TEATRO DE ARENA, RUA TEODORO BAIMA

O dia transcorrera calmamente, nada fez aquela sexta-feira parecer ser uma sexta feira 13, embora fosse a própria segundo nosso calendário; as bruxas tão temidas e o ‘azar’ tão evitado, nada, absolutamente nada, fez com que aquele dia fosse tumultuado. Ao contrário: o telefone quase não tocou, o cliente recebeu seu pedido no horário e dia combinados, os pagamentos foram recebidos e feitos sem atraso. A considerar aquele dia, o final de semana que se aproximava prometia ser daqueles que nos revigorariam para uma nova jornada que se iniciaria.

Findados os trabalhos e feitas a despedidas de praxe, fui ao teatro de Arena, na Rua Teodoro Baima, atrás do hotel Hilton. A peça “Quando as Máquinas Param”, de Plínio Marcos, retratava, como tantas outras de Plínio, um período importante da nossa história. Passava-se entre a década de 60 e 70, ou seja, no auge da Ditadura Militar. Contava a história de um grupo de jovens perpassando da adolescência para a fase de estudantes universitários, suas rebeldias e resistências contra o governo vigente, seus envolvimentos com questões ou obras tidas por subversivas etc. Enfim, a encenação retratava uma época em que as liberdades estavam cerceadas, os costumes questionados e uma grande parcela da população colocada à margem das notícias acerca do que se passava. Sob esse aspecto, a peça era um libelo à população, uma denúncia e uma advertência do quão é perigoso aceitar que governos de exceção se instalem e o povo assista a tudo calado.

Terminada a peça, fui ao café Girondino, na Rua São Bento, a pé, pois sempre transito pelas ruas do Centro para poder observar os pontos históricos de São Paulo, outro local que ainda freqüento. E foi nesse café que soube que foi no Páteo do Colégio que D. Pedro I foi coroado Rei do Brasil, onde hoje é a Secretaria da Justiça. Soube também que o Páteo já fora batizado de Praça Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, e depois tornou a receber seu nome original que permanece até hoje. Foi no café Girondino que ouvi na mesa ao lado, um rapaz declamar Tabacaria, O Rio Tejo – poema que compõe O Guardador de Rebanhos -, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. Posso dizer que foi após ouvir tão bela declamação e ser tomado por tão maravilhoso poema, que me aventurei a ler essa forma de arte. E hoje, pelo menos uma vez por ano, geralmente no começo de cada ano, me ponho a ler Fernando Pessoa. Funciona como uma catarse, assim inicio mais um ano com a certeza de que será um período promissor e de que, imbuído dos versos pessoanos, terei razões para entender que a vida é um grande banquete e nesse gigante restaurante, todos somos chefs.

É isso.

Categoria: Paisagens e lugares

Autor(a): Silvio de Lima | história publicada em 17/1/2008, no saopaulominhacidade.com.br