XXX - O SOCORRO SEMPRE VEM
Uma senhora havia se separado do primeiro marido com quem teve uma filha que ficou sob os cuidados de uma tia, enquanto ela fora viver ao lado de outro homem, que era trabalhador e que jamais lhe agredira.
Com esse homem esta senhora teve cinco filhos sendo que um morreu antes de nascer. A sua filha caçula nasceu um dia depois do pai desencarnar por problemas cardíacos.
Não demorou e logo após o enterro apresentou-se a senhora a filha de seu finado Almeida, que se predispôs a ajudá-la com tudo inclusive com a papelada, mas para isso ela precisava dos documentos do pai, que a viúva analfabeta deu-lhe.
Em pouco tempo a viúva foi apresentada a uma casa boa na cidade, onde a filha do finado dizia que iria colocá-la, mas para isso precisava de sua assinatura e cópias de seus documentos, e depois de um mês levou a família de seu pai para a casa de dona Almerinda, que era mãe de Augusta com o pretexto de reforma a casa na cidade para ela.
Depois de dois meses sem noticias da jovem dona Augusta viúva de seu Almeida foi procurar a moça e descobriu que ela havia indo embora para outro estado.
Dona Augusta chorou amargurada ao perceber que estava só e sem nada, pois até a chácara a moça havia vendido usando sua assinatura.
Na casa de sua mãe morava ela com seus filhos e sua irmã com marido e filhos, bem como a mãe, depois de um tempo tanta gente junta sobre o mesmo teto não deu mais certo.
Dona Augusta então foi convidada para cuidar de uma chácara, pensou e decidiu ir, pois assim não incomodaria mais ninguém.
A terra estava muito maltratada e por isso tudo que plantavam as formigas comiam e o dono da terra não lhe pagava absolutamente nada para ela e a família, mas comprou o veneno para matar as formigas.
Tudo que eles tinham já havia acabado não tinham mais o que comer, a menina menor chorava sem parar de tanta fome e os outros maiorzinhos choramingavam pelos cantos.
Dona Augusta tomou então uma difícil decisão matar os filhos e se matar, pois não via mais esperança, sentia se só e sentada em um banco permitiu-se chorar. Ela preparou o veneno para as crianças e buscou uma corda grande para se enforcar em árvore frondosa que existia na frente da casa, sentou e buscou a coragem para o ato revisando seu passado: o sofrimento com o primeiro marido, os tapas que levou; as palavras duras da irmã; não possuía um lugar para onde pudesse ir buscar socorro que fosse bem atendida e querida, pensou em Deus e não percebeu que um homem lhe olhava ao longe.
Esse homem era seu Carmelo esposo de dona Clara, ambos evangélicos e com grande coração. Ele condoeu-se da criança que chorava e ao olhar a mulher se inquietou andou mais alguns passos, pois estava atrasado para o serviço, mas algo pedia para que voltasse em casa e pedisse a esposa para vir ver o que ocorria naquela chácara, depois de estar alguns passos do ponto deu meia volta e voltou correndo e pediu para a esposa que fosse lá o mais rápido possível e assim foi feito.
Assim que dona Clara chegou à chácara saudou dona Augusta em nome de Jesus, porém ela respondeu maquinalmente ao cumprimento. A criança que chorava logo se aninhou no colo de dona Clara e aquietou-se.
_ O que houve com a senhora? Por que tanta tristeza? Perguntou dona Clara.
_ Nada! Respondeu dona Augusta sem olhar para os lados.
_ Dona ela vai matar a gente e depois vai morrer também. Disse o pequeno Pedrinho, com seus seis anos de vida.
_ Como? Perguntou Clara com o coração acelerado.
_ Quer ver os venenos? Disse Pedrinho puxando Clara pela mão.
O menino indicou os copos sobre a mesa, nos quais Clara percebeu tratar-se de formicida. Caminhando para fora, viu que Augusta não se movera.
_ O que pretende fazer?
_ Morrer, não quero meus filhos jogados por aí.
_ Por quê?
_ A gente tem fome e não tem nada pra comer, a terra não produz só tem formiga.
_ Eu tenho comida em minha casa, não faça isso e eu lhe ajudo.
_ Ta bom! Respondeu Augusta com os ombros.
Passou um tempo e as crianças esperavam felizes pelo retorno de dona Clara. Augusta permaneceu no mesmo lugar sem se mexer, só pensava se ela demorar a voltar eu mato as crianças e me mato.
Quando dona Clara chegou dona Augusta chorou e pensou: _Parece que finalmente Deus está olhando para mim.
Dona Augusta percebendo o estado de espírito da outra e convidou ela e as crianças para ficarem em sua chácara, as crianças foram numa alegria só e dona Augusta no final do dia já ria.
Depois de uns dias retornou com sua mudança a casa de sua mãe, onde foi recebida com alegria pela irmã, pois a mãe encontrava-se enferma e ela não podia sair do serviço para cuidar da mãe, então propôs para Augusta que ficasse no quarto dos fundos da casa com seus filhos e que cuidasse da mãe; ela adorou a proposta pois seus filhos precisavam estudar e eles teriam um teto.
A irmã já não lhe parecia tão mau, e durante alguns anos cuidou da mãe até que esta partiu, e Augusta mais uma vez se viu expulsa da casa da mãe com seus filhos por sua irmã, fora acolhida por sua filha mais velha, na casa pequena onde passaram a morar treze pessoas e anos mais tarde já gozando de certo equilíbrio aderido nos estudos na Casa Espírita resignou e compreendeu melhor seus irmãos de jornada e agradeceu a Deus o socorro recebido no momento mais difícil de sua vida.
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Deus nunca nos desampara nos é que nos esquecemos Dele e damos mais importância aos problemas que a solução, afinal de contas quem tem Deus no coração não tem problema sem solução.
A confiança só existe no coração daqueles que possuem uma fé, naqueles que crêem e naqueles que buscam primeiro a Deus, depois o mundo.
Quem confia não perde as esperanças, não fica parado age sempre porque tem certeza que Deus não desampara ninguém.
Essa história revela que somos os braços da fraternidade e do amor no mundo e isso independe de nossa religião, pois a caridade é uma característica do ser humano.
Deus convida a todos nos para sermos na Terra os seus braços de ação fraterna no socorro de nossos irmãos.
Pois a dor sem esclarecimento, atordoa o ser e o leva ao desespero, que muitas vezes ceifa de junto de nós irmãos com potencial; onde tudo o que faltou foi a clareza que ilumina a alma e o socorro que sustenta o corpo.
Não podemos jamais perder de vista a lição grandiosa dada pelo Cristo na passagem da multiplicação dos pães e dos peixes, onde Ele deu de comer a alma, quando iluminou mentes e consolou corações com suas parábolas e depois deu de comer ao corpo, pois este é o instrumento da vida na Terra, onde o espírito expia e prova sua evolução e sua caminhada em direção do Pai. Esta passagem ressalta a importância de nutrimos o corpo e a alma para que todos os nossos irmãos tenham força para irem adiante e completarem a sua caminhada sem fugas.