão.

_ Maria venha cá um minuto por favor? Pede dona Júlia.

_ Na volta! Agora não posso estou atrasada. Diz Maria escondendo o rosto.

_ Eu vou ficar te esperando!

Maria apenas sorriu e se foi. Às cinco horas dona Júlia postou-se ao portão. Estava decidida a conversar com Maria de qualquer jeito e ali ficou até que a avistou e foi em sua direção.

_ Olá Maria! Como você está?

_ Estou bem! Respondeu Maria sem levantar o rosto.

_ Eu estava lhe esperando. Vamos entrar fiz café, bolo e tenho dois ouvidos minha irmã.

Maria se comoveu diante da doçura daquela mulher, suas palavras chegaram como balsamo e o choro foi compulsivo. Maria entrou, sentou, acalmou-se, tomou chá, comeu bolo e sorriu. Depois de um tempo dona Júlia começou a conversa.

_ Maria minha irmã que marcas são essas? Perguntou carinhosamente dona Júlia.

_ São minhas vergonhas! Respondeu Maria.

_ Maria não sinta vergonha, só não permita mais que isso ocorra.

_ O que está dizendo? Estais loucas! Se eu tentar reagir, eu apanho dobrado!

_ Oh! Minha irmã além das leis dos homens, há as Leis Soberanas de Deus, que nos criou para sermos felizes e para nos melhorarmos. Sentindo medo e ódio, você não está se melhorando e nem contribuindo para o crescimento dos seus. Suas filhas? Você quer isso para a vida delas?

_ Não! Eu quero que elas sejam felizes. Disse Maria chorando.

_ Então, ensine o caminho, liberte-se dessas correntes, que você colocou em seus pulsos.

_ O que está dizendo? Que eu sou a responsável por tudo isso?

_ Há outra Maria aqui por acaso? Há alguém que esteja vivendo a sua vida por você?

_ Não.

_ Então. E você quem permite passar por tudo isso. A mulher não deve andar nem atrás, nem na frente do homem, mas sim ao seu lado. Disse dona Júlia.

Maria estava tão desesperada que tudo aquilo começava aparecer uma verdade incontestável.

_ Na primeira vez que José me bateu eu sai de casa e ele chorou e pediu para eu voltar, dar mais uma chance. Eu gostava muito dele e então voltei e ele até melhorou um pouco. Mas, depois ele começou a beber e ficou desempregado e foi ai que as coisas pioraram, mas ai já tinha as crianças e é duro criar filho sem pai. Disse Maria como se quisesse justificar-se.

_ Lá na sua casa vocês oram, fazem algum tipo de estudo do evangelho?

_ Não. A gente vai na igreja de vez enquanto, mas é só.

_ O Evangelho no Lar é um momento para a família se reunir para orar, pedir forças para as lutas do dia-a-dia, ler uma página renovadora, refletir, e buscar seguir as lições do Cristo. E você vai ver como as coisas vão melhorar.

_ É que a gente não mexe com macumba. Assim como você. Diz Maria meio sem jeito.

_ Não sou macumbeira, sou espírita. E o espiritismo é uma religião que traz luz, força, entendimento a nossa vida. O Espiritismo nos convida todos os dias a pratica do bem, a sermos caridosos, assim como todas as outras religiões.

E assim dona Julia mostra os livros e Maria olha e lê uma passagem do Capitulo XXII do Evangelho em voz alta.

_ “Deus quis que os seres estivessem unidos não somente pelos laços da carne, mas pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transportasse para seus filhos, e que eles fossem dois, em lugar de um, a amá-los, a cuidá-los e fazê-los progredir.” O que significa isso? Pergunta Maria chorando.

_ Que o amor é o laço que nos deve unir sempre e que nós os pais temos responsabilidades para com todos aqueles que Deus nos confiou como filhos.

_ Eu preciso ir. Mas obrigado!

_ Leve esse livro e leia-o. E pense no que você está ensinando para suas filhas, antes que uma tragédia ocorra. Diz dona Júlia.

Maria pega o livro e se dirige para casa.

Cena 06:

Assim que Maria entra em casa, encontra o marido possesso, pois as filhas se trancaram no quarto.

_ Finalmente chegou em casa! Onde a senhora estava?

_ Parei na vizinha uns minutinhos. Disse Maria estranhamente calma.

_ Suas filhas estão trancadas no quarto, vá lá ver. Disse José num tom mais ameno.

Maria põe o livro sobre a mesa e José olha e exclama.

_ O Evangelho Segundo o Espiritismo! Você estava na casa da macumbeira! E parte para cima de Maria que lhe olha nos olhos e José então se volta para o livro e o rasga todinho.

_ Não! Não faça isso! É emprestado!

