PAIXÃO PLATÔNICA

eu fico imaginando o que se passa na cabeça de alguém, pra depois de 4 anos de paixão platônica (uau), escrever um e-mail pro cara se declarando.

que tipo de pessoa faria isso?

então, são exatamente 1:00 da manhã de uma sexta quente, e cá estou - tentando subverter essa semana insípida sem respostas alguma do 'cara do e-mail'.

realmente, eu...eu não sei por que fui enviar, talvez eu nem sentisse mais nada.

cara, talvez eu estivesse com a auto-estima um pouco elevada, por conta das saídas com o cara de abdómen rasgado - mesmo sabendo que o que ele queria era abusar da filosofia barata comigo - filho do amigo do cara do mercadinho que minha avó frequenta; é um pouco longe do foco, porém era um cara de abdómen rasgado, que adorava falar absurdos - subverti com camus.

ou talvez tenha tido uma semana de carência-mor afetiva e...e...precisasse de alguém, aí por analogia pensei nele, e por um segundo tudo veio á tona.

ou ainda, o que eu acho mais lógico e conciso: eu sou masoquista mesmo e quis me martirizar um pouquinho, afinal é dezembro.

sem contar que em dezembro rola a mágica da compaixão...

ok, não estou triste - só estou um tanto quanto frustrada, talvez eu precise de um doce, uma massa, sei lá uns canapés...

será que ele levou meu e-mail a sério? por que, talvez, ele possa ter levado na brincadeira, do tipo: ah, acho que ela acha que eu não tenho niguém e decidiu me passar uma cantada 'excêntrica'

ou

'ela não tem niguém e quer alguém - ou qualquer um'

ou ainda:

'cruzes, 4 anos? ela é sociopata, que horror, vou mudar de e-mail!'

eu avisei no e-mail que poderia soar como sociopatismo, eu...avisei...

o fato é que, hoje não me faz falta querer gostar.

acho que eu precisava contar, precisava dizer á ele: olha, amigo, eu gostei por 4 anos de você, e você nada! cara, míope você? você subvertia meus olhares não tão pueris assim com aquele velho papo: 'minha amiguinha pequena e fofinha' - aham, que queria te tirar do platô da santidade!

você sabe que estou usando de eufemismos fofos e de uma castidade-mor...

eu adoro sinceridade, poderia ter dito que eu não fazia seu tipo, que você prefere mulheres mais altas, mais centradas, menos hipocondríacas, com a boca mais rosada.

inventasse uma desculpa, só pra eu não me sentir 'tão pequena'.

ok, talvez eu não adore tanto a sinceridade.

escrevi também que não precisava de um feedback, menti, por que minto ás vezes; você deveria saber disso.

que tipo de cara, aliás que tipo de pessoa não responderia a alguém que lhe manda um e-mail, contando algo tão mais tão constrangedor e íntimo.

eu teria um pouco de compaixão.

sério! responderia, óbviu, que se não quisesse nada e achasse um absurdo que, existem tantas pessoas belas e significantes no mundo, não ligue pra mim, que sou um egocêntrico, gordo, metido e filho da puta!

o que, óbviu não adiantaria,

pois tenho quedas por gordos, metidos, egocêntricos e filhos de uma puta!

[...]e sem contar que falando em egocêntrismo...adoraria receber um e-mail de um desconhecido íntimo dizendo ser apaixonado por mim durante 4 anos!

adoraria mesmo! é tão absurdo e narcisista - mas sei lá, eu gostaria.

talvez eu não tenha caráter.

será que ele não me respondeu por eu ser meio repugnate?

( essa é a hora em que eu penso em todos os adjetivos ordinários e clichês sobre alguém mal-amado; vou até a geladeira e pego aquele sorvete de passas ao rum que odeio, mas como, só pra estragar aquela dieta que eu nunca fiz - e me sentir um pouquinho culpada. )

aposto que se eu fosse loira, e um pouco menos eloquente...

poxa, vai ver é esse meu cabelo enrolado - nãooo!

[...]

eu até tentei fazer com que você não parecesse um babaca aqui, afinal aprecio você, mas acho que não consegui...

e olha que além do platonismo, me rendo á compaixão de dezembro...

Berenice
Enviado por Berenice em 18/12/2009
Reeditado em 18/12/2009
Código do texto: T1983865
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