XXIX - EU SOU ou ESTOU

Um jovem senhor adentrara um consultório psicológico para falar de sua vida e de como os outros não lhe reconhecia as ações.

O psicólogo fora lhe indicado por um amigo, que há alguns anos atrás perderá a família em um acidente.

Assim que adentrou o consultório percebeu algo diferente, pois a única coisa que existia na parede do consultório era um quadro e um auto-falante por onde as pessoas eram chamadas para uma outra sala.

No quadro lia-se a frase: “SOU O GOVERNADOR DE MINHAS VONTADES, PORTANTO VIVO COMO QUERO.”

Não havia revistas, jornais ou computador, só as poltronas e todas ficavam direcionadas de forma que ao sentarmos olharíamos o quadro. Não havia secretaria, a consulta era marcada através do telefone e você tinha que responder algumas perguntas pessoais, dizer o dia e a hora. E assim que cheguei apertei um botão e do outro lado alguém me cumprimentou pelo nome, fiquei surpreso, pois era a minha primeira vez.

Fui chamado depois de alguns minutos, o médico me recebeu com carinho, me senti em casa, então me sentei tranqüilo e desatei a falar.

_ Eu montei uma instituição em minha cidade natal para o atendimento de pacientes terminais.

_ Hum! Respondeu o médico, fazendo anotações.

_ Eu construí tudo sozinho.

_ Hum! Continuou o médico.

_ Eu sou o responsável pela administração de todos os recursos que entram na instituição.

_ Hum!

_ Sou eu quem realizo os pagamentos dos funcionários que temos.

_ Hum!

_ Sou eu que atendo e encaminho os voluntários, que fazem o trabalho de atender aos pacientes terminais.

_ Hum!

_ Sou eu quem gerencia tudo, inclusive faço a contabilidade, afinal de contas sou formado em contabilidade e administração.

_ Hum!

_ Eu me considero a alma daquela instituição, mas eu estou me sentindo meio cansado e não quero mais continuar.

_ Hum!

_ Mas não consigo pensar em ninguém que possa me substituir.

_ Hum!

_ O senhor acha que eu encontrarei alguém que possa realizar o meu trabalho de forma desinteressada?

_ Sim! Respondeu o médico. E começou a me fazer algumas perguntas.

_ Você participou da construção do prédio?

_ Não é claro! Eu paguei para que construíssem e também doei o terreno.

_ Você já atendeu algum paciente terminal?

_ Não! Eu só cuido do dinheiro.

_ Você já acompanhou a morte de alguém?

_ Graças a Deus, não!

_ Você já consolou alguma das famílias de algum desses doentes que morreram na instituição fundada por você?

_ Não!

_ Você já banhou algum doente?

_ Não!

_ Você já orou por algum desses doentes?

_ Não!

_ Você já teve algum parente seu internado lá?

_ Não! Minha família tem dinheiro, não precisamos de caridade.

_ Mas você precisa?

_ Não!

_ Então, se você é tão caridoso e profundo entendedor das questões administrativas, por que deseja abandonar o serviço?

_ Bem! B! Naquele momento compreendi que eu não fizera nada em prol do meu semelhante, estava mais preocupado em ser reconhecido em ter meu nome nos jornais e na TV, até hoje eu não tinha me dado conta do quanto eu tinha contribuído pouco para a realização do trabalho propriamente dito, que era o atendimento humano e caridoso de nossos irmãos menos favorecidos.

_ Você percebeu qual é sua ação?

_ Sim! Compreendo agora que não faço mais que minha obrigação já que sou tão bom nisso que faço. Falei rindo.

_ Muitas vezes olhamos só para nós e observamos só o nosso ponto de vista, temos uma visão estreita das coisas que acontecem a nossa volta.

_ Obrigado doutor pela lição.

_ Foi você quem descobriu sozinho o que estava errado, portanto o mérito é seu.

_ Mas foi o senhor quem me abriu os olhos.

_ Não fiz mais que o meu trabalho. Afinal de contas estou psicólogo, mas sou muito mais que isso.

_ É, essa a grande descoberta: O que faço não é mais que minha obrigação e prometo que vou fazê-la melhor daqui para frente. Afinal também estou administrador, para quem sabe um dia administrar algo maior.

Assim que sai li mais uma vez a frase com tudo no singular: “Sou o governador de minha vontade, portanto vivo como quero.”

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A vontade é a mola transformadora da vida, pois é ela que nos impulsiona a realizar todos os nossos sonhos.

A vontade vira ação, a ação transforma a realidade.

Às vezes diante da realidade realizada nos esquecemos da ação caridosa que moveu a nossa vontade primeira e agimos como se fossemos máquinas programadas para determinado trabalho, sem nos darmos conta do todo.

Quando observamos o corpo humano jamais imaginamos todos os seus órgãos e todas as suas funções, jamais pensamos nos minúsculos anticorpos, que são o exercito invisível a nos proteger.

Somos parte de uma engrenagem maior: o Universo! E todos nós contribuímos para o melhor funcionamento dessa engrenagem na medida em que realizamos a nossa parte. E se ao trabalharmos usando a ferramenta mágica do amor - tudo se torna mais fácil: o trabalho flui; a nossa compreensão se alarga; somos pacientes, pois passamos a respeitar o tempo do outro; em fim simplesmente somos guiados pelas poderosas mãos do amor e neste estado de graça fluímos da grande energia que é Deus – Nosso Pai, que é infinito Amor.

E compreendemos que estamos aqui num exercício de burrilamento de nós mesmos, e que ainda não chegamos ao fim da jornada, pois ainda estamos alguma coisa, mais um dia nós seremos melhores, então vislumbraremos Deus.