José a empurra e sai, Maria chora e junta os pedaços e os coloca dentro de sua bolsa.

Cena 07:

As meninas estão no quarto, Patrícia chora e Ana queima de febre, mas o medo as impede de pedir a ajuda dos pais. João vem procurar Ana em sua casa.

_ Dona Maria eu posso falar com a Ana? Pergunta João.

_ Só se for rápido, pois o José já deve estar voltando.

_ Quem é você? Diz José que acaba de entrar em casa.

_ Esse é o João amigo das meninas. Diz Maria que voltou correndo para sala ao ouvir os gritos de José.

_ Você tá pensando que pode vir aqui na minha casa, falar com as minhas filhas. Diz José segurando o menino pelos colarinhos.

_ Larga o menino José. Diz Maria empurrando o marido.

Assim que José o solta. João sai correndo.

_ Você ta ficando corajosa? Fez uma macumba, vem cá que eu vou te ensinar e leva Maria para o quarto e bate nela novamente. Depois sai e vai beber no bar.

Cena 08:

Patrícia vem chamar a mãe, pois Ana começou a delirar de febre.

_ Mãe?

_ O que é minha filha. Diz a mãe abrindo a porta do quarto.

_ É a Ana. Ela está passando mal.

_ O que foi?

_ Não sei.

Maria vai até o quarto, acompanhada por Patrícia. E fica desesperada ao ver o estado da filha, parece ouvir a frase da vizinha a anunciar uma tragédia. Corre até a casa de dona Júlia e pede ajuda.

_ Minha filha ta muito mal! Ajude-me!

_ Maria, é claro! Diz dona Júlia correndo para apanhar as chaves do carro.

Cena 09:

No Hospital Maria é informada da situação da filha.

_ Sua filha praticou um aborto. E, há hemorragia está muito forte e não sei se vamos conseguir conter. Disse o Dr. André.

_ Oh! Meu Deus como isso ocorreu. Diz Maria se abraçando com dona Júlia.

_ É culpa minha.... Balbucia Patrícia.

_ Como assim? Pergunta o médico.

_ Eu a levei para fazer o aborto na casa de dona Marrocas. Lá não tem muitos recursos, mas ela faz mais barato.

_ Por que vocês não me contaram? Eu poderia ajudar?

_ Mãe a senhora não consegue nem se ajudar. Apanha todo dia... Patrícia para quando vê a mãe chorar.

_ Eu vou fazer o possível! Diz André comovido com a dor daquelas pessoas.

Júlia abraça as duas. E elas choram.

Cena 10:

Depois de algum tempo o médico volta.

_ Nós conseguimos estabilizar o quadro, mas caso a hemorragia volte nós teremos que opera-la, vamos remover o útero. Só mais uma coisa aqui no hospital só pode ficar uma de vocês.

_ Eu fico. Disse Maria.

_ E eu mãe? Eu não posso voltar para casa sozinha. Disse Patrícia meio desesperada.

_ Não se preocupe você fica lá em casa. Disse dona Júlia.

_ Obrigada! Disse Maria abraçando Júlia.

Cena 11:

Em casa de dona Júlia.

_ Eu não tenho roupa, precisava ir em casa buscar, mas não tenho coragem.

_ Tudo bem. Você pode usar as roupas da minha filha.

_ Não sabia que a senhora tinha filha. Onde ela está?

_ Ela morreu. Mas as roupas estão aqui e serão úteis.

Patrícia banhou-se, vestiu roupas limpas e cheirosas e sentou-se próxima a uma estante de livros e pegou um livro e leu o capitulo V do Evangelho e se sentiu consolada. Cedo se levantou.

_ Vou substituir minha mãe.

_ Tome o café da manha primeiro.

_ Eu li um livro ontem. Eu gostaria de saber se eu posso emprestá-lo.

_ Que livro?

_ Aquele.

_ O Evangelho. Excelente escolha. Eu fiz uma mala com roupas para você levar, pois sua mãe não vai voltar aqui para se banhar, então ela toma banho no hospital, veste as roupas limpas e eu a levo para o trabalho. Certo!

_ Obrigada! Eu não imaginava que a senhora fosse assim.

_ Sou melhor ou pior do que você imaginava?

_ Não tem comparação.

Júlia levantou e abraçou Patrícia e seguiram para o hospital.

Cena 12:

A noite foi difícil para Maria. Os pensamentos lhe acusavam sua covardia. Tomou banho e vestiu a mesma roupa e seu estômago roncava. Tinha fome, mas não era só de pão, era fome de coragem, de vida, de felicidade.

_ Mãe cheguei. Dona Júlia ta lá embaixo esperando a senhora, ela vai levá-la até o seu serviço e mandou essas roupas para a senhora vestir e aqui tem leite com café e bolo.

