A Empregadinha.
A Empregadinha.
(Zésouza)
Outono de 1959, terceira série do ginásio, ele matando aula cuidando a empregadinha nova da casa na frente do colégio. Ela é bobinha, ela veio do interior eu vou dá uns apertos.
Passamos a tarde caminhando na cidade buscando flâmulas pras nossas coleções. Tardinha uma garoa fria na cidade do Rio Grande, na esquina das ruas Silva Paes e Duque de Caxias nos separamos e ele disse:
- VOU COMER A EMPREGADINHA.
Chego em casa a confusão; malas, trouxas, móveis sendo desmontados. O pai transferido para o Porto do Recife com urgência, o navio zarpava aquela noite.
Tristeza deixar a cidade onde nasci, a infância, os amigos, a namorada, o dezesseis anos. Nunca mais voltei lá.
Rio de Janeiro 2009, numa festa, eu olho, ele olha. É você ? Eu sou eu e tu és tu? Rapaz quanto tempo! Cinqüenta anos. O abraço, a alegria, a risada, a pergunta:
- E VOCÊ COMEU A EMPREGADINHA???
Sacode a mão, fica vermelho, sorri amarelo:
- É... Sabe?... É a avó dos meus netos.
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