O Jogo

Às 16h o juiz apitou o início do jogo. O menino estava em casa, na sala, acompanhado do pai, que, igual a ele, torcia veementemente pelo mesmo time. Era o penúltimo jogo do campeonato, mas era o mais importante: se o time ganhasse, subiria para a série A.

A poucos quarteirões da casa do menino, o avô assistia ao mesmo jogo. Torcendo também pelo mesmo time.

Fogos. Muitos fogos a cada jogada brilhante daqueles homens em campo. O jogo era longe da cidade do menino, o garoto nem sabia direito onde seu time do coração estava, só sabia que os jogadores tinham que voltar para casa de avião.

O jogo prosseguia. lances perigosos, o outro time atacava. Nada de gol. Até que... GOOOOOL! O menino gritou. O pai gritou. O avô gritou. O vizinho, que ainda não tinha aparecido por aqui, gritou.

“Foi o Geraldo, foi o Geraldo, papai!”

Mas.

Jogo é jogo. O outro time também jogava, e bem. O empate veio.

O menino roía as unhas. “Vai tomar no cu, seu juiz ladrão!” “UH!” “Caraca!”

Aquele coraçãozinho parecia tambores de bateria de escola de samba. Sentava. Levantava. Sempre nessa toada.

Até que.

Jogo é jogo. O time do menino também jogava, e muito bem. O desempate veio.

GOOOOL, papai! O garoto agarrou o pai. “UH, UH, valeu Fabrício”.

Aos 7 anos de idade aquele garoto estava experimentando a verdadeira felicidade.

O juiz encaminhou-se para o centro do campo. Fim de jogo.

O telefone do garoto tocou. Ele atendeu e nem disse alô. E com a voz grave cantou o hino de seu time.

“Teu passado é todo coberto de glórias

Dia-a-dia tu conquistas mais vitórias

Tua bandeira alvinegra desfraldada

Teu time em campo tem vitória assegurada.

Campeão da popularidade

Tua torcida hoje é toda cidade

É um grande povo a te estimular

É o Vovô Ceará vai ganhar.

És o time das grandes campanhas

Sempre aqui ou lá fora tu ganhas

Com teus craques em campo a brilhar

Ceará tua glória é lutar.”

O pai entendeu. Era o avô ao telefone. O avô também cantava o hino.

O treinador era entrevistado na TV. Quando o ídolo Geraldo falou na TV, aos prantos, o garoto, na sua inocência de menino feliz, aos prantos também ficou.

O irmão mais velho, vendo aquele pequeno soluçar tanto, pediu para que ele não chorasse.

“Como é que eu não vou chorar, macho. O Ceará foi pra 1ª divisão!”

O pai, vendo o filho emocionado, buscou a mãe e a irmã do menino. Era preciso reunir a família.

Naquele penúltimo dia de campeonato aquela família uniu-se ao pequeno torcedor e chorou a felicidade de ver o time do coração vencer.