_ Que anjo é essa mulher!

_ É um anjo mesmo. Mãe você sabia que ela tinha uma filha? Perguntou Patrícia enquanto a mãe trocava a roupa.

_ Não. Nunca vi ninguém com ela. Só aqueles pobres que ela acolhe lá na casa dela de vez enquanto.

_ Pois é a filha dela morreu. E a Ana? O que o médico falou?

_ Ela está melhor, mas ainda não está fora de perigo.

_ Me desculpe mãe?

_ Nossa vida vai mudar Pat. Eu prometo!

As duas se abraçaram. Dona Júlia levou Maria para o trabalho e voltou para casa e seus afazeres.

Cena 13:

À tarde o quadro de Ana se agravou e o médico teve que fazer a cirurgia e remover o útero, pois a hemorragia não parava. Quando Maria chegou ao hospital foi informada que ninguém podia ficar, pois ela estava na UTI.

_Vão para casa! Diz o médico.

_ Oi! Como esta tudo? Diz dona Júlia que estava chegando para pegar Patrícia.

_ Ainda bem que a senhora chegou, pois a menina teve que ir para a UTI depois da cirurgia e elas não podem ficar aqui. Diz o médico.

_ Tudo bem doutor! Eu as levo para minha casa.

Cena 14:

_ Eu preciso ir lá em casa avisar o José.

_ Quer que eu lhe acompanhe? Pergunta dona Júlia.

_ Não! Filha você quer que eu traga suas roupas? Claro se nós pudermos ficar aqui? Diz Maria olhando para dona Júlia.

_ Mas é claro!

_ Mais uma vez obrigada.

_ Não tem de que.

_ Queria lhe perguntar algo, posso?

_ Sim.

_ O que aconteceu com sua filha?

_ Ela morreu em um acidente de carro junto com o pai. Meu marido, assim como o seu bebia, me batia e eu permitia, um dia minha filha se escondeu dentro do carro para não ouvir os gritos, os tapas, os pontapés,... (a voz embarcou e dona Júlia parou por uns minutos). Depois de me espancar ele entrou no carro e saiu em alta velocidade e bateu de frente com uma carreta. Foi assim que perdi minha família nesta vida. A surra foi tão violenta que eu só acordei dois dias depois do acidente no hospital.

_ Sinto muito!

_ Eu também! Não deixe a sua história ficar parecida com a minha.

Cena 15:

Assim que Maria entrou em casa ouviu barulhos vindo do quarto. Entrou devagarzinho e pegou José com outra mulher em sua cama.

_ José! O que é isso?

_ O que você quer? Você me abandonou?

_ Que abandonei! Nossa filha Ana quase morreu, eu tentei lhe avisar que eu estava no hospital, mas você não atendeu o telefone, agora eu sei por quê? Disse Maria saindo do quarto.

_ Peraí Maria. Do que você está falando? Disse José a seguindo.

_ Das nossas filhas que tiveram um problema e que ao invés de nos procurar, foram procurar estranhos e quase perdemos nossa Ana. Hoje eu descobri que me amo e amo muito minhas filhas e que não quero que elas vivam a vida que eu vivi com você, por isso eu vou largar você. Eu vou pegar minhas coisas.

_ Que isso Maria, você não pode me largar?

_ Na verdade, eu já larguei você no dia que eu permiti que você me espancasse. Nós já estamos separados, por isso você tem outra em nossa cama.

_ Mas, Maria ninguém separa o que Deus uniu.

_ Bem lembrado! Ninguém separa o que Deus uniu, ninguém separa o Amor porque é isso que Deus uniu. É isso que Deus une sempre o AMOR! Você não me ama e eu não te amo, mas a gente tem que amar os nossos filhos e você precisa se tratar.

_ Eu vou te ensinar mulher! E levantando a mão para Maria foi em sua direção.

_ Se me bater hoje você vai ver o sol nascer quadrado amanhã.. Disse Maria fitando-o nos olhos. E havia tanta firmeza naquele olhar que José recuou.

_ Tudo bem! Disse José caindo sobre o sofá.

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Quando entreguei a peça a jovem do grupo, ela me disse:

_ Dramática demais! Você exagerou nesta história.

_Não minha cara não exagerei apenas uni duas histórias distintas em uma só.

_ É tudo real?

_ Sim! Tudo real.

_ Mas o mais importante dessa história é tirarmos a grande verdade da vida: “Deus nos criou para sermos felizes, e o caminho da felicidade sempre é escolha nossa.” Entendeu?!

_ Sim!!

_ Então o que esta esperando para escolher o que de melhor Deus nos oferece. E você que está lendo o que você deseja fazer hoje: ser feliz ou infeliz!!! Lembre-se a escolha é sua!