O PASSEIO

Ana saiu de sua cidade natal em direção ao mar. Ela sonhava desde criança com esse encontro. O mar estava sempre presente em seus sonhos, o cheiro, o jeito com que as ondas batiam em seus pés empurrando areia por entre seus dedos, o despertar era cheio de saudade, um sentimento maravilhoso lhe enchia o coração: de gratidão, amor, esperança, desejo de reencontrar o mar, essa maravilha que Deus criou.

Com sua família chegou ao mar, lindo, imenso e azul. Sentiu Deus na brisa suave que tocou seu rosto ao chegar ao lugar tão esperado. Em sua intimidade suspirava: Oh! Deus muito obrigado por esta benção, como é belo esse presente Senhor da vida! De seus olhos brotavam lágrimas de agradecimento, de felicidade e de encantamento.

Passariam ali apenas alguns dias, toda a manhã saia para agradecer ao Senhor da Vida e para orar por seus irmãos.

Na quinta-feira foi despertada por uma voz que a chamava, acordou, olhou em volta e todos dormiam tranquilamente, então arrumou-se e saiu, o dia estava meio chuvoso e parecia que o sol não ia sair.

Ao longe enquanto orava avistou um jovem de bicicleta ao lado uma moça negra, abaixou as vistas e olhou novamente vendo agora apenas o jovem, sentiu seu coração apertar de repente, uma forte comoção lhe invadiu a alma, abaixou os olhos e seguiu em sua caminhada com o pensamento e as preces voltadas para aquele irmão que estava no barranco.

_ Senhora permite-me acompanha-la? Perguntou o jovem conduzindo a bicicleta.

_ Sim! Claro nem poderia impedi-lo já que a praia é pública, mas devo avisá-lo que sou casada. E num gesto automático mostrou-lhe a aliança.

_ Só desejo conversar! Disse o jovem meio constrangido.

_ Desculpe-me se o julguei. Meu nome é Ana e o seu?

_ Daniel! Disse o jovem sorrindo.

_ Bom dia Daniel! É um prazer te conhecer. É daqui?

_ Não! Mudei recentemente.

_ Veio de onde?

_ Rio Grande do Sul.

_ Deixou família para trás? Perguntou Ana, que parecia uma matraca.

_ Não, eu sou órfão. Disse Daniel com um pesar.

Ana sentiu o choque daquelas palavras. Silenciou por alguns instantes e pediu ajuda do Céu para dizer algo bom. Depois de alguns minutos perguntou: _ Mas com certeza fora adotado e tem uma grande família?

_ Não. Eu sou sozinho no mundo. Desde os meus seis anos que fujo das instituições, quando as coisas ficavam difíceis na rua eu voltava, mas sentia que lá ninguém me amava e então fugia de novo. Aos dez anos arrumei meu primeiro emprego depois disso nunca mais voltei. Como vê estou só no mundo. Daniel olhou para Ana e viu que seus olhos estavam marejados.

_ Não está pode acreditar, Deus está sempre conosco todos os dias. Tudo que a gente vive esta de acordo com duas leis: Necessidade e Mérito. Só passamos pelo que necessitamos para melhorar e só recebemos o que merecemos. Mesmo que nunca haja ninguém do seu lado, Deus sempre estará com você.

_ Não sou muito ligado à religião.

_ Mas sabe que Deus existe?

_ Sim, mas não sou fanático.

_ Ótimo, pois Deus só pede para que nos amemos e amemos aos nossos semelhantes. Disse Ana profundamente emocionada.

_ Engraçado eu ter te encontrado. Parece que te conheço há bastante tempo.

_ Jura que não vai rir?

_ Juro!

_ Quando te vi no barranco senti uma forte emoção como se fosse um irmão perdido, que a muito eu não via. Sabe Deus usa todos os meios para nos dizer o quanto nos ama e o quanto somos especiais, você é especial e Deus esta sempre com você, talvez seja só para você ouvir isso que estamos aqui hoje e pode ter certeza que a partir de hoje eu sempre vou rezar por você e sempre vou estar de desejando o que há de melhor no mundo e que você nunca esqueça que Deus te ama.

_ Tudo que me disse foi lindo, obrigada!

_ Tudo bem, afinal de conta de vez enquanto a gente precisa fazer algo de bom por alguém. Certo?

Houve risadas e conversaram sobre alguns amigos e ele contou um pouco mais de sua vida e Ana contou várias histórias de esperança e fé para animá-lo um pouco mais. Foi assim que contou também a história de sua amiga Giovana: negra, cabeleireira, que foi para a Itália e se casou com um homem que mudou sua vida e dos seus familiares.

_ Eu trabalho com o cônsul italiano no seu restaurante aqui na cidade.

_ Pretende ir embora do país?

_ Não sei! Eu tive uma namorada negra e ela morreu recentemente.

Ana sentiu o coração apertar lembrava-se da moça que vira de longe, ela era negra, seria acaso um fantasma. No mesmo instante implorou à Deus que lhe ajudasse a consolar aquele jovem.

_ O que houve? Perguntou Ana.

_ Ela morrerá afogada, mas o engraçado é que ela morria de medo de água.

_ Como?

_ Ela foi numa festa com uns amigos e desceu no canal, esses canais são rasos só na pontinha se você se descuida já era você vai para o fundo, e foi assim que ela morreu. Sinto-me culpado.

_ Você estava lá?

_ Não, nós terminamos três dias antes dela morrer, se a gente tivesse namorando ela não estaria com esses amigos. E talvez não estivesse morta.

_ Era o dia dela, se não fosse ela estaria aqui. E o fato dela ter tanto medo d’água pode indicar a prova que ela deveria passar. Sempre que se lembrar dela faça uma prece.

_ Talvez tenha sido por essa razão que nos encontramos, só para que eu lhe dissesse para não se sentir culpado de nada, pois nenhum fio de cabelo cai sem a permissão Divina.

Conversaram por mais um tempo, Ana lhe apresentou o esposo e o filho, depois despediram-se, ela lhe deu uma lembrança para que se lembrasse de tudo e fosse feliz.

Deus está sempre conosco e em tudo que vivemos e fazemos há a presença amorosa de Deus.

Ana não sabe se foi o instrumento da lição ou se foi a aprendiz da lição, mas com certeza ambos se sentiram tocados por aquele encontro. Ela se sentiu feliz em ajudar e ele aproveitou as palavras e saiu cheio de esperanças.

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Deus trabalha incessantemente em nosso favor, movimenta e mobiliza todas as forças possíveis em prol de nossa melhoria.

Não há acaso em nossa vida, não há encontros gratuitos nem acidentes de percursos, tudo está sempre sob o comando do Senhor da Vida.

Deus nos ama e é sempre bom e justo. E isso se reflete em tudo a nossa volta.