FRUTA MORDIDA.

tive sonhos loucos, pirei no conhaque ontem - abusei dos versos sem métrica e destilei meu amor nosense para ambos os sexos (ontem o sexo não existia, alguém percebeu?).

vesti o uniforme para sede que tenho, de olhar por aí, de enchergar o exageiro e por ele dar uma repousada de olhos, e quem sabe, deixar-me levar pelos absurdos pendentes 'na obra'.

em vão, nada me fascinava mais do que a espera eterna na sala vermelha, debaixo da pista de dança - piso acrílico transparente - meu teto me enebriava, formas e deformas á mostra.

e a fome fast-food fazia presente no teto transparente-vermelho-pecado.

alimentando o meu lixo orgânico...

me contento com pouco ás vezes. não foi o caso de ontem. queria mais, mais do que a noite insípida vermelha-gozo-orgânica podia me dar.

- por favor, me dá um maço desse cigarro vagabundo, e duas doses de tequila. seja gentil meu caro, tenho uma certa pressa.

-oi querida, claro um só segundo. já trago pra você. - adoro viados, gays, bichas, boiolas, queima rosca, barbies com pinto e afins, são tão gentís e rápidos...

- aqui está!

- muito obrigada caro, noite boa e paz pra você!

deixei meu casaco sobre a poltrona azul gozada e sai com minha regata azul tie-dye.

o ar úmido, e uns caras se pegando do lado de fora - que close eu daria - me deixaram excitada a andar por aí.

saudosismo bateu á porta, e isso me fez lembrar que logo meu celular tocará, e ela ficará preocupada dizendo: 'onde você está? você está bêbada sua cara de pau, volta pra cá!' - em tom mamãe-estou-mandando.

fui pegar meu celular velho e ainda emprestado da irmã, na bolsa velha também, desde as épocas das primieras paixões platônicas subvertidas em 'aulas de violão'; como eu disse, ás vezes me contento com pouco.

isso quer dizer que não tenho dom nem pra fingir...

que seja.

procurei o celular, mas minha bolsa é malandra, e das fissuras internas o celular fez foi se aconchegar, e ia tirar o menino de lá? não...deixe tocar...

minha irmã tem um mau-gosto do caralho - com todo respeito - tocava um música brega, um cara dizendo que sentia a falta dos beijos da mulher, e de seu cuidado explendoroso - estou sóbria demais pra esses sentimentalismos que pra mim, só são sentimentalismos-sexuais-de-carência velados (subvertidos em músicas bonitinhas).

não atendi ás mais ou menos 15 chamadas.

sentei na loja onde já tinha durmido uma vez, ao relento de meus...sei lá 17 anos.

eu gosto do gasto, vou me aconchegar nas entrenhas da calçada novamente, minha decadência-mor, droga - estou mal.

se eu sentar eu vou querer deitar, se deitar não levanto mais. eis a questão.

meu veneno anti-monotonia. usual-casual.

deitada percebo o desnível da calçada, e as trepidações que os carros, lá na rua de trás, fazem aqui. 'é o caos'.

droga, tudo gira...

'E se eu achar a tua fonte escondida

Te alcanço em cheio, o mel e a ferida

E o corpo inteiro como um furacão

Boca, nuca, mão e a tua mente não'

desencadeiam 'N' suposições, oposisões, dogmas, excitação. DROGA!

um blues, se ela tivesse um blues no celular...

eu vou lendo em mim, traços de outros, e vai me dando um sono...não vou nem discutir, que faça de mim um instrumento do sono mor em dias tépidos, úmidos e de cheiro de pimentão.

[...]

vadiagem tem sua hora.

meu relógico biológico - ás 7 estava de pé - num domingo ensolarado e risonho.

droga, lemento pelo meu casaco, preto desbotado.

coloco a bolsa tranversal, e vou em direção a padaria, café, café, café.

- seus putos, vocês estão aqui!

- não queríamos te acordar, estava adornada em seus fluídos corpóreos...

-moça, um café forte e um pão de queijo bem branquinho, por favor.

[...]

Berenice
Enviado por Berenice em 14/12/2009
Código do texto: T1976946
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